terça-feira, 28 de maio de 2013

Os pais, esses malandros que ficam sempre do lado dos filhos...

Em duas circunstâncias diferentes, em duas escolas diferentes, ouço a mesma queixa, igual:
Recebemos alunos de classe média e média alta, mas o pior de tudo são os pais. Os pais que se demitem porque têm vidas muito ocupadas mas que depois, quando há um problema, vêm à escola. Vêm para questionar o professor, vêm para pôr o professor em causa porque acreditam em tudo o que os filhos lhes dizem.
Nas sessões de O meu filho fez o quê??? digo sempre que nós, pais, somos manipulados por eles, filhos. Quando o afirmo faço uma pausa ligeira e observo os rostos à minha frente. Há pais que acenam que não com a cabeça ou que encolhem os ombros com a dúvida. Continuo: Somos manipulados quando ele fez um disparate e começa por contar ao progenitor que vai ralhar menos ou que vai compreender a situação e explicá-la ao outro que iria ralhar. Somos quando ela quer sair e pede àquele que vai dizer que sim. Neste momento, os mais incrédulos concordam e sorriem.
É um facto, eles manipulam-nos e, por isso, devemos sempre questionar o que nos dizem. Há miúdos que são calculistas (o que não é sinónimo de "maus", mas de inteligentes, de teremo visão para além do breve prazo) e nós temos de conhecer os nossos filhos e perceber quando nos querem enganar/manipular.
"A professora gritou contigo, mas tu fizeste o quê?", devemos perguntar.
A escola aplaude que os pais façam o escrutínio do que é realmente importante reportar-lhe. A escola agradece que os pais não vão lá para gritar, discutir ou pôr em causa. Mas... a escola não pode ficar contra os pais que vão lá colocar questões pertinentes, que se vão queixar porque um professor está a faltar há três semanas; que se vão queixar de um professor que abusa do seu poder em sala de aula e aterroriza os alunos; de um professor que alegadamente abusa sexualmente de uma criança; de um professor que não sabe ensinar.

Em duas circunstâncias diferentes, ouço histórias sobre penteados de rapazes, contadas por colegas de turma dos mesmos:
1) Numa sala de aula, um aluno faz uma pergunta idiota para fazer rir a turma e a professora responde-lhe: "Com esse cabelo de menina parece-me que está a ficar burro" – a professora ainda não leu todos os estudos e todas as estatísticas que indicam que as raparigas são melhores alunas do que os rapazes! Pode uma professora chamar burro ao aluno? O problema fica resolvido com uma agressão verbal? O que pensam todos os alunos que a ouviram chamar burro ao colega? É uma profissional em quem vão confiar ou já traçaram o perfil da senhora e que não é nada abonatório? E o rapaz em questão: digeriu bem as palavras ou entranhou-as e está convencido que é burro?
2) No final da entrega de um teste, o aluno pergunta à professora se uma das questões foi bem avaliada. A professora responde-lhe que sim e que ele só não vê por causa do cabelo. "Se não tivesse essa franja, veria que a resposta está bem corrigida. Porque é que não vai cortar o cabelo? Vou falar com a sua mãe para lhe cortar o cabelo a pente zero". O rapaz de 12 anos, bom aluno e que quer ser médico não se intimida: "Professora o meu cabelo não tem nada a ver, só gostava que me dissesse se corrigiu bem esta pergunta." Resposta da docente: "Vou mesmo falar com a sua mãe." O que é que esta profissional transmitiu ao aluno que se atreveu a pôr em causa o seu trabalho?

Os professores adorariam que os pais ficassem sempre do seu lado mas nem sempre isso é possível. Os pais podem e devem educar os seus filhos, chamá-los à razão quando se portam mal, quando são malcriados, quando estão desinteressados na sala de aula, quando não estudam. Contudo, os pais também devem perceber o porquê desses comportamentos – o que está por detrás? E a razão pode mesmo estar no professor!
"Onde é que fica o limite da intervenção dos pais?" – a pergunta de um pai de Aveiro continua a perseguir-me. E se a "culpa" do mau comportamento, do desinteresse, do insucesso é do professor? Se chegarmos a essa conclusão, não vamos à escola? Não questionamos a escola? Não a ouvimos? Nada fazemos porque temos medo da retaliação – "o professor tem a faca e o queijo na mão", ouço nas sessões com os pais – e que essa seja sobre os nossos filhos? Sim, porque às vezes os professores retaliam sobre os nossos filhos e não é nada agradável ver como estes sofrem com isso, como nós sofremos. Mas, por tudo isso, não fazemos nada?
BW

4 comentários:

  1. Muito obrigada por este post. É importante alertar os pais para os sinais que os filhos vão enviando aqui e ali - muitos destes têm de facto origem no professor. O meu filho de 9 anos (4º ano), há cerca de 1 mês, chegou a casa apanhou numa tesoura de costura e cortou a franja porque o prof. de ginástica lhe tinha dito nessa manhã que, "com aquela franja nem conseguia correr quanto mais fazer o pino..."
    Como em todo o lado, há bons e maus professores, mas nada me choca mais do que ver um mau professor, perfeitamente convencido da sua tese e ação, indiferente aos alunos - às pessoas - que tem diante de si.

    Joana (mãe)

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  2. Vamos agora começar a dizer mal dos médicos ou dos jornalistas?
    Só para variar...

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  3. E se a pergunta fosse: Vamos lá reflectir sobre as nosssas práticas e perceber o que fazemos bem e o que fazemos mal? E isto é válido para todas as profissões, todas.
    Os professores estão mais expostos do que os outros profissionais? Estão. Quando um professor falta durante um dia e se nesse dia der aulas a 100 alunos, haverá 100 alunos que chegam a casa e o dizem a 200 pais que vão contar a 400 avós e assim nasce o mito "dos professores estão sempre a faltar" (dou sempre este exemplo quando vou às escolas, desculpem quem já o ouviu ou leu...)
    Quer dizer mal dos jornalistas? à vontade, desde que seja objectiva. O que relato são dois casos que aconteceram em duas salas de aula, em dois pontos diferentes do país! Dói saber que há colegas que são más profissionais, que fazem da sua prática o terrorismo? Acredite que dói mais aos meninos e aos pais. BW

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  4. Não vou dizer mal dos jornalistas nem dos médicos. Nem de quem trabalha. Porquê estarmos sempre uns contra os outros? E nestes tempos tão difíceis!
    Muito menos dos professores!
    Deixo todos os dias os meus filhos na escola. E não confio na instituição??? Nesse caso não os deixaria lá!

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