sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Princesa Laranjada à hora de dormir

"não sei se alguma vez ouviste
ou viste uma fonte falar

se é a primeira vez
tens mesmo de te preparar

o que eu tenho para contar
é uma história verdadeira
com uma princesa um príncipe
três laranjas e uma feiticeira!"


Esta foi uma prenda de Natal da nossa filha. Já a lemos várias vezes nestes dias de férias da escola que, de forma tão saborosa, nos permitem esticar a hora de dormir e, por isso, nos deitamos os quatro, debaixo do edredão e lençol de flanela, a ouvir as histórias uns dos outros. Com ele andamos a ler "As trafulhices no Coliseu" do rato da moda, Geronimo Stilton. Para ela, andamos a ler a Princesa Laranjada, a adaptação do conto tradicional "As três cidras" feita, em verso, por Pedro Sena-Lino e que aconselho vivamente a todas as princesas dos três aos doze anos. Uma mistura perfeita entre a literatura tradicional e a poesia, com a actualidade e graça que o seu espirituoso autor lhe acrescenta.
Ana Soares

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Quando se cresce demasiado depressa...

Quando o viu, passado um ano, o pediatra nem queria acreditar. "Como cresceste!". Às vezes, eles crescem demasiado depressa, dão o pulo, um dia têm um metro e meio, no seguinte, um metro e oitenta.
Na sala de aula senta-se todo torto, as cadeiras são pequenas, incómodas para estar direito durante 90 minutos. Qualquer movimento que faça é atrapalhado, os braços compridos vêem-se ao longe, e dá mais nas vistas do que o colega do lado, o que ainda não deu o pulo, pequenino e que passa despercebido.
Se vira a cabeça para o lado, o olhar do professor fixa-se nele. Se procura uma posição mais correcta para se sentar, o docente volta a olhá-lo, desconfiado. Se tem uma dúvida, lá está ele. A sala parece-lhe pequena, os colegas pequenos, as professoras pequenas e ele grande, grande e cheio de força, de energia para dispender. Porque, na verdade, ele é igualzinho aos outros: pequeno. E o que desejava mesmo era passar despercebido, mas não consegue... é grande.
BW

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A morte lenta dos colégios com contratos de associação

A Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo está satisfeita com a promulgação do decreto-lei que prevê os apoios aos 93 colégios com contratos de associação. Cavaco Silva promulgou mas antes propôs (ou impôs, não sabemos) algumas alterações que prevêem a estes colégios irem respirando enquanto não são asfixiados.
Ou seja, em vez dos contratos anuais previstos pelo Governo, os contratos serão plurianuais, com a duração de um ciclo de ensino. Isto significa que um aluno que entra no 5.º ano tem a garantia que o Estado paga as suas mensalidades durante dois anos, até completar o 6.º ano e concluir o 2.º ciclo. Este mesmo aluno poderá não ter a mesma sorte no 3.º ciclo, caso o Ministério da Educação veja que existe vaga na escola pública vizinha.
Paralelamente aos contratos plurianuais, o Governo prevê negociar anualmente com os colégios a abertura de novas turmas no início de cada ciclo (5.º, 7.º e 10.º anos). Portanto, se este ano a escola x tem cinco turmas de 5.º ano, no próximo ano lectivo pode ter apenas duas, se houver vagas na escola pública do lado.
A gestão da rede é sem dúvida melhor mas quem fica a perder são alguns destes colégios (não todos) e os seus alunos.
BW
PS: Há três semanas, José Manuel Fernandes, ex-director do PÚBLICO escrevia assim:
"Nas escolas privadas com contratos de associação com o Estado podem andar todos os alunos da respectiva área geográfica, ricos ou pobres, só que nas tabelas do PISA não se consegue saber quais os alunos que tinham estudado nessas escolas. Há por isso que recorrer aos rankings nacionais para saber. Foi o que fiz, escolhendo três escolas privadas com contratos de associação para fazer as comparações.
A Escola Salesiana de Manique, concelho de Cascais, admite alunos de todas as classes sociais (e etnias), mas conseguiu ficar, em 2010, em 39.º lugar a nível nacional; no mesmo concelho, há outras duas grandes escolas privadas (os Salesianos do Estoril, 6.º lugar, e os Maristas de Carcavelos, 43.º) e seis escolas secundárias públicas, com posições entre o 95.º (São João do Estoril) e 469.º (Alvide).
Já em Arruda dos Vinhos não há nenhuma escola secundária do Estado, apenas uma privada que recebe todos os estudantes do concelho. Ficou em 46.º lugar. No vizinho concelho de Sobral de Monte Agraço, onde só há uma escola pública, esta ficou em 383.º. Por fim, em Torres Vedras, há duas secundárias do Estado (que ficaram em 171.º e 365.º lugares) e o Externato de Penafi rme, uma grande escola privada que inclui também ensino profi ssional, que ficou em 108.º.
Estes exemplos são elucidativos: em escolas abertas a todos os alunos, escolas privadas mas integradas na rede pública, o binómio autonomia-responsabilização tem produzido resultados claramente melhores do que o das escolas do Estado na sua vizinhança. O que, cruzando com os resultados dos alunos do privado no PISA, recomendaria o alargamento deste tipo de contratos. Mais: os dados conhecidos relativamente ao passado, e também confirmados pela OCDE, indicam que cada estudante no ensino estatal custa mais ao erário público do que cada estudante no ensino privado com contratos de associação. Ou seja, esta modalidade de ensino público em parceria tem custado menos ao Estado e tem produzido melhores resultados."


