segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Concertos para Famílias no CCB

A Orquestra Metropolitana de Lisboa, com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos e o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e do CCB, tem prevista para 13 de Fevereiro e 13 de Março, às 11h30, dois concertos para famílias, no âmbito do ciclo Caixa de Música.
Fomos ao primeiro, ontem, e gostámos. Eu prescindiria do power point com as explicações do que é que estamos a ouvir. A música é para ser vivida e não para estarmos atentos aos bonecos e às curiosidades que vão passando. Mas compreendo que para os miúdos, aquela informação pode ser uma maneira de chegar à música clássica, de estarem mais atentos e não acharem tudo aquilo uma enorme seca. Que não é, porque os concertos são pensados para os mais novos, com escolhas alegres, divertidas e movimentadas.

Para dia 13 de Fevereiro, o programa prevê uma viagem ao mundo dos ritmos com a orquestra de percussões da Metropolitana. Para dali a um mês, as obras tocadas serão de Ralph Vaugham Williams, Joaquin Rodrigo e Antonín Dvorak. Os bilhetes são cinco euros por pessoa, no grande auditório do CCB.

BW

Um fim-de-semana de inaugurações

Se quiser conhecer um bocadinho melhor as escolas que foram intervencionadas e inauguradas por dezenas de governantes durante o fim-de-semana, espreite aqui. É uma nova página do Ministério da Educação só dedicada às escolas agora inauguradas. Falta lá pôr as anteriores e as 90 que vão entrar em obras no início do próximo ano civil. É uma sugestão que nos permite ter a dimensão do que a Parque Escolar está a fazer. Também podem acrescentar o valor das obras e a renda que as escolas passarão a pagar à Parque Escolar, mais informação útil para os contribuintes.
BW

Uma Viagem à Índia

Não vou à Índia. Mas ando a ler a viagem à Índia que Gonçalo M. Tavares nos oferece num dos seus últimos livros. Foi o tom entusiástico e algo enigmático de uma amiga que me convenceu a comprá-lo e encetar esta viagem. Por outro lado, as boas críticas e as alusões à relação com Os Lusíadas tiveram também algum peso nesta aposta.


Ainda não acabei. Vou a meio da viagem que também se nos apresenta em X cantos e nos leva pelos caminhos de Bloom: Londres, Paris, com uma paragem para conhecermos história da sua família e, por último, a Índia.
Quanto à tipologia, este trata-se de um romance em verso que gera múltiplas pontes com a obra Os Lusíadas (pena é que a personagem principal se chame Bloom e não tenha um nome mais lusitano). O texto é de fácil e fluída leitura embora vivendo das palavras cheias de Gonçalo M. Tavares: um estilo sentencioso, que nos obriga frequentemente a parar a viagem para pensar nas palavras, imagens, metáforas, paradoxos que constantemente povoam as estrofes deste original romance.

Prometo ir-vos oferecendo, à medida que for avançando na leitura, alguns dos excertos que me fizeram abrandar o ritmo da leitura.

Aqui fica o primeiro:

"(...) para não se comprometerem -
os Deuses, quando nos falam ao ouvido,
evitam frases explícitas e promessas concretas. "

Primeira paragem. Um excerto que evoca não apenas o tom épico d'Os Lusíadas, mas também a obra de Fernando Pessoa, Mensagem, e o poema "O das Quinas" :

"Os Deuses vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.
Ai dos felizes, porque são
Só o que passa!"

Ana Soares

sábado, 29 de janeiro de 2011

Bom fim-de-semana!

E se a palavra que procura não está no dicionário?

Neologismos e empréstimos

E se a palavra que procura não está no dicionário? A resposta a esta questão surge no texto cuja leitura hoje proponho e do qual destaco uma possível resposta a esta pergunta:
"Os dicionários não são só normativos, servem para registar o uso corrente que as pessoas fazem das palavras."

Sobre o uso de neologismos e estrangeirismos na nossa língua: do verbo googlar, ao mailar; do realizar ao focalizar; dos nomes phones ao hoddie. Um texto com o comentário de vários linguístas de renome: Malaca Casteleiro, Margarita Correia, Carlos Gouveia. Pode lê-lo aqui.

Ana Soares

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"A escola estatal e a escola pública"

A ler aqui a opinião de Manuel Queiroz.

E o que pensa Fernanda Câncio sobre o mesmo tema.

A que distância fica a pública da escola com contrato de associação?

O DN fez um trabalho engraçado e penoso (porque dá trabalho): Meteu os nomes das escolas com contrato de associação e das públicas no google e descobriu a que distância ficam umas das outras. E assim concluiu que das 94 (afinal não são 93, mas 94) escolas com contratos de associação, apenas 18 ficam a mais de 15 quilómetros das públicas. E as conclusões são fáceis de tirar: Os contratos de associação não são precisos, pois se há escola pública mesmo ao lado.
O problema é que não houve o cuidado de perceber de que públicas é que se está a falar. O erro foi detectado pelos leitores do DN logo na primeira linha: A Cooperativa de Ensino ANCORENSIS está a sete metros da Escola Básica do Vale do Âncora. O problema é que, como o próprio nome indica a escola básica não oferece os mesmos ciclos de ensino que a escola cooperativa. E este tipo de problema pode acontecer pela lista abaixo. Logo, ficamos na mesma. Mas a mensagem passou, estas escolas não são precisas.

No AVENTAR, Ricardo Santos analisa o concelho de Gondomar (já antes João José Cardoso, no mesmo blogue fizera o mesmo para Coimbra) e é gritante ver no mapa que o Colégio Paulo VI está rodeado de uma dezena de escolas EB 2,3 e secundárias. O ME devia deixar de ter contrato de associação com este colégio, pensamos imediatamente. Ontem, seguindo esta pista dada por Ricardo Santos, falei com a directora do Paulo VI que me informou que o contrato de associação é para 15 turmas do secundário, o que significa que o resto dos ciclos são pagos pelos pais.
Então do mapa de Ricardo Santos teriamos de tirar as EB 23, e já só ficavam três secundárias. Mas os alunos preferem ir para o colégio ou para a secundária de Gondomar. Se não entrarem nestas duas, optam por ir para o Porto, diz a mesma directora, secundada pela sub-directora da secundária de Gondomar (a escola pública vizinha). Portanto, os alunos preferem ir para o Porto do que para as duas secundárias públicas do concelho. Pode ler mais aqui.

