sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Os professores no lugar onde têm de estar"

É o título do editorial do PÚBLICO de hoje que reflecte sobre um estudo - que é notícia nas páginas do PÚBLICO - que conclui que factores como a literacia dos pais ou a idade dos alunos contam para o sucesso dos estudantes mas pouco! O que conta de facto é a escola e são os professores!
O problema, diz uma das investigadoras, é que há escolas que estão "à sombra da bananeira", que podiam fazer mais e melhor e não fazem, que podiam "esticar os alunos".

A mim preocupam-me as "escolas fatalistas" que baixaram os braços (ou nunca os levantaram) porque estão mal situadas, os alunos são maus, os pais são piores e não há nada a fazer... O que a IGE através da avaliação externa tem mostrado é que há escolas/professores nesses sítios que se têm esforçado, que criam projectos, que depois até podem ser disseminados a nível nacional.


"(...) torna-se obrigatório insistir no papel insubstituível dos professores na dinamização das escolas e na superação dos problemas específicos do meio envolvente. São eles, afinal, quem faz as escolas de elite, as escolas à sombra da bananeira, as que surpreendem ou as fatalistas, de acordo com a hierarquia feita pelas autoras do estudo. Nestes tempos de depressão e grande desmotivação profissional causada pelas guerras da avaliação e pelos cortes salariais, nunca é de mais lembrar a sua importância e responsabilidade quanto ao futuro do país."


A esta hora os artigos (são três textos) ainda não estão disponíveis no PÚBLICO online, mas está no papel, aquele que se vende nas bancas, papelarias e afins!
BW

13 comentários:

  1. Belo trabalho, Bárbara!
    José Manuel Fernandes

    ResponderEliminar
  2. Falta muito trabalho jornalístico nesta notícia. Uma discordância: http://www.aventar.eu/2011/01/07/o-sucesso-dos-alunos-depende-pouco-do-meio-socio-economico/

    António Fernando Nabais

    ResponderEliminar
  3. O que falta é compreensão! Está lá tudo (no trabalho jornalístico): o estudo é feito com base nos dados dos alunos - idade (se passarem sempre de ano, serão melhores alunos do que os que chumbam), sexo (as raparigas são melhores alunas do que os rapazes), profissão e escolaridade dos pais, taxas de transição no 10.º, 11.º e 12,º anos e resultados nos exames de Matemática e Português. É feito com base em dados da escola - os professores são ou não do quadro (depreende-se que os do quadro têm mais experiência do que os contratados), a taxa de absentismo (um professor que falta não ensina), número de alunos por turma (as turmas mais pequenas são melhores?).
    É com base nestes factores que as investigadoras calculam o valor esperado para o desempenho dos alunos (a fórmula matemática seria complicada de escrever no jornal!) e é com base nesses dados que as mesmas investigadoras definiram as categorias por que dividem as escolas.
    Não me parece que sejam pessoas tão pouco experientes na matéria. Cláudia Sarrico fez trabalhos semelhantes para o ensino superior, em Inglaterra (onde fez o doutoramento) e em Portugal, sob a tutela do Cipes; fez parte do grupo de trabalho que preparou a avaliação externa das escolas pela IGE - o grupo que propôs que dados devem ser recolhidos nas escolas para auxiliar os avaliadores e inspectores a analisar os resultados. Também podemos por em causa os resultados da avaliação externa! Aliás, podemos por sempre tudo em causa! BW

    ResponderEliminar
  4. Espero que não me leve a mal que deixe aqui uma dúvida levantada a um não especialista na leitura do seu artigo:
    O universo de alunos estudados limita-se mesmo aos «resultados dos exames nacionais do secundário de Português e de Matemática e a taxa de conclusão no 12.º ano dos cursos científico-humanísticos, no ano de 2009/2010.»? É que, neste caso, parece existir um enviesamento da amostra. Explico: como uma parte substancial (provavelmente uma larga maioria) dos estudantes nas classes mais baixas abandonaram o ensino após o 9ª ano ou seguiram vias profissionais, vamos imaginar que apenas 45% dos número de estudantes potenciais concluíram o ensino utilizando o percurso cientifico-humanístico; para facilitar o raciocínio (apesar de comprometermos ligeiramente o rigor) vamos dizer que se tratam dos 45% melhores alunos desta classe (quero dizer no percentil de desempenho maior ou igual a 55). Vamos imaginar que nas classes com mais posses a percentagem de alunos que segue pelas vias cientifico-humanisticas rondaria os 75% (penso estar a utilizar estimativas razoáveis). Ora, a partir daqui, a não ser que se tenham tomado algumas salvaguardas técnicas, as comparações ficam irremediavelmente inquinadas: por exemplo se compararmos as altura média dos« 45% dos portugueses mais altos»( mais uma vez no percentil de alturas maior ou igual a 55) com a dos 75% de suecos mais altos também concluiríamos que a diferença de alturas entre os dois povos era pequena (ou mesmo que os portugueses são em média mais altos que os suecos).
    Outro exemplo, muitos brilhantes estudantes portugueses têm bons resultados nas melhores universidades americanas, daqui poderemos extrapolar uma diferença mínima de qualidade entre os alunos das melhores universidades americanas e o aluno médio do ensino superior português (o processo, apesar de se tratar de um caso limite, é fundamentalmente o mesmo, estamos a comparar os melhores de um grupo com uma porção bem menos selectiva de outro) ?
    Como foi acautelada esta questão pelas autoras do artigo? Agradeço desde já os esclarecimentos.

