sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A que distância fica a pública da escola com contrato de associação?

O DN fez um trabalho engraçado e penoso (porque dá trabalho): Meteu os nomes das escolas com contrato de associação e das públicas no google e descobriu a que distância ficam umas das outras. E assim concluiu que das 94 (afinal não são 93, mas 94) escolas com contratos de associação, apenas 18 ficam a mais de 15 quilómetros das públicas. E as conclusões são fáceis de tirar: Os contratos de associação não são precisos, pois se há escola pública mesmo ao lado.
O problema é que não houve o cuidado de perceber de que públicas é que se está a falar. O erro foi detectado pelos leitores do DN logo na primeira linha: A Cooperativa de Ensino ANCORENSIS está a sete metros da Escola Básica do Vale do Âncora. O problema é que, como o próprio nome indica a escola básica não oferece os mesmos ciclos de ensino que a escola cooperativa. E este tipo de problema pode acontecer pela lista abaixo. Logo, ficamos na mesma. Mas a mensagem passou, estas escolas não são precisas.

No AVENTAR, Ricardo Santos analisa o concelho de Gondomar (já antes João José Cardoso, no mesmo blogue fizera o mesmo para Coimbra) e é gritante ver no mapa que o Colégio Paulo VI está rodeado de uma dezena de escolas EB 2,3 e secundárias. O ME devia deixar de ter contrato de associação com este colégio, pensamos imediatamente. Ontem, seguindo esta pista dada por Ricardo Santos, falei com a directora do Paulo VI que me informou que o contrato de associação é para 15 turmas do secundário, o que significa que o resto dos ciclos são pagos pelos pais.
Então do mapa de Ricardo Santos teriamos de tirar as EB 23, e já só ficavam três secundárias. Mas os alunos preferem ir para o colégio ou para a secundária de Gondomar. Se não entrarem nestas duas, optam por ir para o Porto, diz a mesma directora, secundada pela sub-directora da secundária de Gondomar (a escola pública vizinha). Portanto, os alunos preferem ir para o Porto do que para as duas secundárias públicas do concelho. Pode ler mais aqui.

Mas eu é que minto!
BW

18 comentários:

  1. Cara Bárbara Wong, desculpe mas dá os exemplos que quer... Venha às Caldas da Rainha e perceba que uma das secundárias está às moscas e que uma EBI se encontra a perder alunos há alguns anos. Escolha dos pais? Não! Porque a partir do 5.º ano as crianças são para lá encaminhadas (5 turmas) e depois já de lá não saem até à conclusão do 12.º. Ah, e é um colégio do Grupo GPS (claro!), situado a uma centena de metros de uma secundária (líder distrital nos rankings há já alguns anos...) e a menos de um quilómetro da tal EBI... No mesmo concelho, há outro colégio do grupo GPS que abriu numa freguesia... rural! Ora, se isto fosse norma, muitos colégios poderiam ser abertos, está claro. Abstenho-me de comentar sobre o que se passa em termos de contratação e condições de trabalho nos estabelecimentos deste grupo porque toda a gente sabe das ilegalidades permanentes (sim, até o Ministério já sabe...). Neste momento, decorre uma acção de completa hipocrisia porque só dizem aos encarregados de educação aquilo que lhes interessa: que não há dinheiro. Pois, não há dinheiro que chegue para alimentar a ganância dos donos... os tais que exploram quem lá trabalha. Será isto um mal nacional? Cara jornalista, e se investigasse isto? Muito obrigado. Fernando Mendes.

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  2. Esse exemplo também está no meu texto de hoje no PÚBLICO em papel, o Dona Leonor fica ao lado da Raul Proença e a Rafael Bordalo Pinheiro tem cursos profissionais precisamente porque os gerais são divididos entre o Dona Leonor e a Raul Proença. A directora do Dona Leonor disse-me que as crianças saem directamente das básicas públicas para ali, salvo erro de três escolas. E reforçou a importância de eu falar com a autarquia, que foi esta que convidou o grupo GPS a abrir aquelas duas escolas. O director da Raul Proença lembrou que no sítio onde está o Dona Leonor estava previsto abrir uma pública, o que a directora da Dona Leonor confirmou e que me recordo de ter lido num jornal regional, em tempos. BW

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  3. Bárbara
    Um mau trabalho do DN. Mas o Governo deve ter gostado.