Mas eu é que minto!
BW

Conhecer Sophia

A propósito da exposição sobre Sophia na Biblioteca Nacional, patente de 26 Janeiro a 30 Abril, e do colóquio que assinala a entrega do Espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen à Biblioteca Nacional de Portugal, aqui fica uma sugestão a pensar nos mais pequenos.





Para além das suas maravilhosas histórias, felizmente, dadas a conhecer não apenas por alguns pais, mas pela escola também, este livro - A Minha Primeira Sophia - permite aos mais jovens conhecer outro lado desta importante autora. Nesta edição da colecção editada pela D. Quixote, é Fernando Pinto do Amaral que conta quem foi Sophia e destaca alguns traços da sua obra, procurando dar o seu testemunho pessoal aos mais novos. A linguagem simples em que está escrito, os excertos escolhidos e as ilustrações maravilhosas de Fernanda Fragateiro são mais um convite irrecusável para melhor conhecer esta autora.

Ana Soares

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

E estes, foram manipulados por quem?

"Vila Real, 27 jan (Lusa) -- Centenas de alunos da Escola Camilo Castelo Branco, em Vila Real, cobriram-se de cobertores, luvas e gorros e manifestaram-se hoje de manhã contra a falta de aquecimento naquele estabelecimento de ensino.
No dia em que começou a nevar no distrito de Vila Real, os estudantes saíram à rua para se queixarem do frio intenso que dizem sentir dentro das salas de aula.
Aos cartazes “uma aventura nos calotes polares”, “queremos aquecimento e água quente para toda a nossa gente”, “nas aulas a congelar nem conseguimos pensar” ou “liceu um iceberg em Vila Real”, os alunos juntaram os cânticos “aquecedores ligados, aquecedores ligados” e “queremos aquecimento”.
Depois de se concentrarem em frente ao edifício da Escola Secundária Camilo Castelo Branco, o antigo liceu de Vila Real, os estudantes marcharam ainda até ao Governo Civil, onde durante alguns minutos repetiram os cânticos."

Detalhes sobre a implementação do Novo Acordo Ortográfico

A Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011 (Diário da República, 1.ª série — N.º 17 — 25 de Janeiro de 2011) que determina o calendário para adopção do Novo Acordo Ortográfico - nas escolas, editoras de manuais escolares e organismos públicos - pode ser lida na integra aqui.

O Novo Acordo está em vigor desde 13 de Maio de 2009, mas atendendo à necessidade de "salvaguardar uma adaptação e aplicação progressivas" a referida resolução prevê um prazo transitório de seis anos para a implementação da nova grafia. Deste modo, nas escolas e organismos públicos o Acordo estará já implementado em 2012, mas o período de adaptação decorrerá até 2015.

A referida resolução procede ainda à descrição das fontes oficiais que apoiarão este processo, a saber: o Vocabulário Ortográfico do Português e o conversor ortográfico Lynce, disponíveis no sítio da Internet http://www.portaldalinguaportuguesa.org/ e dos quais já aqui vos falei.

Ana Soares

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ui... Mais uns pais a manipular os filhos...

"Viana do Castelo, 26 jan (Lusa) -- A Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica e Secundária de Barroselas, Viana do Castelo, convocou para sábado uma manifestação para exigir a realização urgente de “obras de fundo” naquele estabelecimento de ensino.
Armando Dias, presidente da associação, disse hoje à Agência Lusa que os pais e encarregados de educação “apenas querem melhores condições de ensino” para os alunos.
“O que não podemos aceitar, de forma nenhuma, é uma escola que mete água e que é gélida. E é isso que queremos deixar bem claro com esta manifestação”, acrescentou.
A manifestação traduzir-se-á numa marcha pela cidade, que a associação de pais pretende ver participada por toda a comunidade educativa e que terminará no Governo Civil, onde será entregue um abaixo-assinado.
A 07 de janeiro, os alunos daquela escola boicotaram as aulas, em protesto contra as “péssimas condições” das instalações, que, segundo alegaram, “metem água por todos os lados”."
Notícia da Lusa de hoje

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A manipulação das crianças pelos pais

1. Levar um filho a uma manifestação é manipulação das crianças?
2. Ver crianças em frente aos portões das escolas a contestar os fechos das escolas, as más condições do estabelecimento de ensino ou os mega-agrupamentos é manipulação das crianças?
3. Colocar crianças em tempos de antena dos partidos é manipulação das crianças?
4. Colocar adolescentes e jovens nas ruas a protestar contra a falta de educação sexual nas escolas é manipulação das crianças?
A ministra da Educação Isabel Alçada está genuinamente preocupada e "indignada" (a palavra é dela) porque os pais dos alunos em colégios com contratos de associação estão a manipular as crianças. Nunca disse uma palavra quando crianças, no início deste ano lectivo estiveram frente a portões de escolas a contestar mil e uma coisas que estão mal (no seu ponto de vista, na perspectiva dos seus pais ou das direcções das suas escolas). Também se desconhece a sua opinião quanto às crianças usadas nos tempos de publicidade ao Magalhães. E estou curiosa de ouvir Isabel Alçada quando no dia 24 de Março, o dia do estudante, o PCP e o BE puserem os meninos na rua a pedir educação sexual para todos.
A mim o que me parece é que há manipulação nos dois últimos casos que enuncio. Nos dois primeiros não. Os dois primeiros são lições de cidadania que é bom que os filhos/alunos aprendam com os pais e com a escola. É bom ensinar os mais novos a ser interventivos, a formar opiniões, a ver as diferenças entre o bem e o mal, a lutarem por aquilo em que acreditam. É aqui que está a génese da democracia.
BW

Acordo ortográfico nas escolas no próximo ano lectivo

Mais informação aqui

o que é uma história bem contada?

