terça-feira, 2 de junho de 2009

Trocar o "b" pelo "d"

Aconteceu há 29 anos, o menino tinha seis anos e confundia o b e o d, lia: "Dom bia", em vez de "Bom dia". O pai batalhou durante meses e repetia até à exaustão, às vezes, já com pouca paciência: "O b tem uma barriga e o d tem um rabo" e acompanhava a frase com gestos redondos a desenhar a anatomia humana no ar. E conseguiu! Ouvir "dado" em vez de "babo" foi uma vitória lá em casa!

Há uns tempos, falei com o professor João Lopes, especialista em integração e comportamento escolar da Universidade do Minho, que dizia que se todos os alunos tivessem que ser bons a jogar basquetebol, de certeza que haveria uma doença chamada disbasquetebolia, como há a dislexia para os que têm dificuldades em aprender a ler, que trocam as letras, que as saltam, que as confundem, enfim, para as crianças com as quais os professores desesperam e recorrem a ajuda especializada. Os professores também pedem ajuda quando: toda a turma adquiriu as competências, menos aquele aluno. Portanto, concluem, o problema não é seu, mas do aluno, parecendo desconhecer que cada ser humano tem o seu tempo e que nem todos chegam à informação ao mesmo tempo ou da mesma maneira; que é preciso ser persistente, ser paciente, estar atento, motivar em vez de condenar, enfim, ser professor.

A ajuda especializada existe e é dada sobretudo por psicólogos educacionais. Maria Dulce Gonçalves, professora e investigadora em Dificuldades de Aprendizagem da Universidade de Lisboa, propõe que antes de chegar ao diagnóstico, é importante fazer o prognóstico, antecipar se a criança terá ou não dificuldades. E sugere que esse trabalho se faça antes de qualquer menino entrar no 1.º ciclo.

BW

PS: Lembrei-me de tudo isto porque houve um pedido de ajuda num comentário a outro post e porque nos anúncios, aqui ao lado, havia um de uma clínica especializada!

2 comentários:

  1. Sinceramente Senhora Professora, adoraria ter sido sua aluna ou pelo menos que tivesse apanhado outros professores com, desculpando o termo, boa cabeça! Sofri quase toda a minha vida escolar porque ninguém sabia na altura o que era a dislexia... chumbei 4 anos mas contra todas as probabilidades consegui acabar o 12 ano e estou pronta para tentar a universidade! Na primaria o meu Professor dizia que era preguiçosa e chegou a escrever nas folhas de avaliação que eu tinha um atraso mental... Aprendi graças a persistência e a paciência dos meus pais e da minha irmã... A eles devo muito, devo-lhes o meu 12º ano e o seu apoio("não deu este ano ou teste não faz mal tentas para a proxima, não fizes-te o que conseguias? então não te preocupes") o mais engraçado e que só descobrimos o que tinha já estava eu no 10º ano, e sinceramente, passado pelo pior. obrigada por pensar assim e não descriminar aqueles que são como eu...

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  2. Parabéns pela sua persistência também! E que bom ter o principal na vida: familiares que a apoiam. Certamente que as dificuldades por que passou fizeram de si uma pessoa mais forte. Boa sorte na etapa que se segue!
    AS

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