O burburinho começa baixo e vai levantando volume. As vozes saem pelas janelas de guilhotina e há uma que se destaca. Paciente e insistente: "Ó gente..." Daí a pouco repete: "Ó gente..." E mais uma vez: "Ó gente..." Até que opta por chamar um a um, começando pelos mais faladores: "Henrique... Pode parar?"
O silêncio finalmente chega à sala de aula da Escola Municipal Marília Dirceu Ensino Fundamental. A "gente" tem pouco mais de oito anos e está atenta o tempo suficiente para ouvir a frase:
"A tia trouxe hoje os desenhos dos símbolos da Páscoa." Assim que a "tia" - é assim que os alunos chamam às professoras primárias, no Brasil - começa a mostrar os símbolos: "Tem vela... Uva... Trigo...", as vozinhas recomeçam e a professora continua: "Flor... Ovo... Peixe..." E eles cada vez mais interessados, a partilhar experiências com os colegas do lado: "Minha mãe comprou um ovo enorme!" E a professora começa a levantar um pouco a voz: "Sino... Coelho..." E o burburinho transforma-se em excitação. "Ó gente!..."
Seja professor ou tio - e este é um nome carinhoso, de alguma familiaridade, mas também de respeito -, os problemas são os mesmos.
Como dizia o ex-ministro da Educação, citando uma docente: "O difícil é mantê-los sentados". Mas não só.
Bárbara Wong
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