"E o que é uma história bem contada, pode saber-se?
Bem...
Pois fica sabendo que uma história mal contada pode ter bastante mais interessa, gosto, salero, que uma históriabemcontada. Uma históriabemcontada pode ser a coisa mais pãozinho sem sal... Pelo contrário, uma história mal contada pode ser do caraças. Não gostas de livros com demasiadas vírgulas, dizes tu?
Sim.
Pois a minha resposta é: depende. Às vezes a voz do narrador necessita de espaço, não se satisfaz com uma frase minorca, nem toda a gente tem de ser telegráfica, às vezes a frase quer espraiar-se, viajar, ver até onde pode ir, feita canoa a descer os rápidos ou a desabar por uma cascata e a contorcer-se toda para não embater nas pedras, ou então a voz faz-se de vaga de fundo que se vai fazendo ouvir aos poucos até ribombar e trovejar e explodir, como uma orquestra a tocar uma valsa que ao princípio quase não se ouve nada, depois aos poucos os intrumentos vão entrando, e vão subindo, subindo, e sentimos uma excitação, antecipamos que algo vai acontecer, mas ainda não estamos lá (...)"

Rui Zink, Anibaleitor, p. 80

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Eleições: mesas de voto ou votos electrónicos?

Até me apetecia, mas não vou falar das eleições, candidatos ou resultados. Em tempo de crise, em que os cortes atingem quase tudo e todos, vou só fazer uma sugestão a propósito deste tema: não seria boa ideia termos votos on-line? Só vejo vantagens. A primeira é que não precisaríamos de sair de casa e, assim, talvez até diminuíssem os números da abstenção (demonstrativos do desinteresse, desânimo e desespero do povo que, desta forma pouco feliz e silenciosa, se tenta fazer ouvir). A segunda e, na verdade, a que me levou a escrever estas linhas, são os custos: na freguesia onde votei havia seis mesas/salas de voto. Cada uma tinha três membros (que certamente ao longo do dia foram substituídos). Cada um destes apelidados "voluntários" ganhou cerca de 75 euros pela nobre tarefa. Façam-se as contas por este país fora! Aproveito para comentar ainda este conceito sui generis do que é ser voluntário: dar um dia do seu trabalho, por amor à pátria e cidadania e ser remunerado por isso. Que, ao menos, não lhe chamem voluntariado!
Ana Soares

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bom fim-de-semana!

Eleições presidenciais

À nossa volta o descrédito na política, nos políticos. Numa "sondagem" feita nas redondezas, em casa, no trabalho, nos transportes públicos, entre os amigos e conhecidos, concluo que a abstenção será vencedora. Há quem diga que vai votar, mas que será em branco.
O tal fosso entre a sociedade e a política de que o PÚBLICO fala hoje, pela voz de 50 personalidades, professores, investigadores, médicos, músicos, etc., é real.
A Comissão Nacional de Eleições alerta para a inutilidade do voto em branco ou do voto nulo. É que nas eleições presidenciais este tipo de votos usados como protesto, como mensagem da exigência de um povo que quer ser bem servido, não serve para nadinha.
No caso das presidenciais, o voto em branco é irrelevante para o apuramento final dos resultados, já que a Lei Eleitoral do Presidente da República estipula que "será eleito o candidato que obtiver mais de metade dos votos validamente expressos, não se considerando como tal os votos em branco".
Portanto, no domingo, quem não está convencido pelos candidatos, pode sempre votar no mal menor.
BW

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Econômico ou económico?

Pediram-me para dar uma vista de olhos num trabalho de uma disciplina do ensino superior. Para fazer uma ou outra correcção, ver se estava tudo bem, os capítulos, se as conclusões eram pertinentes, etc.
O trabalho abria com uma declaração em como não tinha sido feito plágio (uma novidade para os meus dias de jovem estudante universitária), de seguida todo o trabalho era um plágio completo: econômico, ação, fato... A formulação das frases... As citações de livros brasileiros, de editoras brasileiras... TUDO! Fiquei doente! Perante a minha indignação, um dos "autores" do trabalho ficou com aquele ar de que está tudo bem, qual é o mal? Português do Brasil? O que é isso?

Dias antes tinha participado numa avaliação sobre um sítio na Internet só de dados estatísticos. A dada altura perguntam-me se junto aos dados deveria vir alguma informação com contextualização sobre o que se terá passado para os números mudarem. Disse imediatamente que não, que é importante sermos nós a interpretar, a questionarmos porque é que de repente há uma quebra na natalidade (por exemplo) e que não há uma única justificação mas várias. Ainda dissertei sobre a importância pedagógica dos dados não serem interpretados pelos detentores do sitio; que um professor de Geografia ou de História pode pedir aos alunos para irem àquele site e a partir dos dados estatísticos estudarem qualquer coisa.
Na sala estavam dois professores do secundário que discordaram, que não, que é melhor estar lá tudo, que fica mais completo e é mais simples para os alunos.
A entrevistadora responde que também foram inquiridos estudantes universitários, que defendem a inclusão dessa informação, que dizem que não consultam tanto o site porque só tem dados.

Palavra de honra que a mediocridade me põe doente!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Os pais de Arruda dos Vinhos

A reunião de pais do colégio com contrato de associação Externato João Alberto Faria, em Arruda dos Vinhos. Segundo o jornalista Jorge Talixa, do PÚBLICO, que tirou a foto, no pavilhão desportivo estavam cerca de 800 pais. Quantas escolas juntam 800 encarregados de educação preocupados com o futuro do estabelecimento de ensino?
BW

Sylvia Plath - a propósito da última sugestão de literatura infantil

Sylvia Plath (1932-1963) é sobretudo reconhecida pela sua obra poética, mas escreveu também um romance semi-autobiográfico, A Redoma de Vidro (The Bell Jar), sob o pseudónimo Victoria Lucas. Escreveu ainda O Fato-doTanto-Faz-Como-Fazia que aqui vos sugeri.

Neste site encontramos alguma da sua poesia traduzida para português. Aqui fica um dos seus poemas de que mais gosto:


Espelho

Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro -
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.
Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflito fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível.


traduzido por André Cardoso(in 34 LETRAS, issue 5/6, Ed. 34 Literatura and Nova Fronteira, Brazil, 1989)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O Fato do Tanto-Faz-Como-Fazia

O Fato do Tanto-Faz-Como-Fazia foi uma descoberta numa feira do livro da minha escola. Perdido num canto e já mal tratado. O nome da autora, Sylvia Plath, o título original e o registo infantil da imagem da capa levaram-me a querer ler o início. Ainda não era para a idade dos meus filhos, mas decidi trazê-lo para casa. E fiz bem. Agora, que ele já frequenta o 2º ano, já o lemos (a meias que, como vos expliquei noutro post, é a forma como, nesta fase, gostamos de fazer as leituras). E gostámos muito!


A história é original, simples e muito divertida. O texto tem como principal característica as repetições que se tornam previsíveis, facilitam a apropriação do texto e recuperam formas tradicionais (e orais) de contar histórias.


Max Nix é o pequeno protagonista, o mais novo de sete irmãos, que, nesta história realiza o seu sonho de vestir um fato especial e bem original. Recomendo vivamente a leitura deste livro que, entretanto, descobri estar no PNL (plano nacional de leitura) recomendado para o 3º ano. Uma boa escolha, sem dúvida!

Ana Soares

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Assim se vê a força dos pais

"SOS" foi o grito de guerra, que abafou a voz dos apoiantes que chamavam por "Cavaco". No ar, cartazes de protesto. "Queremos trabalhar, porque é que promulgaste", gritou um professor que, garantiu, tinha o seu emprego em risco devido aos cortes aprovados pelo executivo. O candidato não conseguiu andar mais de cem metros, entre as pessoas, e, amparando Maria Cavaco Silva que se mostrava assustada, acabou por encurtar a visita à cidade.
Aconteceu ontem, em Braga. A semana passada foi no Vimeiro, antes em Fátima. Por onde quer que passem os candidatos a PR, os professores, pais e alunos dos colégios com contratos de associação lá estão, a manifestar-se contra a portaria do ME que já está a ter efeitos na vida dos professores e dos funcionários não docentes, bem como na vida dos alunos que vêem cortadas várias actividades, para não falar do clima que se vive nas salas de aula. Os pais já anunciaram que vão fechar as escolas por tempo indeterminado, até a situação ser resolvida. A data ainda não foi avançada, mas será para depois das eleições presidenciais.
Face à instabilidade vivida nestas escolas, a Fenprof já veio anunciar que vai fazer queixa do Grupo GPS (que detém cerca de 20 escolas privadas, a maioria com contrato de associação ou com contrato de patrocínio - as que são profissionais) junto da Autoridade para as Condições de Trabalho. Para muitos professores que têm vindo a denunciar problemas laborais nas escolas deste grupo, esta é uma boa notícia.
E o Governo, vai ceder às pressões?
BW

É preciso um guia para a avaliação de desempenho?

Não! São precisos dois. Ou três. Ou mais ainda, quem sabe...
Em 2008/2009 a Drel disponibilizava este. A Texto Editora já vai no segundo, conforme abaixo se pode ver.
Mas do que este processo precisa sobretudo é de paz de espírito para levar todo o processo e respectiva burocracia a bom porto. Não se pode fugir do inevitável. E o caminho é pela avaliação. Como creio que muitos colegas defendem. Todavia, espera-se justiça e bom senso que possa avaliar o bom trabalho e profissionalismo dos professores, num modelo que, este sim, é discutível (e que, já agora, permita distinguir os bons profissionais dos que o não são).


Ainda não li, mas já está à venda o Novo Guia de Avaliação de Desempenho Docente, editado pela Texto.
Aqui fica a informação.
- Apresentação e explicação dos pressupostos teóricos subjacentes ao novo enquadramento legal da avaliação de desempenho.
- Articulação do quadro legal com a sua aplicação nas escolas.
- CD-ROM, com apresentação de propostas práticas para cada interveniente.
- Relação entre a avaliação interna e externa da escola, a avaliação de desempenho docente e a eficácia na escola.




Ana Soares

sábado, 15 de janeiro de 2011

Os pais das Novas Oportunidades

Já em Dezembro, Margarida Gaspar de Matos dizia, com base nos resultados dos seu estudo para a OMS que as Novas Oportunidades podiam estar a mudar a percepção dos pais relativamente à educação e à saúde dos filhos. Lucília Salgado centrou o seu estudo, pedido pela ANQ que tutela as Novas Oportunidades, nos adultos que fizeram o programa e chega a conclusões semelhantes: os adultos têm mais auto-estima, um maior sentimento de realização e de valorização pessoal e uma melhoria da capacidade de comunicação e de relação com outros. Mais conclusões aqui.
BW

Bom fim-de-semana

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Carlos Castro e Renato Seabra, só para terminar

Passa uma semana do assassínio de Carlos Castro. Segundo a imprensa tablóide nova iorquina, Renato Seabra confessou o crime. Com base no que se vai sabendo, o crime é classificado de "homofóbico" por causa da mutilação e daquilo que o rapaz disse, o querer libertar os demónios homossexuais.
Por mais que se legalize o casamento homossexual, que o Estado promova a normalização dos comportamentos, ainda há uma parte da sociedade a quem os homossexuais metem nojo, são considerados doentes e coisas piores. Lembram-se da morte de Gilberta, na noite do Porto, por um grupo de rapazes? Eles são rapazes, tal como Renato Seabra, não são homens de 50, 60 anos, de barba rija. São rapazes, miúdos, garotos a quem a homossexualidade lhes dá asco. Eles são intolerantes e impiedosos.
É certo que por detrás do assassínio de Castro existem outros factores,mas não tenho dúvidas que a homofobia foi um deles e que este sentimento está latente.
BW