Nota: Se JMF sabe que escolas participaram no PISA podia partilhar essa informação com a ministra da Educação que não sabe!... Ou seja, não podemos misturar escolas com contratos de associação e escolas que participaram no PISA, contudo, não deixa de ser interessante a comparação que JMF faz tendo por base os rankings que, já se sabe, estão cheios de fragilidades! Mas não deixa de ser curioso porque vem comprovar a ideia de que os alunos são os mesmos, as escolas e a sua gestão é que não e essa gestão pode fazer a diferença.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Dia de Natal de António Gedeão

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros, coitadinhos, nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra, louvado seja o Senhor!, o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda maciezada matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiamque caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Noite de Natal

“Há-de uma grande estrela cair no meu colo...

A noite será de vigília.

E rezaremos em línguas

Entalhadas como harpas.

Será noite de reconciliação –

Há tanto Deus a derramar-se em nós."

Reconciliação, de Else Lasker-Schuler

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Reuniões de avaliação

Semana de reuniões de avaliação. Testes, trabalhos, números em que os alunos se transformam. Sessões contínuas que surgem no desgaste de um período inteiro de trabalho. Saber olhar para além dos números, reconhecer as pessoas e vidas que os números de pauta escondem é um desafio ao qual não podemos ficar indiferentes.
Ana Soares

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Identidade

Pedro Sena-Lino no lançamento do Manual de Autobiografia:

" (...) Penso sempre que é por isso que estamos nesta terra não sozinhos mas multiplicadamente acompanhados por biliões de seres: porque a fome de cada um ultrapassa a pele, e o que nos separa é a necessidade de podermos matar a sede uns aos outros com o sentido a buscar no fundo de cada um. (...)

Acredito que uma narrativa pode salvar: é assim com a Bíblia, é assim com o Corão, é assim com milénios de Literatura que criaram a identidade em que cada ser encontra o veículo e o enigma em que pode achar-se e superar-se, e assim transgredir os limites da sua própria dimensão original."

Pedro Sena-Lino, Crónicas de Bizâncio

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Os Livros são como Casas

Porque Os Livros são como Casas, Sophie Pietromarchi, numa edição da Edicare, lança sugestões a educadores, pais ou professores para fazer livros e capas. Com uma linguagem poética, mas simples, pode também ser lido e usado autonomamente pelas próprias crianças. Sugestões práticas, num livro apetecível, que nos fala do prazer do livro, mas, essencialmente, fornece ideias.