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  4. A asneira é mesmo da pesada, mas para o 2 lados: «É em Lamego, Viseu, que fica a privada mais isolada do País - a escola básica e secundária mais perto fica a... 25 quilómetros».
    Devem ter confundido metros com km. A Escola Form. Social Rural de Lamego fica a cerca de 2,5 km do centro de Lamego, que tem 3 escolas públicas, 2 das quais secundárias.

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  5. Perdoe-me a intromissão nesta discussão mas, sobre as Caldas da Rainha, permita-me algumas palavras. É verdade que não chegou a ser construída uma escola pública (com ensino até ao 9.º ano) por razões de "insustentabilidade do terreno". Curioso é que nasceu ali ao lado um colégio do grupo GPS (alguns anos depois). Não foi a autarquia quem convidou o grupo GPS a construir os colégios, foi o grupo GPS quem sondou a autarquia para a possibilidade de construção de um colégio (o futuro d. Leonor). A autarquia, ao que sei, sugeriu a construção dos dois (não sei porque razão). Entretanto, há um pormenor importantíssimo: a rede escolar! Havendo duas escolas públicas com nível secundário na cidade, por que razão as turmas dos cursos científico-humanísticos são atribuídas ao colégio? Havia sobrelotação das escolas ao nível do terceiro ciclo mas não ao do secundário! Foi por essa razão que a Bordalo Pinheiro teve de se "transformar" em escola do ensino profissional... Até para dar solução aos muitos horários-zero que foram aparecendo. Lembro-lhe, ainda, que a contratação de professores para os colégios não obedece às regras vigentes para o ensino público. Ora, se estes colégios prestam serviço público, como agora tanto apregoam, seria justo que lá fossem colocados docentes através de concurso público. Conheço casos de professores do ensino público que tiveram de sair do concelho, mesmo do distrito, depois desta abertura dos semi-privados. Última questão... diz que as crianças saem directamente das básicas para o colégio: é verdade! mas não deveriam elas continuar no ensino público quando lá existem vagas? É que há uma escola (EBI) que está, constantemente, a perder alunos e o colégio tem mantido, sempre, ao longo dos anos, o mesmo número de turmas (5 em cada ano, do 5.º ao 12.º). Isto não me parece nada lógico...

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  6. Pois... Isso é algo que cabe ao ME averiguar e corrigir. BW

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  7. No Público:"Escolas públicas dizem que privadas fazem concorrência".

    Pensei que só era possível ter um título destes no Inimigo Público, ou num jornal da Coreia do Norte, mas afinal também é possível em Portugal. A Barbara Wong não tem culpa, o país é que tem. Esta do DN medir quilómetros, ou metros, parte do pressuposto que não há nada de errado naquela frase. Substituam "escolas" por outra palavra (até "hospitais" serve) para perceber o ridículo da frase: é como fazer queixa do Joaozinho porque não me deixa ganhar ao xadrez.

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  8. Pedro Cinzas Lavradio Peres29 de janeiro de 2011 às 10:48

    o problema basico é o dinheiro que pagamos e as condições que estes colegios fazem. por exemplo em viseu o professor passa o recibo de 2500 euros mas recebe mil 500. eu que pago mil euros de impostos por mes não estou disponivel para subsidiar escolas privadas. O meu filho tem e custa 350 euros mes e não precisamos do Estado. se o governo deve subsidiar luxos...Mas enfim o gps deve ter negócios com alguém e depois fretes! se até os sindicatos são criticos alguma coisa está mal

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  9. O sindicatos são críticos? A FNE está preocupada com os professores destes colégios e a Fenprof também, que já fez queixas na ACT e tem processos em tribunal de professores alegadamente explorados. A única nota dissonante é que a Fenprof considera que os colégios têm lucros e é contra um modelo de educação que dê lucro, além de ser forte defensora da escola pública.BW

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  10. A notícia do DN deve ter sido "encomendada por empreitada"!Assim se discute educação em Portugal, ao metro!