Sôbolos Rios que Vão

Li Sôbolos Rios que Vão de António Lobo Antunes , cujas crónicas sempre me fascinaram. Ouvira e lera excelentes críticas à obra e pensei dedicar-lhe algum do meu tempo das férias do Natal. Mas não foi fácil. A escrita é muito hermética. Quem acha que em Saramago escasseia pontuação e se perde nos seus romances, por favor, tenha cuidado com Lobo Antunes. Os leitores mais resistentes, que gostam de se deixar ir com o texto e que, por outro lado, também gostam de esgravatar com unhas e dentes nos textos até chegar à sua essência, então, devem fazer a experiência. Pois foi assim que senti esta leitura: uma experiência. Vários planos ou eixos narrativos, que misturam tempos e personagens, mas que têm em comum esta personagem que enfrenta o flagelo do cancro. Um texto que se me afigurou como um longo anacoluto, aquela figura de estilo, também chamada informalmente de "frase quebrada", pela mudança súbita de rumo que uma frase ou verso toma.

Por último, o título. Um enigma no início, uma dúvida a meio da leitura. Não há qualquer referência a Camões ou ao seu verso ao longo do romance. Mas, no fim, faz sentido. Rios que correm, cada um por seu caminho, todos com o mesmo fim: o mar.

Um romance sobre a vida e a morte, na escrita inconfundível de António Lobo Antunes. Uma experiência de leitura marcante.

Ana Soares

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Música por/para PAIS & Filhos


A revista PAIS & Filhos começou a celebrar os 20 anos de existência. Por isso, a celebração é com as famílias que tem acompanhado ao longo destas duas décadas através de música para todos!
Depois do concerto do próximo sábado, estão já agendados novos concertos para Fevereiro, Março, Abril, Maio e um grande concerto de final de temporada em Junho.
Tudo de graça.
"Não acham o máximo? Eu adoro", confessa a directora da revista Maria Jorge Costa.
Nós também!
BW

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Poesia para os mais pequenos

Ela ainda não sabe ler, mas adora ver livros e ouvir histórias para depois as reproduzir e acrescentar pormenores que imaginou. Também gosta de ouvir poemas. Aqui fica um que a encantou.

Levava eu um jarrinho
P'ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P'ra comprar pão:
E levava uma fita
Para ir bonita.

Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p'ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!

Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Pra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.

Fernando Pessoa

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Resultados escolares e banda larga

Notícia o Jornal de Negócios (não encontrei na edição online) que:
"A introdução de banda larga nas escolas - uma das bandeiras dos executivos de José Sócrates na política de educação - teve um impacto negativo generalizado nas notas dos exames nacionais de português e matemática do 9.° e 12.° anos, com maior impacto nos rapazes do que nas raparigas. Esta é a principal conclusão de um artigo recente assinado por Rodrigo Belo, Pedro Ferreira e Rahul Telang da Carnegie Mellon University e das universidades Técnica e Católica.
No estudo "Impact of Broadband in Schools: Evidence from Portugal" - que será submetido em breve para publicação na revista "Review of Economics and Statistics" e que foi apresentado na semana passada no ISEG -, os autores escrevem que "em média, as notas baixaram cerca de 7,7% entre 2005 e 2008 e cerca de 6,3% entre 2005 e 2009 devido ao uso de banda larga".
A explicação é simples: "o nosso argumento central para um declínio no desempenho dos estudantes é o de que a banda larga cria distracções", escrevem. Este efeito é mais sentido entre rapazes do que entre raparigas,oquevaiaoencontro "de um inquérito que indica que é mais provável os rapazes dedicarem-se a actividades que os distraiam do que as raparigas"."

A importância do Desporto Escolar


Eles gostam e sentem-se promovidos quando o professor de Educação Física os chama para participarem nos torneios de futsal, voleibol, basquetebol ou no corta-mato organizado pelo Desporto Escolar. Nos dias dos torneios, ali estão eles, em destaque, a representar as cores e os valores das suas escolas e a dar o seu melhor! Nas bancadas estão os pais a torcer por eles e pela escola.
Não tenho dúvidas de que o Desporto Escolar ajuda a criar espírito de grupo, de pertença. E se hoje, os pais vão vê-los ao complexo desportivo, amanhã vão à escola falar com o director de turma, ou seja, o Desporto Escolar pode ser um modo de interessar os pais pela escola.
O Desporto Escolar também é democrático e promotor da igualdade. Lado a lado, estão alunos dos colégios e das escolas públicas, todos iguais, a lutar pelos mesmos lugares nos pódios. No final, todos recebem medalhas e troféus.
Para muitos, sobretudo aqueles que não têm dinheiro para ginásios e clubes , é o Desporto Escolar a forma que têm de praticar uma modalidade de que gostam, sem gastar dinheiro. Para muitos alunos é o único meio para fazerem actividade física.
O Desporto Escolar pode mesmo ser a motivação para estar na escola, sobretudo para aqueles alunos que não gostam, que têm maus desempenhos e mau comportamento mas que estão em grande forma física e brilham no desporto.
Por tudo isto, não compreendo os cortes que o Governo pretende fazer neste programa.
BW

Conversas de recreio

Conversa que ele (de 7 anos) começa com ela (de quase 4):

- Tens um namorado?

- Não, tenho uma namorada. É a M.

-Ah! Não podes! Assim são alérgicas.




Ela faz anos esta semana. A M. vem cá lanchar a casa. Não se pode deixar passar uma amizade assim! Entre os mais pequenos a amizade é inesperada, bela, mais forte do que tudo. E eles não têm palavras para explicar por que é assim. Mesmo que para o ano mudem de escola, que se deixem de ver, estas memórias do conforto e da alegria de ter um amigo ficam. E basta um abraço para tudo recomeçar. Diz R. Bach que "para os amigos não há longe nem distância". A minha vida pessoal também me tem mostrado isso. Que bom!

