segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma escola sem testes

Este foi um fim-de-semana como há muito não tinha: descansado, sem stress, com sol, sem trabalhos de casa, sem preparação para testes que foram às dúzias, nas últimas semanas. Tudo isto porque daqui a quatro dias termina o 2.º período.
Ao contrário de mim, creio que muitos professores tiveram mais um fim-de-semana de trabalho, com correcções de testes. Estes professores, imagino, não viram o sol, não descansaram, não almoçaram com os amigos, não ficaram na conversa a ver as crianças a brincar. Nada disso, estiveram em casa, fechados, a corrigir, a contabilizar percentagens, a abanar a cabeça com a ignorância dos alunos...

Por isso, sugiro: nada de testes! Não façam testes aos miúdos! Há outras maneiras de avaliar como os trabalhos individuais e os de grupo, de preferência todos feitos na escola! Boa?

Deste modo não há testes para levar para casa e corrigir; só trabalhos que podem ser avaliados durante a sua manufactura. E, assim, a escola prepara os alunos para o dia-a-dia, para o mercado de trabalho, onde somos avaliados, diariamente, pelo que fazemos, pelas ideias que temos e não através de testes onde mostramos que, na teoria, sabemos (ou não) a matéria toda, para a esquecermos mal saímos da sala de aula.

Uma escola sem testes era um alívio para alunos, professores e pais.

Aqui fica a sugestão! BW

19 comentários:

  1. O mesmo princípio pode aplicar-se ao ensino superior.

    Os exames são excrescências estatais.

    Para que todos os trabalhos sejam feitos na escola, ou se reduzem os programas a um mínimo de conteúdos, ou os alunos ficam 14 horas na escola. And so on...

    De si esperava muita coisa, agora esta tirada... a não ser que esteja a ser irónica.

    Haveria tanto a escrever sobre este «post», mas não vale a pena gastar tempo com tanto disparate. O que saberia eu, hoje, se, quando estudei, estas teorias modernaças fossem aplicadas?

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  2. O "post" foi um misto de confissão (sim, eu tive MESMO um fim-de-semana fantástico, graças a não haver testes esta semana - dois filhos no 3.º ciclo é duro porque nós somos daqueles pais que os acompanham, os ajudam a estudar, os mandam estudar, verificam se estão mesmo a fazê-lo, perguntam a matéria, etc), e de provocação.
    A segunda, pelos vistos, funcionou!
    BW

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  3. Mais um post de um avançado mental. Os meus alunos fazem vários testes todos os períodos e deviam fazer um exame exterior à escola todos os anos.

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  4. É curioso que no Facebook os meus amigos professores acham boa ideia. Um dos professores escreveu: "Este trimestre, numa das disciplinas que trabalho, não realizei qualquer tipo de teste tradicional. Os melhores alunos estiveram ao seu nível, mas os menos "bons" subiram IMENSO no seu desempenho "não escrito". É uma necessidade urgente - seguir outras metodologias de avaliação."
    E há outra professora que diz: "É para já, urgente mesmo, é diversificar os instrumentos de avaliação; embora esse caminho já vá sendo seguido aqui e ali..."
    Devem ser uns "avançados mentais"!
    BW

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  5. Portanto, Bárbara, se os seus meninos não realizassem testes ao jeito dos vetustos e atrasados tempos, não estudariam.

    «...só trabalhos que podem ser avaliados durante a sua manufactura.» Hã? Até o vocabulário remete para a ideologia «empresarial», de «mercado». A escola é uma linha de montagem, correcto? «E, assim, a escola prepara os alunos para o dia-a-dia, para o mercado de trabalho, onde somos avaliados, diariamente...». Palavras para quê? Seguindo a sua «provocação», disciplinas como a História, a Literatura, a própria Filosofia são absoloutamente dispensáveis porque não contribuem para a preparação para o mercado de trabalho. De facto, qual foi a utilidade da aula de hoje de 10.º ano, em que reflectimos sobre a imagem modelar da mulher no tempo de Camões, confrontando as «Trovas a Bárbara» com o sonetos «Ondados fios de ouro reluzente»? Para que serve isto?