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  11. Cara BW,
    Noutra caixa de comentários desse blogue a jornalista afirma que, segundo a OCDE, cada aluno do ensino público custa 5200 euros ao Estado. Tenho visto muita gente a referir-se a este facto, mas nunca encontrei ninguém a linkar o documento oficial de onde provem esta informação. Aliás, sobre este assunto o Santana Castilho escreveu no seu jornal:
    «Os 5.200 euros apareceram propalados na imprensa, vá lá saber-se porquê, aquando da divulgação do estudo da OCDE, “Education at a Glance, 2010”. Mas a OCDE jamais os fixou. O que consta no documento (página 191 da versão inglesa) são 5.000 dólares para o básico e 7.000 para o secundário. Fazendo a média e convertendo em euros, chegamos a 4.500 euros por aluno e por ano. Mas os números da OCDE não expressam valores absolutos, como está bem explícito na publicação citada. Os números estão ponderados pela paridade do poder de compra, método usado em economia para eliminar as diferenças de níveis de preços entre os países e tornar mais fiáveis as comparações internacionais. Ora a aplicação deste método à situação portuguesa aumenta a expressão numérica do custo por aluno. Como os números usados pela OCDE se referem ao ano de 2007, há que ir ao respectivo Orçamento de Estado para os colher sem a tal ponderação. Vemos, assim, que foram despendidos 4.971,7 milhões de euros com 1.313.523 alunos. O que dá um custo médio por aluno e por ano de 3.785 euros.»

    Se não lhe der muita maçada, poder-me-ia linkar a fonte deste número? Trata-se de um valor real ou ajustado ao poder de compra nacional?
    Agradeço a disponibilidade!

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  12. Barbara Wong, diz aí em cima que "cabe ao Estado averiguar e corrigir" determinada situação. Ora, com esta é que fiquei de boca aberta... vai-me desculpar, mas se só ao Estado cabe corrigir, a averiguação também lhe caberá a si, como jornalista, não é?

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  13. Sobre as escolas GPS, o PÚBLICO já fez tudo o que estava ao seu alcance fazer: já falou com a administração que diz que está tudo bem; com alguns professores que dizem que não é bem assim, mas que não dão a cara; com o ME que diz (agora) que está a proceder a uma inspecção, a ACT também. O jornalista investiga, mas não é polícia, nem inspecção. BW

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  14. Barbara, calhou-me simplesmente mal aquela do cabe ao governo averiguar. Se não conseguiu mais, não conseguiu e pronto. Há imensas questões que gostaria de ver respondidas, não só o caso particular do GPS, e continuo a esperar que os jornais investiguem e me esclareçam: custos do público e do privado (quem tem razão, afinal?), lucros do privado; se, em razão dos lucros, se justificam os contratos de associação; se há, afinal, a tal liberdade de escolha, entre público e privado, que os privados agora dizem que está em causa; como se processa a selecção dos alunos no privado; se há selecção também no público, etc etc. Não há condições para um verdadeiro jornalismo de investigação nestas matérias? As barreiras são muitas? Acredito e tenho pena. Mas cabe sim aos jornais ser policia e inspecção. quando lhes dão condições, é claro.