"A curiosidade faz-me sempre abrir portas. Sempre pensei que as portas mais misteriosas eram as capas dos livros. «Porquê?», perguntas tu. Bem, primeiro porque abrem para o mesmo lado e protegem o que lá está dentro. Quando estão abertas, há um mundo novo no seu interior. Há alguma coisa numa porta ou numa capa de um livro que separa o que está dentro do que está fora e promete contar segredos. As capas e as portas falam em silêncio: a cor, a forma, a decoração, as palavras nelas escritas. (...) há alguma coisa muito parecida entre um livro e uma casa e, às vezes, entrar num livro é como entrar numa casa: podemos sentir os cheiros, ver as sombras e a luz, o ar da pessoa que vive na casa, as coisas que nela existem. Tal como uma casa, um livro é um mundo inteiro - se calhar como um ovo - só que um ovo não tem porta!"

Ana Soares

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ideias para o Natal




Este ano decidimos embrulhar "ecologicamente" as nossas prendas. Estamos a usar o papel dos jornais e revistas que os pais compram e lêem cá por casa. Escolhemos as páginas mais bonitas, fugimos das com imagens de guerra ou tristeza. A próxima tarefa é recortar umas estrelas e, no caso das meninas, fazemos um laço em papel de jornal enrolado que depois aplicamos por cima ou usamos uns carimbos. O mais velho dos nossos filhos ficou encarregue de escrever os nomes.
Cada embrulho e preparação do mesmo é o tempo que dedicamos a pensar e falar naquela pessoa especial a quem queremos e podemos dar uma prenda, comprada ou feita. E isso também é importante para as crianças: perceberem que o mais importante é a pessoa, o que ela significa para a família e que a prenda foi escolhida com carinho e que pomos muito de nós nela!

Ana Soares

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natal mais solidário: É DADO

A Lavandaria Caffé (em Lisboa, no parque das Nações, perto do Hospital CUF) associou-se a uma campanha de angariação de roupa. Este é um projecto muito interessante. Todos aqueles que têm roupa em boas condições e que já não precisem dela, podem deixá-la na referida lavandaria. Depois, esta fá-la chegar a uma LOJA SOLIDÁRIA da Cáritas, perto do metro de Carnide, onde, quem dela precisar, pode ir escolher roupa e levá-la. A entrega pode também ser feita na própria loja "É DADO" da Cáritas que fica na Rua Manuela Porto.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Uma manta por uma história

A psicóloga Rita Melo continua a iniciativa que começou no Natal de 2008, dar uma manta em troca de uma história, uma canção, uma lenga-lenga ou simplesmente uma história de vida.
A iniciativa vai decorrer em Lisboa e em Setúbal, no próximo sábado, em vários lares das cidades ou mesmo em casa das pessoas. Se quiser pode entrar em contacto para xritamelox@yahoo.com

Aqui fica um bocadinho de uma reportagem que escrevi há dois anos:
"Na cabeça de Rita Melo, a ideia de fazer algo de diferente neste Natal começou a tomar forma. Para os mais idosos, o que é que seria um bom presente, perguntou-se. Receber uma visita, alguém com quem falar. Essa visita poderia oferecer uma manta e em troca ouvir uma história. Rita Melo considera que cada idoso é uma biblioteca e que quando contam histórias se reinventam, que a sua expressão muda, ilumina-se. Portanto, continua, quem vai receber um enorme presente é a visita que ouvir o que o idoso tiver para contar. "Uma história é uma coisa preciosa", é a sua convicção."

Esta é uma boa acção que podemos fazer com os nossos filhos: ir visitar um velhinho, conversar com ele e ouvi-lo.
BW

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Este Natal...


... Em vez de jogos para a PSP, compre os clássicos da literatura!
Eu não tenho dúvidas e o PISA também não...
BW

Era uma vez uma velhinha...