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  6. Professor(a), está muito zangado(a). Desvalorize, faça o que disse no seu primeiro comentário: "não vale a pena gastar tempo com tanto disparate".
    Mas respondo-lhe sem provocações e a sério: Os "meus meninos" estudam, um mais do que o outro, mas fartam-se de estudar e nós com eles. Custa-nos a todos? Custa. Há coisas piores? Há. Mas o que lhe digo aqui, nesta caixa de comentários, não lhes digo a eles. O discurso é sempre o de "que bom é estudar", "estuda porque é importante", "esforça-te, aplica-te", etc.
    Pergunto-lhe: Se fizerem trabalhos que sejam avaliados em sala de aula também estão a aplicar o que estudam ou não? Sinceramente, não percebo essa dicotomia que tem tanta necessidade de fazer entre: testes e exames é sinónimo de estudo; não os fazer significa que não se trabalha.
    Acho que não é bem assim e a prova é que há muitas maneiras de aplicar a avaliação que não seja apenas através dos testes.
    Na minha experiência de aluna até ao secundário, os testes sempre avaliaram a minha capacidade de memorização e nada mais. O teste servia para eu debitar matéria. Um trabalho, individual ou de grupo dá trabalho (passo a redundância), exige que eu pesquise, que aprenda além do que o professor me ensinou na sala de aula. E, lembro-me, também era exigente para o professor. E, no nosso tempo não havia Internet, de maneira que lá levávamos calhamaços para a aula ou íamos para a biblioteca da escola fazer pesquisa (numa altura em que a minha casa estava mais bem apetrechada que a biblioteca, que não havia programas de rede das bibliotecas ou plano nacional de leitura).
    O dever da escola não é enfiar-nos matéria na cabeça, mas ensinar-nos a pensar. Por isso, jamais tiraria dos programas as disciplinas que, acredito, mais contribuem para que sejamos seres humanos conscientes, responsáveis, mundividentes, etc. As disciplinas que enumera, em muitos países, são as que fazem a diferença na selecção de candidatos para um emprego, são a "mais valia". Portanto, não ponha na minha boca coisas que não disse.
    BW

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  7. Mais uma coisa: a escola é uma linha de montagem quando a única forma de avaliar são os testes e os exames. Quantos professores não fazem um teste novo há anos, que põem à frente dos alunos o mesmo teste - os alunos são diferentes, a matéria é a mesma... Quantos professores não dão a matéria a correr para poder aplicar o teste que têm em carteira, para aquela altura do ano? Eu conheci e conheço alguns. BW

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  8. Bárbara, de certo que os professores que comentaram esta Sua sugestão defendem também a avaliação dos professores com unhas e dentes…….Não acredito que tenham dois pesos e duas medidas.
    Experimente um post a defender ou a atacar (é indiferente) a avaliação de professores, e garanto-lhe que em vez de 10 terá 100 comentários nessa caixa!

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  9. Apesar de afinal ser só provocação, concordo inteiramente consigo.
    Os testes avaliam muita coisa, mas os trabalhos avaliam, quanto a mim, muito melhor a autonomia, o espírito crítico e, também, os conhecimentos... e era bom que a escola servisse para cultivar essas qualidades.

    No meu tempo (segunda metade dos anos 70 e 80) começava-se a fazer trabalhos em sala de aula, mas os testes eram o prato forte do ensino. Lembro-me de chegar ao secundário, na segunda metade dos anos 80 e, depois, ao superior, e morrer de medo de fazer um trabalho. Era preciso muito mais esforço, tempo e "personalização" para sair bem feito. Os testes, e os exames, eram um alívio, principalmente para quem tinha boa memória e escrevia clara e correctamente.

    O que aprendi ao longo desses anos todos foi mais ao lado do que dentro da escola... Mas quando se passa tanto tempo na escola, se tem tantos trabalhos de casa, tantas disciplinas, tantas fichas, tanta tralha, enfim, é cada vez mais difícil ter tempo e disponibilidade para aprender FORA da escola.
    Por isso, penso que são cada vez mais importantes os trabalhos (de grupo ou não), os debates orais, os ensaios... para que aquilo que íamos absorvendo por aí, nas leituras e conversas que tínhamos tempo para ter - depois de decorado o manual ;) - possa ser absorvido também hoje, mesmo que na escola.

    Também tenho tido, pela primeira vez este ano em que o meu filho mais velho entrou no 2º ciclo, os meus fins-de-semana (meio) estragados. Raríssimas vezes tem sido para o ajudar nalgum trabalho. Muitas vezes tem sido a forçá-lo a fazer só mais um exercício de matemática, ou a classificar morfologicamente só mais umas quantas palavras de umas quantas frases... Na Matemática e na Língua Portuguesa compreendo (e aplico!) a necessidade de repetição e/ou memorização. Mas assegurar que reproduza de forma fiel e inteligível o conteúdo dos manuais de ciências e de história já não me parece tão interessante, útil ou edificante...