Ana Soares

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Intimidade

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.


José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

domingo, 9 de janeiro de 2011

This is New York...

Carlos Castro, Renato Seabra e Odília Pereirinha


Tenho pena, muita pena, daquela mãe que tem a certeza que tem um filho de ouro, que jamais seria capaz de fazer mal a quem quer que fosse. "Não acredito. Não acredito. O meu filho, sendo um filho de ouro, um filho que é muito bom, não fazia isso", disse Odília Pereirinha no aeroporto, antes de embarcar numa viagem que não se deseja a ninguém.

Carlos Castro morreu em Nova Iorque, não da maneira que desejava, mas na cidade que adorava e onde queria que as suas cinzas fossem espalhadas - precisamente em Times Square, onde fica situado o hotel -. Mas não se imagina uma figura como a deste cronista a morrer de velhice num lar de idosos, pois não?

Renato Seabra, o alegado autor do crime, o aspirante a modelo foi ingénuo? Ambicioso? Ganancioso? Crédulo? A confirmar-se que é o autor do crime, praticou-o no pior sítio do mundo, onde a justiça é rápida e pesada, para já não falar das prisões.

Odília Pereirinha é mãe. E não há nada a dizer.

BW

Mais um estudo, este a dizer que...

... os recursos económicos das famílias não têm influência directa nos resultados dos alunos, MAS que as expectativas das famílias são importantes para o desempenho académico dos estudantes.
É um estudo feito com apenas 24 famílias, no Vale do Ave.
BW

A educação e o abono de família

Quando nos ouvia queixar do custo dos livros e material escolar, uma amiga que nasceu e cresceu no Canadá rematava sempre: Mas lá a educação é gratuita, os meus pais nunca pagaram um manual...
O DN fez as contas e conclui que há famílias que até agora estavam no 2.º escalão do abono social passam para o 3.º e vão suportar despesas em educação que não tinham até agora. A acrescentar aos cortes no abono de família, há ainda o apoio social escolar que passou a estar indexado aos escalões do abono. Portanto, uma desgraça nunca vem só.
A educação devia mesmo ser gratuita, sobretudo para quem tem menos.
BW
PS: Vale a pena acompanhar o trabalho que o DN começou a publicar na sexta-feira sobre a Despesa do Estado e a má gestão da coisa pública que pesa no bolso dos contribuintes, nós.

Bom domingo!


Glee regressa para a sua segunda temporada!
BW

sábado, 8 de janeiro de 2011

O ipad não pode, nunca, substituir o jornal

Apesar de ambas, eu e a Bárbara, preferirmos o Ipad ao Magalhães, o primeiro não pode, nunca, substituir o jornal! Veja o vídeo e saiba porquê.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Os professores no lugar onde têm de estar"

É o título do editorial do PÚBLICO de hoje que reflecte sobre um estudo - que é notícia nas páginas do PÚBLICO - que conclui que factores como a literacia dos pais ou a idade dos alunos contam para o sucesso dos estudantes mas pouco! O que conta de facto é a escola e são os professores!
O problema, diz uma das investigadoras, é que há escolas que estão "à sombra da bananeira", que podiam fazer mais e melhor e não fazem, que podiam "esticar os alunos".

A mim preocupam-me as "escolas fatalistas" que baixaram os braços (ou nunca os levantaram) porque estão mal situadas, os alunos são maus, os pais são piores e não há nada a fazer... O que a IGE através da avaliação externa tem mostrado é que há escolas/professores nesses sítios que se têm esforçado, que criam projectos, que depois até podem ser disseminados a nível nacional.


"(...) torna-se obrigatório insistir no papel insubstituível dos professores na dinamização das escolas e na superação dos problemas específicos do meio envolvente. São eles, afinal, quem faz as escolas de elite, as escolas à sombra da bananeira, as que surpreendem ou as fatalistas, de acordo com a hierarquia feita pelas autoras do estudo. Nestes tempos de depressão e grande desmotivação profissional causada pelas guerras da avaliação e pelos cortes salariais, nunca é de mais lembrar a sua importância e responsabilidade quanto ao futuro do país."


A esta hora os artigos (são três textos) ainda não estão disponíveis no PÚBLICO online, mas está no papel, aquele que se vende nas bancas, papelarias e afins!
BW

Uma casinha de chocolate para montar e... comer!

Um lanche em casa dos primos foi o mote para fazermos esta "casinha de chocolate". Na verdade, não é de chocolate, é de gengibre, mas para os miúdos é como se fosse de chocolate. Comprei a caixa com a bolacha na loja sueca da Ikea e reservei-a para uma das tardes das férias em casa com os miúdos. Quando a abri, verifiquei que se tratava de uma casinha para montar. Os bolos e doces não são a minha especialidade, pelo que eu receei não estar à altura da tarefa. Mas a verdade é que seguindo as instruções da caixa (no Ikea até as bolachas trazem instruções!!) é muito fácil montar a casinha e decorá-la. Para a próxima tenho é de arranjar um saco de pasteleiro que me permita aperfeiçoar as decorações com o açúcar glace.

Aqui fica a sugestão para um fim de semana com chuva!

E a propósito do Ikea, de que sou fã, aqui fica um excerto de uma das minhas crónicas preferidas do RAP:

«Toda a gente está convencida de que o IKEA vende móveis baratos, o que não é exactamente verdadeiro. O IKEA vende pilhas de tábuas e molhos de parafusos que, se tudo correr bem e Deus ajudar, depois de algum esforço hão-de transformar-se em móveis baratos. É uma espécie de Lego para adultos. Não digo que os móveis do IKEA não sejam baratos. O que digo é que não são móveis. Na altura em que os compramos, são um puzzle. A questão, portanto, é saber se o IKEA vende móveis baratos ou puzzles caros."
Ricardo Araújo Pereira, Novas Crónicas da Boca do Inferno
Ana Soares

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Novidades do dia:

1 - Exame de Filosofia opcional
2 - Governo elimina disciplina de Área de Projecto no 12º ano
3 - Formação Cívica para o 10º ano

A notícia é do Público e surpreende, pois todos esperávamos notícias do básico e, afinal, temos em primeiro lugar as mudanças do secundário oficializadas.

