São muitas as publicações que este fim-de-semana trazem um "caderno especial" dedicado a Saramago. Comprei o Público para juntar ao número dedicado à entrega do Nobel e um dia os mostrar aos meus filhos e lhes falar deste homem e escritor. Com a qualidade habitual, este caderno conta ainda com a patrticipação de grandes nomes da literatura e da biografia de Saramago (Baptista-Bastos, Carlos Reis, Dario Fo, David Leavitt, Fernando Meirelles, Gonçalo M. Tavares, Harold Bloom, Abel Manta, José Tolentino Mendonça, Mia Couto,Violante Saramago Matos, Zeferino Coelho, entre outros).
Inclui ainda um poema inédito em Portugal. Quando o li, fiquei a pen sar como a sua maravilhosa poesia foi sempre abafada pela sua narrativa de histórias e personagens inesquecíveis. Eu, que há nove anos durmo com dois versos seus num quadro sobre a cabeceira da cama, fiquei de novo rendida à beleza da sua palavra feita poema:
Cerremos esta porta.
Devagar, devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos.
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço,
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos?
O mundo seja,
Como um barco no mar, ou pão na mesa,
Ou rumoroso leito.
Não se afastou o tempo.
Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo.
In Poesía Completa, Alfaguara, pág. 636-637
Poema escrito por José Saramago para assinalar a data do seu encontro com Pilar del Río
Acabei por comprar também o DN também por causa de uma entrevista a alunos, jovens leitores de Saramago. Luzia Cordeiro, aluna do 12º ano, foi convidada pelo DN a participar neste trabalho, juntamente com outros colegas que a mesma sugeriu, na sequência do que escreveu no blogue do Público dedicado aos exames nacionais no dia da morte de Saramago (texto que foi ainda publicado na edição em papel do Público e que pode ler aqui). A boa ideia do Público, deu assim origem a uma boa ideia do DN, embora as honras não tenham sido feitas de forma muito clara
Ana Soares
Muito bonito esse poema de Saramago, tens bom gosto.
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