    ResponderEliminar
  5. Sim, o estudo é só sobre o 12.º ano. Era esse o objecto do estudo escolhido pelas investigadoras. Portanto parece-me abusivo dizer que há um desvio da amostra. O que está a dizer é que se podia fazer um outro estudo!
    Um dado curioso deste estudo é que há 77,9 por cento dos alunos do 12.º ano que NÃO tem apoio da acção social escolar (ASE). Portanto, acho que não é abusivo concluir que os pobres, os que precisam da ASE, não chegam ao final do secundário, apenas 22 por cento dos alunos com ASE terminam o 12.º ano. É pouco. BW

    ResponderEliminar
  6. Em primeiro lugar obrigado pela resposta, embora não me parece que tenha sido bem sucedido na exposição do meu ponto, de qualquer forma:

    «Sim, o estudo é só sobre o 12.º ano.»

    12º, fundamentalmente, das vias cientifico-humanisticas se não percebi mal, é que isso faz toda a diferença para o meu argumento

    «Portanto, acho que não é abusivo concluir que os pobres, os que precisam da ASE, não chegam ao final do secundário, apenas 22 por cento dos alunos com ASE terminam o 12.º ano»

    Não lhe parece que essa afirmação contraria o título: «sucesso dos alunos depende pouco de quem são os pais»? ( e sim, para sustentar esta frase acho parece-me necessário outro estudo, este, até por algumas razões que a própria BW aponta, é manifestamente insuficiente.)

    Em parte era aí que eu queria chegar, o efeito dos pais sentiu-se sobretudo antes de chegarem ao 12º ano, os alunos no ramo cientifico-humanistico são, sobretudo, aqueles que conseguiram (por mérito próprio ou empenho dos pais fora do padrão) ultrapassar esse efeito, era a isso que eu me referia quando falava em «enviesamento na amostra»(não estava a insinuar nenhuma manipulação).

    Mais uma vez, agradeço a sua disponibilidade.

    ResponderEliminar
  7. A ASE era um dos critérios que as investigadoras usaram, mas não foi o principal. As autoras construiram uma análise de regressão que lhes deu tendências e dessas foi observado que a escola não tem controlo sobre 30 por cento (reflectido na escolaridade e profissão dos pais e na idade dos alunos). Portanto, as autoras centraram-se nesses dois factores e não no do ASE... BW

    ResponderEliminar
  8. Agradeço a atenção dispensada ao que escrevi e a elevação com que comentou. Fica mais uma proposta de leitura: http://www.aventar.eu/2011/01/08/ainda-o-sucesso-dos-alunos/

    ResponderEliminar
  9. Obrigada, já li! E ía respondendo, mas depois vi que as acções aparecem no lado direito do blog e o meu nome já lá estava várias vezes...
    O que lhe queria dizer é o seguinte: O que pede/sugere é um estudo muito maior e mais completo!
    Mas neste, as investigadoras incidiram nos resultados dos exames de Português e Matemática do 12.º ano e nas taxas de transição de todo o secundário. E só com base em todos os factores anteriormente apontados é que fizeram aquele estudo. Portanto, as conclusões são desses factores e não de outros.
    Quanto ao trabalho jornalistico: Um jornal em papel está sujeito ao espaço, se tenho 4200 caracteres para escrever, tenho de seleccionar informação - o jornalismo é isso mesmo, senão bastava reproduzir o estudo e já estava!
    Não foi propositadamente que omiti as “credenciais” das investigadoras, mas por falta de espaço; assim como não foi de propósito que omiti que o estudo faz parte de um conjunto de projectos submetidos ao financiamento da FCT e do ME, ao tempo da ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues que queria saber quais são os factores de sucesso escolar no ensino básico e secundário; ou outras informações que seriam interessantes como algumas afirmações de directores ouvidos pelas investigadoras nos 12 estudos de caso - tudo isto porque o espaço no papel não é infinito como na Internet! BW

    ResponderEliminar
  10. Uma dúvida: a fórmula pretende prever o resultado médio dos alunos de uma escola, ou o resultado de cada aluno? É que são duas coisas bastante diferentes (a variância não explicada será muito maior no segundo caso do que no primeiro).

    ResponderEliminar
  11. A fórmula pretende prever a média dos alunos da escola.

    ResponderEliminar
  12. Uma fórmula matemática que prevê a média dos alunos da escola?

    E os alunos dos cursos profissionais? E os dos CEF? E os que abandonam a escola antes do 12.º?

    Tudo isto são patranhas. Caso contrário, algum país neste planeta já teria descoberto uma fórmula para «formatar» professores que possibilitassem o sucesso de (quase) todos.

    ResponderEliminar