Olhei para o livro Era uma vez uma velhinha...

Primeiro apercebi-me do formato original e da ilustração especialmente criativa. Depois, da história, que li logo ali, em pé, na livraria. Uma típica história infantil, que apela à memória, à tradição oral, ao reconto. Fiquei indecisa, na mão tinha já umas tantas compras de Natal. Deixei o livro na prateleira.

Cheguei a casa a pensar que o devia ter comprado. Pesquisei sobre a história e encontrei este vídeo que, embora numa versão um pouco diferente, recupera a mesma velhinha. No entanto, quanto à originalidade, esta edição da Dinalivro parece-me imbatível!

Ana Soares

sábado, 11 de dezembro de 2010

As dúvidas que o PISA coloca...

... são respondidas aqui .
E mais um trabalho bonito (eu adoro fazer trabalhos bonitos!, este com uma ajudinha da Natália Faria) sobre as escolas portuguesas seleccionadas pela OCDE para fazerem parte de um compêndio de arquitectura escolar. Aqui e aqui . Acho que só as fotografias deste trabalho merecem que hoje vá à rua e compre o PÚBLICO!
Bom fim-de-semana!
BW
PS: Eu não tenho dúvidas que um bom ambiente escolar, uma escola bonita, confortável, é meio caminho para o sucesso! Mas não é tudo.

Ainda o Estudo Acompanhado

Aguardam-se esclarecimentos sobre a notícia do post da Bárbara.

Pessoalmente, não sei ainda se aquelas são boas notícias, pois no dia três do corrente mês parecia que o Estudo Acompanhado tinha acabado.

Agora temos uma notícia que nos diz que este é obrigatoriamente para a disciplina de Matemática (pelos vistos deu-se a ressurreição desta área disciplinar!). Depois, a mesma notícia diz que as escolas podem escolher e decidir se as referidas horas, afinal, são para o Português ou para as ciências.

As potenciais boas notícias são, efectivamente, a consciência de que é preciso investir no ensino da nossa língua materna e da matemática.
Não esqueçamos que no próximo ano entram em vigor novos programas do básico para estas duas disciplinas e, nos dois casos, os programas foram feitas para mais do que a actual carga lectiva...
Além disso, não esqueçamos também que estes são os dois domínios do saber responsáveis pelo sucesso dos alunos em todos os outros.
Por último, não esqueçamos que, apesar dos resultados do Pisa, os nossos resultados nacionais ainda deixam muito a desejar.
Manifesto desde já a minha curiosidade relativamente à outra novidade da notícia: as tutorias digitais, nomeadamente na área do Português. Como? Quem? Quando?

Acabo como comecei: aguardam-se esclarecimentos para perceber se estas são, efectivamente, boas notícias.


Ana Soares

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Estas parecem-me (mais) boas notícias

Sócrates anunciou novas medidas no Parlamento.
Afinal o Estudo Acompanhado não vai acabar, vai ser destinado ao reforço na Matemática, Português e Ciências.
Acho graça à tutoria virtual, para isso, é preciso que todos os alunos tenham computador...
As medidas para o programa Mais Sucesso e para as escolas TEIP também me parecem bem. Mais uma vez, para os alunos que mais precisam, aqueles que nos fazem ficar mal nas estatísticas e não só.
BW

Confirmado Novo Acordo Ortográfico para 2011/2012

Foi ontem oficialmente decidida em Conselho de Ministros a adopção do Novo Acordo Ortográfico nas escolas no ano lectivo 2011/2012. Além disso, é já em Janeiro próximo que as novas regras ortográficas serão também aplicadas a toda a actividade do Governo e seus organismos, entidades e serviços que dele dependem.

