sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sôbolos Rios que Vão

Li Sôbolos Rios que Vão de António Lobo Antunes , cujas crónicas sempre me fascinaram. Ouvira e lera excelentes críticas à obra e pensei dedicar-lhe algum do meu tempo das férias do Natal. Mas não foi fácil. A escrita é muito hermética. Quem acha que em Saramago escasseia pontuação e se perde nos seus romances, por favor, tenha cuidado com Lobo Antunes. Os leitores mais resistentes, que gostam de se deixar ir com o texto e que, por outro lado, também gostam de esgravatar com unhas e dentes nos textos até chegar à sua essência, então, devem fazer a experiência. Pois foi assim que senti esta leitura: uma experiência. Vários planos ou eixos narrativos, que misturam tempos e personagens, mas que têm em comum esta personagem que enfrenta o flagelo do cancro. Um texto que se me afigurou como um longo anacoluto, aquela figura de estilo, também chamada informalmente de "frase quebrada", pela mudança súbita de rumo que uma frase ou verso toma.

Por último, o título. Um enigma no início, uma dúvida a meio da leitura. Não há qualquer referência a Camões ou ao seu verso ao longo do romance. Mas, no fim, faz sentido. Rios que correm, cada um por seu caminho, todos com o mesmo fim: o mar.

Um romance sobre a vida e a morte, na escrita inconfundível de António Lobo Antunes. Uma experiência de leitura marcante.

Ana Soares

1 comentário:

  1. Concordo consigo, Sôbolos Rios que Vão não é um livro de fácil leitura. Para mim, os livros de Saramago comparados com os de Lobos Antunes são de fácil leitura. Contudo, também é a forma como o autor escreve que o torna único. Adorei o livro, sobretudo porque acho que a personagem personifica muitos de nós. A realidade é que muitas vezes só nos lembramos do passado quando estamos em situações estremas, como por exemplo a lutar por vencer um cancro.

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