sexta-feira, 3 de maio de 2013

Os reformados, o 1.º de Maio e o 25 de Abril

O 1.º de Maio da CGTP passa sempre à porta de casa. Da varanda, gostamos de ver os trabalhadores a passar. Sabemos as palavras de ordem e repetimo-las, uns anos por brincadeira, este ano por convicção. E alternamos com a rua. "É preciso, é urgente...", dizem os manifestantes, "... uma política diferente!", respondemos do alto. É ponto de honra não gritar "a luta continua".
"Porque é que são todos velhos?" pergunta ela, fotografando a rua. Lá em baixo passa o SPGL e os dirigentes que conheço há década e meia. Dói-me ver um deles, caminha com dificuldades, agarrado a uma colega ou familiar. Era um homem da luta, do terreno, do "vamos a eles!" e ali vai num passo lento, incerto e, de certeza, doloroso, de uma fragilidade imensa. Força, professor!
"Porque é que são todos velhos?" torna a perguntar. "Porque foram eles que fizeram o 25 de Abril", respondo, sem ter a certeza da resposta. "Quer dizer que quando morrerem não vai haver ninguém para desfilar?". "Não, enquanto houver injustiças e desigualdades há-de haver sempre alguém que vai sair à rua", respondo. "Além disso, os reformados têm sido muito prejudicados pelos cortes deste Governo", continuo. "Sim, mas os professores também e estes são todos velhos...", argumenta ela.
Hoje, ao ver a professora Rosário Gama e os seus companheiros da Apre! no Parlamento a cantar o Grândola lembrei-me do 1.º de Maio. Foram eles que fizeram o 25 de Abril, foram eles que lutaram por mais direitos, por mais condições, por reformas dignas. São eles que continuam a lutar pelas suas reformas, sim, pelos seus direitos, sim, mas também pelos nossos. Assunção Esteves está muito enganada quando diz que cantar o Grândola não ajuda a democracia. Ajuda sim, senhora presidente da AR! Ajuda a mantê-la viva neste marasmo que vivemos em que se procura controlar o 25 de Abril com cantares alentejanos nas escadarias do Parlamento ou com alunos nas galerias.
De regresso ao 1.º de Maio, o final do cortejo é dos jovens e dos artistas. Estou sozinha na varanda. "Venham! Venham! Os novos também se manifestam!", grito para dentro de casa e os outros acorrem para dançarmos ao som dos batuques. Depois, saímos à rua para comer sardinhas com os "camaradas". E isto também é democracia.
BW

1 comentário:

  1. Afinal de contas, democracia é tudo um que um povo faz sem prejudicar-se, em nome de todos. Até a experiência de rua é uma forma de democracia.

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