Para facilitar, a todos, esta transição, estão disponíveis duas importantes ferramentas oficiais de que já aqui falámos: o conversor Lynce e o VOP (Vocabulário Ortográfico Português). Neste último, agora escolhido como lista oficial, basta introduzir no canto supeior direito a palavra sobre a qual temos dúvidas e o mesmo mostrar-nos-á a forma adequada assim como a possibilidade de dupla grafia, se esta hipótese se colocar.
Introduzi, por exemplo FACTO. e o resultado foi o seguinte:

fac·to
nome masculino
Singular

facto


Plural
factos

variante AO :
fato (Brasil)

Não escolhi este exemplo inocentemente. Este tem sido aquele que mais vezes tenho ouvido (erradamente) ser apresentado como uma das mudanças que o Novo acordo traz.

Recordo: só caem as consoantes que não se pronunciam.

Nós, em Portugal, pronunciamos faCto, pelo que o C não cai na variedade europeia. Os nossos irmãos além atlântico não o pronunciam, pelo que a palavra assume uma dupla grafia e no Brasil se escreve FATO. E como uma colega minha, brasileira, dizia com muita graça, eles têm o terno, não precisam do fato como nós!

Ana Soares

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Fim do EA e AP no básico

As escolas não sabem oficialmente, mas já toda a gente sabe. Fim da AP no básico e, possivelmente, do EA . Milhares de horários em questão. Apesar de concordar com a redução da carga horária dos miúdos no básico (eles têm tantas disciplinas e horas!), esta medida deixa adivinhar mais um ano difícil para as escolas e professores...


Da entrevista ao Eng. Sócrates pelo PÚBLICO a propósito dos resultados do PISA:


Estão previstas mudanças nos currículos do 3.º ciclo que fazem cair a Área de Projecto e o Estudo Acompanhado, áreas onde os alunos trabalhavam Matemática e Língua Portuguesa. Não é um retrocesso?

A decisão não foi tomada em função dos cortes, mas por razões pedagógicas. É melhor ser a escola a decidir se há Estudo Acompanhado e este deve ser orientado para as disciplinas onde há mais necessidades e para os alunos que mais precisam.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Fim do pagamento da correcção dos exames nacionais

A RFM noticiou o fim do pagamento da correcção dos exames nacionais do secundário. Em contrapartida, ouvi também na notícia das 12h, os professores serão dispensados de quaisquer outras tarefas durante o período da correcção.
Aguardam-se as reacções.

Ana Soares

O Facebook e o conceito de "amizade"

A minha filha, de 11 anos, quis criar uma conta no Facebook. Depois de centenas de milhares de crianças da mesma idade e mais novas estarem nesta rede social, acabámos por ceder, em nome da sua vida social.
No primeiro dia do mês tratámos do assunto:
1. Ao princípio, ela só escolheu as pessoas de quem era, de facto, amiga. Umas dez.
2. Depois, voltou a rever as listas dos amigos e encontrou outras de quem gostava e que queria tornar-se "mais amiga". Aumentou para 15.
3. Nisto, começaram a "chover" pedidos de amizade. "Olha! Esta é uma das populares! Porque é que ela quer ser minha amiga? Nós nunca falámos..."; "Este foi da minha turma, mudou de escola e quando me encontra só me diz "olá", porque é que quer ser meu amigo?"; "A x é mázinha para mim..."; "O y está sempre a gozar comigo..."; "Mãe! Como é que é possível a z ter 523 amigos?!". Duas horas depois de termos criado a conta, tinha 30 amigos.
E de repente começámos a reflectir sobre o conceito de "ser amigo". O que é a amizade?
A amizade não são definitivamente os amigos do Facebook. Por isso, a lista dela continua a crescer. Não tarda tem uma centena de "amigos"...
BW