Breve comentário:

1 - O exame opcional de Filosofia parece-me valorizar a disciplina e o papel que a mesma assume no desenvolvimento duma sociedade.

2 - Confesso que concordo com medidas que possam reduzir a carga horária dos alunos. Quando penso no meu 12º ano, só com três disciplinas, e agora olho para os meus alunos, respectivo número de disciplinas, exigência e extensão dos programas fico arrepiada. Como o meu marido costuma dizer, o 12º ano foi dos anos em que mais trabalhámos para nos prepararmos para o superior, para os exames de acesso (pois para além das PGA's fizemos provas específicas)... e só tínhamos três disciplinas!

3 - Naturalmente que, em teoria, concordo com a Formação Cívica. No entanto, tenho dúvidas sobre os moldes em que a mesma vai ser operacionalizada. A ver vamos.

Ana Soares

Não é por nada, mas eu preferia...

... um iPad ao Magalhães!
BW

Dia seis, dia de Reis!




O poder dos pais

Uma amiga mudou um dos filhos do colégio para a escola pública e está satisfeitissima. Dizia-me que no colégio falava, falava, o director dava-lhe razão mas encolhia os ombros e a desculpa era sempre a mesma: "O professor é efectivo..."; era difícil mobilizar os pais, mais preocupados com instalações e custo do colégio do que com o que se passava na sala de aula.
Agora, na escola pública, a minha amiga é o terror dos "maus" professores. A minha amiga telefona aos outros pais, reúne com eles, junta-os e, à conta destes pais, já três professores foram "remodelados". Em contrapartida, estes pais juntam-se para angariar dinheiro para a escola, para as visitas de estudo ou viagens dos miúdos com mais necessidade, para as actividades que a escola quer fazer como as feiras e exposições. A directora sabe que pode contar com eles e a minha amiga está mesmo, mesmo feliz. "No colégio não era nada assim, bendita escola pública!"

Conta-me uma investigadora que não tem dúvidas que o poder dos pais na escola pública é maior do que na privada, sobretudo nas terras mais pequenas, não em Lisboa ou no Porto, mas no resto do país, onde as direcções das escolas não querem contrariar os pais.
Esta investigadora explica que os pais, ciosos por uma melhor educação, são exigentes porque em cidades de média ou pequena dimensão não há muito por onde escolher. Por vezes, há só aquela escola, por isso, os pais querem que seja a melhor e fazem por isso. Exigem-no.

A minha amiga tem a certeza que tem o filho na melhor escola pública da cidade e já só pensa no fim do ano para mudar o outro filho para aquela escola. "Os pais estão ao lado da directora e ela sabe que pode contar connosco", diz-me. O próximo professor que não cumprir os requisitos que aqueles pais exigem que se cuide!
BW

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Histórias com Chá

Diz um amigo meu que, quando não sabemos o que ler, é sempre seguro pegar num prémio Nobel. Foi assim, e por já ter ouvido uma outra amiga falar deste livro, que cheguei a Yasunari Kawabata, autor japonês, e ao seu livro Mil Grous. Numa edição da D. Quixote, numa tradução que não faço ideia se é fiel ao original, mas cujo resultado final se me afigura como muito agradável, entrei no mundo dos rituais associados ao chá, a minha bebida preferida. Uma pequena narrativa -carregada de relações entre vivos e mortos, pais e filhos, amores e paixões - que sustenta a apresentação da cerimónia do chá. Confesso que houve um aspecto que me incomodou aquando da leitura: os nomes das personagens e dos utensílios do chá, tão diferentes da nossa linguagem, pareciam, a cada vez que surgiam, nas linhas do texto, obrigar-me a pensar a quem ou ao que se referiam, assim perdendo a leitura alguma da naturalidade e fluidez que tanto aprecio quando estou a ler. Todavia, o livro é uma experiência que recomendo. Pelo Nobel (de 1968), pela história, pelo chá.

Ana Soares

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

2011 mais caro


Com a reforma congelada e o dinheiro contado, ao meu lado está uma velhinha que prescinde de levar três bolinhas e vai pagar só duas. As bolinhas eram 0,16 euros, são agora 0,18 cada uma e o pão comprido era 0,80 passou para 0,87 euros. Atrás de mim, uma professora do 1.º ciclo indigna-se com o aumento, viu o seu ordenado cortado e o subsídio de alimentação também. Em vez de um pão grande, vai passar a levar carcaças, informa à vendedora. A velhinha concorda, é boa ideia, sim senhora, mas as carcaças não enchem tanto a barriga.
A vendedora mantém-se calada até deixar sair entredentes: "São os preços novos", desculpa-se.
"É a crise", respondemos as três em uníssono, para rirmos, sem acharmos graça nenhuma.
Na rua, o meu filho diz-me: "O IVA aumentou para ver se saímos da crise, não é?". Pois.
Leia mais aqui sobre as medidas que entraram em vigor no início do ano.
BW

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Com as festas...

