"Mais três crianças morreram e ainda não chegámos ao Verão. Alguém sabe quantas crianças ficam em casa entregues aos cuidados dos irmãos menores enquanto os pais vão trabalhar?
Pois, pouco se sabe sobre os cuidados parentais prestados às crianças. A quem ficam entregues durante o dia, e a fazer o quê? Mas a razão porque todos os anos morrem crianças em incêndios domésticos é tão simples como isto. Estão em casa sozinhas. Não se pense que foi por uns breves instantes.
No Luxemburgo o abono de família é superior a 500 euros por mês. É certo que o custo de vida no Luxemburgo é bastante maior que em Portugal mas faz pensar que se trata de um país que protege os menores e lhes dá condições. O Estado tem uma responsabilidade.
Todo o dinheiro investido na primeira infância é bem gasto porque os três primeiros anos são os mais importantes. Dotar o país de creches do Estado é moroso e um pouco contra a corrente liberal actual, mas investir em serviços de amas e creches familiares talvez não fosse dinheiro mal empregue. Sendo assim, em todas os casos em que os pais não podem pagar um infantário ou creche o Estado devia prover esse serviço. O Estado podia igualmente começar por ter estatísticas sobre a situação das crianças menores de três anos. Onde estão, com quem estão e a fazer o quê.
Os cuidados parentais envolvem quatro tipos de acções parentais. Os cuidados primários dizem respeito à satisfação das necessidades da criança, assegurando o seu bem-estar, incluindo alimentação, limpeza e segurança. Quanto aos cuidados sociais, relações calorosas, afectuosas, sensíveis e adequadas ao momento e idade da criança têm uma influência positiva sobre o desenvolvimento social e intelectual da criança. Os cuidados didácticos implicam proporcionar oportunidades para as crianças observarem, imitarem e aprenderem, alertar e estimular os filhos. Finalmente existe a imposição de limites e regras e respeito pela autoridade. Situações em que as crianças ficam sistematicamente em casa ao cuidado umas das outras não cumprem aquilo que é básico."
António Pazo Pires, docente universitário ISPA / Psicoterapeuta
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