    Marta Amaral

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  10. Marta, ao lê-la, lembrei-me de uma coisa: os meus primos estudaram nos EUA (eu sei que não são exemplo, que estão mal como nós) tinham imensos trabalhos que eram projectos, que eram expostos em feiras na escola; tinham trabalhos orais e defesa dos mesmos em auditório, na presença das turmas do mesmo ano e das famílias. Isso são coisas que eu não fiz (também frequentei a escola na mesma altura que a Marta) e que, hoje, muitos alunos neste país não fazem. BW

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  11. Bárbara, era precisamente no modelo americano que pensava... tenho amigos americanos com filhos da idade dos meus que fazem precisamente isso... e eles próprios, no seu tempo, o faziam... Mas sei que também nos países nórdicos e nos outros anglo-saxónicos se aprende muito dessa maneira...
    Há um blogue americano, dirigido um pouco à comunidade homeschooler mas aplicável a qualquer pessoa, de qualquer idade, que queira aprender que me parece muito estimulante:

    http://www.whiteoakschool.com/

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  12. Anónimo, não estabeleça ligações tontas entre a avaliação docente e a dos alunos do modo como o fez. Mas também lhe digo que, antigamente, para aceder aos últimos escalões da carreira, era necessário defender publicamente um trabalho de investigação.


    Bárbara:
    1.º) As conclusões que retirou do que escrevi relativamente à relação entre testes / exames e estudo são suas, não minhas;
    2.º) Certamente que é função da escola TAMBÉM enfiar-nos matéria na cabeça. É impossível ter espírito crítico, ser capaz de argumentar, de ter uma postura criativa sem conhecimento, que é o que igualmente está aqui em questão, até porque a Internet não é o sétimo céu. Para que preciso eu de saber que o primeiro rei de Portugal foi Afonso Henriques?
    3.º) Penso que muito poucos defenderão, hoje, um método educativo semelhante ao que submeteram o Eusebiozinho. Eu, certamente, não sou um deles.
    4.º) Não estou zangado. Estou é cansado de sermos bombardeados, na escola, constantemente, com teorias, inovações, teorias e inovações que vão melhorar a educação - que deveria ser designada por instrução - ao sabor das marés e das cabecinhas pensantes das ditas ciências da educação.
    5.º) Como muito bem reconhece, os EUA não servem de exemplo. Basta reflectirmos sobre o que querem fazer ao Huck Finn, ou o que 41 estados decidiram recentemente sobre o treino da caligrafia. Eu também tenho familiares radicados e que me contam uma versão mais «colorida» dos «essays».
    6.º) Para concluir: estou mais de acordo com parte do que escreveu do que parece. Os meus alunos são obrigados (é o termo correcto, lamento) a apresentar trabalhos, leituras, etc., oralmente e por escrito. Por outro lado, os critérios de avaliação da minha disciplina, por decisão da maioria dos profs., estipulam uma percentagem que varia entre 0s 70% e 80% para os testes de avaliação. Eu faço batota: conto como testes determinados trabalhos que eles fazem - sob minha orientação e fora da sala de aula - e que lhes anuncio como tal. Também os avalio quando lhes digo: escolham um poema / texto qualquer que vos apeteça, tragam-no para a aula, leiam-no para todos e, se quiserem, expliquem porque o escolheram, o que vos diz, etc. São só alguns exemplos.

    Para finalizar, e agradeço a paciência, o que eu não gostaria é que se espraiasse à Escola a ideia de que os testes são dispensáveis. Não concordo. Tenho os CEF e os cursos profissionais para provar como essa filosofia é errada. Péssimo exemplo, é certo. O tempo me dará - ou não - razão.