... o relatório sobre os Testes Intermédios (TI) passou ao lado da maioria dos órgãos de comunicação social, excepto do i.
Os alunos do 3.º ciclo e do secundário não sabem interpretar, nem a Português, nem a Matemática. Não é novo, já todos o sabíamos. É grave e a culpa não é só do Governo, mas das famílias e dos professores.
O que não me parece muito correcto é comparar estes resultados com o PISA. Os TI testam os alunos nas disciplinas, tendo por base os programas das mesmas; os do PISA avaliam os estudantes na literacia da língua, matemática e científica, ou seja, os alunos não respondem a perguntas sobre matéria, como nos primeiros.
Os TI são feitos a meio do ano, para algumas escolas são uma espécie de preparação para os exames nacionais (no caso dos alunos do 8.º ano), por todos os alunos desses anos de escolaridade. O PISA é feito por estudantes de 15 anos, independentemente do ano de escolaridade que frequentam, que são escolhidos aleatoriamente, cerca de 40/escola, em pouco mais de 200 estabelecimentos de ensino.
Só estas duas premissas deveriam servir aos professores e comentadores de serviço para não extrapolarem. Parabéns ao Gave por esta atitude de transparência, ou seja, os testes fazem-se e os seus resultados não só chegam às escolas onde os TI foram feitos, como chegam ao grande público. O relatório está aqui.
BW

Para quem vem aqui através do apelo do senhor César Preto...

... verificar se eu sou uma grande defensora da escola pública, seja bem vindo!

O que aqui poderá confirmar é que os jornalistas não são amorfos, pensam e são pessoas. E este é o MEU espaço, onde EU escrevo o que penso sobre a vida, os filhos, a família, a educação, a escola, etc. Outra coisa é o MEU trabalho que está plasmado nas notícias, reportagens e entrevistas que são publicadas no PÚBLICO.

Tudo isto por causa deste texto! Escrevi-o porque sou uma grande defensora do privado, porque estou a fazer publicidade aos colégios, a começar pelo Moderno, acusam alguns dos leitores do PÚBLICO, nomeadamente o senhor César Preto que convida os leitores a vir aqui confirmar a marota que eu sou, que misturo trabalho com convicções pessoais.

Passo a contextualizar os leitores:
1. Eu não escrevi a reportagem do Moderno porque defendo o privado, escrevi-a porque me foi pedida. É que os jornalistas têm editores e directores acima deles e não escrevem só o que querem... Aceitei a ideia (atenção: por vezes, os jornalistas têm liberdade para dizer não, que isto aqui não é uma ditadura!) porque havia um facto de que tinha conhecimento: alguns colégios tinham fila à porta para pré-inscrições. Quando comecei a pesquisar - falei com vários colégios, como se pode ver aqui - percebi já ninguém tinha filas, à excepção do Moderno, embora pouco significativa porque as matrículas podem ser feitas pela Internet, como nos outros.
2. Depois de informar os meus superiores ficou decidido que ainda assim avançaria para a reportagem. O ângulo já não eram as filas, mas os que se recusavam a fazer a matrícula pela Internet. E, para isso, teria de falar com os pais que se juntavam à porta do Moderno. Lá fomos nós, jornalista e repórter fotográfico para a porta do colégio uma noite antes e no dia das inscrições.
3. O que se lê na reportagem não é um elogio ao colégio, mas as motivações e reacções dos pais que se sacrificam a passar uma noite (talvez mais) à porta de uma escola. Aliás, não foi nada fácil fazer um texto quando os pais, os que passaram ali a noite, se fecharam em copas e se recusaram a falar e a ser fotografados porque têm vergonha de estar numa fila, porque sabem que estão a fazer uma coisa que a própria directora lhes pediu para não fazer, porque já faz pouco sentido nos dias que correm. "Ó minha senhora, de mim não leva nada", é paradigmático do sentimento daqueles pais.
4. Nas páginas do jornal, podem ler-se ainda dois textos que são sobre as angústias que os pais passam à frente do computador a fazer a pré-inscrição e os critérios de admissão dos colégios.
CONCLUSÃO:
1. O trabalho, no seu conjunto, tem a função de informar os leitores que: ainda há pais que se sujeitam a passar noites em claro por causa do futuro dos filhos; os colégios continuam a ter procura, a matrícula não se faz presencialmente mas pela Internet; e é a direcção dos colégios que tem a última palavra, não os pais que fazem os sacrifícios e vão viver a angústia de não saber se o filho foi ou não admitido, senão daqui por uns meses.
2. O que não está no texto mas que motiva os comentários mais agrestes é isto: O sacrifício que os pais fazem para NÃO meter os filhos na escola pública e isso é que dói!
3. Mas também sabemos dos enganos que os pais cometem para meter os filhos NAQUELA escola pública e o que esta faz para seleccionar os alunos. Esse trabalho também já foi feito no PÚBLICO.
BW
PS1: Na manhã em que fui para o Moderno, apanhei uma taxista que me descrevia a sua relação com a imprensa: "Vocês [PÚBLICO] é mais política, não é? Eu gosto de ler o Correio da Manhã porque percebo tudo! Eu para ler o Diário de Notícias tenho que ter um dicionário ao lado porque não conheço muitas palavras. Vocês [os jornalistas] esquecem-se que o povo só tem a quarta classe e não aprendemos as palavras todas."
Lembrei-me desta conversa porque quando leio alguns comentários penso que quem leu a notícia, a entrevista ou a reportagem não percebeu porque não compreende, porque não sabe interpretar, porque tem a mania da teoria da conspiração e lê sempre com esses óculos postos.
E de seguida penso, a escola tem TANTO trabalho pela frente! E, logo depois, tremo quando penso que alguns dos comentadores são professores, são aqueles que deviam ensinar as crianças a serem livres e a interpretar...
PS2: Os jornalistas também vão atrás de pistas que os leitores ou outros lhes dão sobre determinados assuntos; também escrevem sobre actualidade; sobre queixas, acusações, etc. Raramente escrevem sobre as coisas de que gostam.

Como encaram os professores o 2.º período?

Parece que mal...

RTP e o novo acordo ortográfico

A RTP também já adoptou o novo acordo ortográfico. Nos genéricos, nas legendas e nas notícias de rodapé vamos ser agora confrontados com a nova ortografia. Os "directos", por exemplo, passam a "diretos". Deixo-vos como prenda de ano novo alguns programas / notícias da RTP sobre o Novo Acordo Ortográfico e que podem ser visitados aqui.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Feliz Ano Novo



Um Ano Novo cheio de estrelas coloridas que nos iluminem e de
portas que se abram e nos ofereçam alegria, saúde e amigos