domingo, 5 de dezembro de 2010

O meu avô

O meu avô fascista - era assim que eu o apelidava, mas de maneira carinhosa (!) porque foi procurador à Câmara Corporativa e, mais tarde, convidado por Marcelo Caetano (seu professor na Faculdade de Direito) para o cargo de presidente da câmara de Loures.
O meu avô não era fascista - diz Manuel Braga da Cruz que Portugal não teve um regime fascista mas autoritário -, teve um pide à porta durante todo o tempo que assumiu cargos políticos (talvez antes também lá estivesse, mas o meu avô era distraído e nunca reparou). Um dia foi chamado pelo presidente do Conselho porque numa entrevista disse que em Loures não havia comunistas mas pessoas com fome. Marcelo Caetano não sabia o que era pior se o comunismo, se a constatação pelo presidente da câmara de que havia fome!
Não foi personagem digna de registo, as suas fábricas não foram nacionalizadas nem tomadas de assalto pelos trabalhadores, sinal de que foi um patrão justo. As malas estiveram feitas para partir para o Brasil, mas não foi necessário.
O meu avô padrinho, benemérito, caridoso ou, como se diz agora, solidário - foi padrinho de centenas de crianças e assumiu as suas responsabilidades. Ainda jovens chegavam a Lisboa, vindas da terra (da província!), ficavam em sua casa. Ele arranjava-lhes trabalho, orientava-os na vida, escrevia cartas de recomendação, pedia a este ou àquele amigo para empregar o seu afilhado ou afilhada. Deixava estudar os que queriam estudar. Quando chegávamos à aldeia, só ouvíamos "ó padrinho", seguido de um pedido. O meu avô ouvia em silêncio e dizia: Vou tratar disso, fosse um problema de emprego ou familiar.
O meu avô empreendedor, com o toque de Midas - poderia ter feito o seu caminho no exército, onde se ficou por capitão (patente que antecedia o seu nome, era "o capitão Baptista"); mas preferiu a vida civil, criou empresas, fábricas, dedicou-se à agricultura. Procurava as técnicas mais modernas, usadas na Alemanha, nos EUA ou em Israel e exportava-as, aplicava-as. Era um visionário e tinha a força e a coragem de concretizar o que imaginava.
O meu avô sovina - estava-lhe nos genes, herdados dos cristãos novos da Beira Baixa. Há uns dias encontrei um envelope do meu aniversário, de 1988, onde apontei as quantias que cada um me tinha oferecido, ele que era quem tinha mais, foi o que deu menos, cinco mil escudos. Foi assim com os filhos e com os netos, obrigando-os a fazer o seu caminho, não queria gente dependente, mandriona, a viver à conta dele.
O meu avô ausente - as refeições eram feitas em silêncio. Ele era o chefe da família, tinha um lugar de destaque à mesa e uma criada plantada atrás dele para acorrer a todos os desejos do "senhor capitão". Ele comia pão integral, alho crú, muita fruta, legumes e tudo o que o fizesse viver centenas de anos. Nós comiamos calados, se nos ríssemos olhava-nos com tal dureza que engoliamos o riso. Nunca se riu connosco. Quando nos falava era para desenhar o nosso futuro. Queria um neto advogado (seria eu), um farmacêutico, um engenheiro, um arquitecto... Teve azar! Eu fiz dois anos e mudei de curso - a última carta que me escreveu (comunicava connosco por escrito, embora morássemos na mesma casa) pedia-me que eu fosse terminar Direito. Antes de mim, o filho também o contrariou, embora seja professor universitário, não é de Direito!
O meu avô velhinho - não viveu centenas de anos, viveu 96 anos e nove meses - com o passar do tempo tornou-se uma criança, como todos os velhos. A máscara da dureza caiu e ria-se para nós, fazia-nos festas, apertava-nos as mãos como quem diz que ama e que está agradecido pela família que tem. Podia ter morrido sozinho, mas o tempo apaga as mágoas, os gestos frios e as palavras ditatoriais ficaram lá longe e ali só estava um velhinho.
Levei a véspera e o meu dia de anos a tratar de papéis, a certidão de óbito, a funerária, os avisos à família, a escrita do obituário, a cerimónia fúnebre, a receber os pêsames, logo seguidos pelos parabéns. O resto da família esteve perdida em lágrimas e emoção pela perda do velhinho, não do homem que foi, nem do que construiu.
Já o sabia, mas confirmei que tenho muito dele em mim: sou prática e organizada, sei o que quero para o futuro dos meus filhos (embora vá ter azar, como ele teve!), mas não quero cometer os mesmos erros. Por isso, adoro apertar as mãos dos meus filhos, beijá-los; adoro abraçar os meus sobrinhos até os sufocar, de estar disponível para todos, de rir às gargalhadas à hora da refeição, de não os olhar com dureza (embora às vezes me apeteça), de estar sempre presente.
José da Silva Baptista morreu dia 3 de Dezembro, às 17h05, em sua casa, em Lisboa. Foi sepultado no jazigo de família em Valverde, Fundão, no dia 4 de Dezembro. As serras da Gardunha, de um lado, e a da Estrela do outro, estavam brancas de neve.
BW
PS: Na foto, o meu avô inaugura a chegada da água canalizada a Montemor, Loures.