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  15. Custo público/privado: há uns anos, um professor de um colégio de Coimbra, no âmbito (se não me engano) de um mestrado fez essas contas, tendo por base poucas escolas, de quem a DREC facultou os orçamentos e concluiu que ficava mais barato o privado. Mais tarde, a Aeep fixou um valor para o custo do aluno no privado, na ordem dos 4400 euros. De seguida, num relatório da OCDE o custo do aluno no público era de 5200. Mas este ministério veio dizer que não (os dados foram fornecidos à OCDE pelo ministério), que é de 3500 no público, logo fica mais caro que o privado. Recentemente o CDS pediu para que esse estudo seja feito a nivel independente, mas a proposta foi chumbada pelo PS; PCP e BE. `
    Posso eu dedicar-me a descobrir quanto custa? Sim, fi-lo há dias, quando fiz um exercicio de comparação das escolas com contratos de associação que ficam ao lado de escolas públicas, falei com oito escolas, quatro de cada e ainda quem foi falando com mais à-vontade dos seus orçamentos foram as privadas, as públicas não.
    Selecção de alunos: quando chega aos rankings, há sempre acusações das escolas mais fracas que as mais fortes (em termos de resultados) escolhem os alunos; mas quando as últimas são confrontadas com as acusações das primeiras, negam-no. Uma forma de ver se escolhem é através da percentagem de alunos que recebem acção social escolar. Quantos mais alunos receberem, menos escolhe a escola (este é o raciocínio, mas é preciso ter em conta a zona em que esta se encontra...). Sabemos que os colégios fazem essa selecção; os com contrato de associação não deveriam fazê-lo. Por isso, para esse mesmo trabalho perguntei a percentagem de alunos com ASE. Curioso é que nem o Colégio Rainha Santa Isabel, em Coimbra, nem a secundária Infanta D. Maria, na mesma cidade, o sabiam.
    Liberdade de escolha: não existe. A partir do momento em que as regras para "escolha" da escola se cingem ao local de residência ou de trabalho dos pais, não há liberdade de escolha. Depois, os pais furam o esquema como podem. Ainda nesse trabalho que saiu a semana passada no PÚBLICO, tinhamos a directora do colégio Paulo VI, em Gondomar, e a sub-directora da secundária de Gondomar, a confirmar que os alunos se não entrarem no colégio (è a sua primeira opção) ou na secundária, preferem ir para o Porto do que ir para as outras duas secundárias do concelho. São os pais a tentar aquilo que acham que é melhor para os filhos, mesmo sem liberdade de escolha.
    Pedro, com um único trabalho (já feito e publicado) consegui responder-lhe a duas das três dúvidas que coloca. A outra, a do custo, vamos continuar a ouvir os privados a dizer que é mais barato e o ME a dizer que é mais caro. Isto, enquanto não se fizer um estudo. BW

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  16. No post anterior, onde se lê "de quem",deveria ler-se "das quais"; onde se lê: "logo fica mais caro que o privado", deveria ler-se "fica mais barato do que o privado". As minhas desculpas. BW

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  17. « De seguida, num relatório da OCDE o custo do aluno no público era de 5200»

    Mas que relatório é esse? Onde posso encontrá-lo? Os valores são absolutos ou ajustados ao poder de conta? É que tenho a sensação que o país está a discutir uma mistificação (ou mais plausível: algum funcionário do M.E libertou este valor, sem explicar o seu enquadramento, de forma a mostrar o esforço do governo na área de educação; valor que subitamente deixou de dar jeito …)
    De qualquer forma, os custos que interessam não são os médios, são os custos marginais por aluno e por Turma. Os custos médios entram com valores fixos (como os edifícios) que o estado vai ter de assumir de qualquer maneira; relevantes são os custos marginais: fica mais barato ter este alunos e Turmas extra na Escola Pública ou contratar serviços exteriores. Da mesma forma que uma empresa antes de pedir um serviço em outsorcing faz o exercício: «produzir isto vai-nos trazer um custo suplementar de x/ pedir a uma empresa de fora fica y»; não faz médias que incluem a renda de edifício e o preço de maquinaria já existente e subaproveitada, bem ou mal, são custos que a empresa já sabe que tem de assumir. Este estudo parece-me mais importante do que foi rejeitado pelo parlamento.
    (Pergunte a um colega da secção de economia, ou leia a discussão entre o bakero e o esquerdinha radical aqui http://acausafoimodificada.blogs.sapo.pt/493249.html?page=2#comentarios)…
    Já agora, encontrei online vários relatórios de contas (bastante detalhados, alguns incluindo o custo por aluno) de escolas públicas mas a procura destes valores em escolas associadas não foi bem sucedida (além disso existem denuncias de professores de várias escolas associadas que afirmam assinar recibos de quantias que não recebem) .

    Ainda assim, não posso deixar um grande elogio á forma séria e elegante como vejo aprovados neste espaço comentários que questionam aspectos do seu trabalho. Fica-lhe muito bem!

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  18. Duplamente agradecida, quer pelas dicas, como pelo elogio. Este é um espaço de liberdade!BW

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