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  13. Que bom lê-lo (a partir do ponto seis)! Obrigada pela partilha. E não acho os testes dispensáveis, só acho que contam demasiado.BW

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  14. Cara Marta Amaral, um pequeno comentário ao seu comentário, A Matemática é, por excelência, a disciplina do raciocínio. E, portanto, aquela em que menos há necessidade de memorização.
    O problema é que a matemática é ensinada, até ao secundário (e não só em Portugal, mas também nesses países que refere) de uma forma que é extremamente redutora desta disciplina. E que esconde dos alunos a sua beleza. Em particular, quantos alunos de nível pré-universitário sabem o que é realmente a Matemática e sabem que o essencial desta disciplina não são números ou equações mas sim racioncínios e *provas*.
    Não admire que muita gente deteste matemática, apesar de ser uma das disciplinas mais belas, quando estudada a sério...

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  15. Caro(a?) Carlio,

    Concordo inteiramente, o que eu escrevi foi repetição (de exercícios, de problemas, de padrões!, para a Matemática) e memorização (da gramática e da nomenclatura do "funcionamento da língua") para a Língua Portuguesa. Para aprender realmente uma e outra é óbvio que é preciso muito mais do que essa base inicial, mas o raciocínio matemático sem se saber fazer contas de dividir ou conversões de medidas, por exemplo, com rapidez e agilidade fica um pouco... abstracto demais.

    Na escola do meu filho fazem um desafio mensal (de adesão voluntária)aos alunos de todo o 2º ciclo que consiste na resolução de um jogo/enigma matemático. O meu filho, que é bom aluno a matemática mas que precisa de exercitar muito os conhecimentos que vai adquirindo até os ter bem sólidos, resolve o jogo/enigma sem qualquer pressão no próprio dia em que o recebe... E a Matemática também é esse jogo, claro.

    A minha questão tinha mais a ver com o "empinanço" de matérias que vêm nos manuais de Ciências da Natureza e de História, e até de Educação Física (!!!!), e o pouco que os miúdos, em geral, põem "a mão na massa" nessas disciplinas.

    Marta Amaral

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  16. Lembro apenas, já que se fala de 3º CEB que há disciplinas com apenas 90 minutos semanais. É impossível nestes casos abordar as matérias previstas nos programas e ao mesmo tempo fazer trabalhos de pesquisa ou de projecto.

    Claro que se pode avaliar sem testes, e eu já o tenho feito em turmas não regulares. Mas com o ensino atomizado em disciplinas e massificado que temos actualmente, pura e simplesmente não dá.

    A não ser que se parta para aquilo que se tem tornado uma especialidade do nosso país, e em que os últimos governos têm investido fortemente: o fingir que se faz, o fingir que se avalia. Manipular a realidade, ficcionar um mundo que não existe, uma escola exigente de meninos felizes, professores motivados e reconhecidos no seu trabalho e o grande timoneiro que pôs tudo isto a funcionar!

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  17. Caro António Duarte e outros professores: E agora uma pequena/grande provocação - e se tirássemos umas disciplinas? Isso é que era! Para quê História e Geografia? Porque não manter a História e Geografia juntas, como no 2.º ciclo. Para quê Ciências da Natureza e FQ? Quando há matérias (quer no 7.º como no 8.º, pela minha experiência de mãe) que são as mesmas, mas vistas de pontos de vista diferentes?
    Ou então: E se fossem feitas semestralizações? Tal como acontece com Expressão Dramática (ED) e Educação Tecnólógica (ET)? Metade do ano, os alunos têm ED e a outra metade ET. Assim, em vez de 90 minutos semanais, é possível ganhar mais uma horinha e fazer trabalhos, em vez de testes! (mantendo exactamente a mesma planópia de disciplinas). BW

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  18. Bárbara,

    É precisamente isso - menos disciplinas e mais tempo e profundidade para cada uma das poucas que deveriam ficar - que deveria ser a Escola.

    Passe o tom pomposo da coisa, dar instrução, nos 2º, 3º ciclos e no secundário, deveria ser ensinar o método das Ciências (Física, Química, Ciências da Natureza) e da Matemática (e como lembrava um prof acima, há tanta coisa que é Matemática) e depois ler muitos livros: literatura portuguesa e estrangeira, história, filosofia, antropologia, geografia...

    OK, dream on, babe! ;)

    Marta Amaral

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  19. E nas áreas das "Expressões", e na Educação Física, por que não abolir os manuais e os testes e, como o nome indica, passá-las a disciplinas apenas e fortemente práticas?
    Em geral, valha-nos isso, as escolas actuais parecem estar bem apetrechadas de ginásios e espaços ao ar livre, de estiradores e de material de expressão plástica... e não faltam miúdos que sabem cantar/dançar/representar...

    Marta Amaral

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