Carta a um Filho

A Esfera dos Livros publicou o poema If de Rudyard Kipling numa edição de luxo, com tradução de Isabel Stilwell e ilustração de Mauro Evangelista.
O livro, embora muito grande (tão grande que não cabe nas prateleiras cá de casa, senão deitado!), é lindissimo. As ilustrações de Mauro Evangelista são cheias de simbolismo e recurso a muitas personagens dos clássicos - dos gregos aos europeus -, o que permite fazer muitas leituras do mesmo livro.
Quanto ao poema de Kipling, o autor do Livro da Selva, e prémio Nobel da Literatura, aqui ficam as primeira e última quadras:

Se fores capaz de não perder a cabeça quando todos à tua volta
Perdem a deles e te culpam por isso,
Se fores capaz de confiar em ti mesmo quando os outros duvidam,
Mas aceitando perguntar a ti mesmo se não terão um bocadinho de razão;
(...)
Se és capaz de preencher o fugaz minuto
Com sessenta segundos vividos plenamente,
Tua é a Terra e tudo o que nela existe,
E - o que mais importa - serás um Homem, meu filho!

O poema vale mesmo a pena!
Uma boa prenda de Natal, para ler e discutir com eles.
BW

sábado, 4 de dezembro de 2010

Amiga!

Amigo
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ler a meias

Ele já lê, mas demora ainda algum tempo a avançar nas histórias, pelo que fica impaciente e cheio de vontade de virar páginas. Por outro lado, (ainda) não me apetece deixar de lhe ler (será que me vai apetecer algum dia?). Já me imagino a sentir falta daqueles mimos do fim do dia em volta de um livro e uma boa história. Assim, agradando aos dois, lemos a meias. Uma página lê ele, a outra leio eu. Se for bd, cada um lê uma vinheta. Mas às vezes fazemos um bocadinho de batotice. Deixo-o ler a página que tem a parte mais emocionante da história ou uma ilustração de que ele gosta especialmente. É batota, mas acho que ele não se importa. Até ver...

Ana Soares

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Quem manda lá em casa? IV

Subscrevo as ideias da Bárbara. Acrescento só que fiquei a pensar na resposta à pergunta que deu o nome a este debate da PAIS e Filhos.


Quem manda lá em casa?

A geração dos nossos pais e avós diria sem hesitações:
São os pais que mandam!

A nossa geração queixa-se e diz:

São eles que mandam! Mandam nas compras do supermercado (porque os pais deixam que eles mandem, por isso não se queixem, pais); mandam nos horários (porque tem de ser); mandam nas horas de sono, etc, etc.


Os nossos filhos fazem parte do nosso projecto de família, do nosso projecto de realização enquanto ser humanos. Assim sendo, é claro que, apesar das mudanças que ter filhos traz às nossas vidas, somos nós que mandamos! No nosso caso, muito claramente, fomos nós que escolhemos este projecto que iria mudar a nossa vida, ritmos, horas, opções, mas que, acima de tudo, nos iria fazer muito felizes. E faz! Sem dúvida.

Ana Soares