segunda-feira, 19 de abril de 2010

30 horas depois...

Foi assim e assim.
A comitiva era grande e foi convida pela ex-ministra e actual eurodeputada Maria da Graça Carvalho, para um encontro de três dias. A professora universitária foi incansável e bem sucedida na tentativa de tirar-nos de Bruxelas. A sua equipa procurou, procurou e encontrou uma empresa de transportes espanhola que nos traria para Lisboa por terra, na impossibilidade de viajar de avião. Ao longo da viagem, Graça Carvalho foi mantendo-se a par do que se passava, preocupada com o nosso regresso. Muito obrigada!

Sábado: A partida estava marcada para as quatro da tarde mas só às cinco é que o autocarro de origem espanhola chegou à porta do hotel, em Bruxelas. Salvo erro vinha do Luxemburgo.
Na primeira paragem prevista, o primeiro atraso. Foi pedido a todos que demorassem o menos tempo possível e que cabia à consciência de cada um não prejudicar o objectivo comum: chegar o mais rapidamente a Lisboa. Eu e a colega do DN saímos numa corrida porque ao lado estava estacionado outro autocarro de onde descia uma excursão de séniores. Não me envergonho de dizer que ultrapassei as velhinhas (não derrubei nenhuma!), tudo em nome do bem comum!
Depois da maioria fazer o que tinha a fazer, da casa-de-banho às compras de comida para a viagem, e de estar sentada na camioneta, faltava um elemento. A espera foi de minutos que pareceram horas. Finalmente o futuro profissional de saúde dignou-se em aparecer, passo descansado e, ao entrar não lhe pareceu necessário pedir desculpa pelo atraso, pelo contrário ficou indignado com a possibilidade de o deixarem ficar para trás. Está a começar o estágio sobre "como deixar os doentes várias horas à espera sem culpa porque sou um senhor doutor, um pequeno deus que tenho nas minhas mãos a vida dos outros que devem agradecer a minha existência".

Como não há quem não se conheça e viajavamos em direcção a Paris foi pedido para pararmos no aeroporto para apanharmos alguém com o meu destino de viagem que nós. Lá fomos. Não foi bem um desvio mas o desconhecimento dos motoristas espanhóis do aeroporto francês fez o autocarro andar às voltas e às voltas, a entrar e a sair de terminais vazios, onde não se via uma única pessoa, carro, táxi, aquele movimento de um aeroporto internacional, mais de hora e meia. Novo atraso.
Parados à beira de uma bomba de gasolina para os motoristas se revezarem, um grupo de dirigentes estudantis insiste que tem que fumar. Na bomba?!? Devem ter faltado àquelas aulas onde se ensina que há liquídos inflamáveis.
À mais pequena paragem são os primeiros a levantar a voz devido às suas necessidades tabágicas e mostram-se bastante irritados - pouco habituados a ser contrariados, afinal são pequenos líderes -, quando lhes é dito que não e o não é justificado.

Às primeiras horas, a irritação grassa entre a parte da frente do autocarro onde estão os professores, os jornalistas e os ex-dirigentes associativos, estes têm as suas profissões, alguns quadros superiores, e que os anos deram-lhes bom senso, calma e a experiência política lhes trouxe um saber fazer, um levar a água ao seu moinho de maneira diplomática e educada; e a parte de trás, os actuais líderes, os que se forem entrevistados falam o "estudantês" e revelam grande conhecimento das leis, dos seus direitos e afins; mas que na vida real percebem muito pouco de deveres, de humildade, de solidariedade, de convivência, de viver em sociedade, com berço político mas o que beberam no leite materno foi somente a arrogância de quem acredita que é superior porque é filho do presidente da junta (não necessariamente do presidente da junta, mas lembrei-me várias vezes do Herman) e que a política é a bela arte de auto-promoção. Apesar de não ser do mesmo partido, o tal administrador da PT será certamente um modelo de vida para estes meninos.

HÁ EXCEPÇÕES, felizmente não eram poucas e ainda bem! Há rapazes excelentes, educados, bem dispostos, conciliadores. A esses desejo-lhes as maiores felicidades e votos que consigam vingar profissional e politicamente porque poderão contribuir para um país melhor.

A viagem foi correndo pela estrada fora, o dia sucedeu à noite, mais paragens, melhor convivência e tolerância entre as partes, mais alguns infortúnios como a falta de papel higiénico ou de água em determinadas estações de serviço, o dormir menos bem, a comida de plástico (não tivemos direito a catering como a comitiva do PR!), o inchaço do corpo e 30 horas depois (mais oito do que estava previsto) chegamos a Lisboa. Feliz por estar de regresso!
BW

1 comentário: