Lá deve estar MST e mais uns tantos portugueses a achar que os professores já estão de férias. É verdade que já não temos alunos esta semana. Em vez disso, temos os dias preenchidos por montanhas de papéis: folhas de auto-avaliação; justificações de classificações; propostas de apoio para o 3º período; análises estatísticas sobre resultados; planificações de actividades, visitas e ajustes nos programas que se têm de cumprir; cruzes para pôr em processos individuais de apoio; informações para os encarregados de educação. São dias interiores de reuniões. Às vezes sem ver a cor do sol. Reuniões umas atrás das outras. Sair de uma porta e entrar na outra ao lado. E no meio disto tudo, as vidas dos nossos alunos. A importância da palavra certa para descrever um comportamento, a melhor decisão para aquele aluno, que não é igual à melhor decisão para o seu colega do lado. Estamos já no fim de mais um período escolar, é verdade. Mas o trabalho ainda não acabou.
Ana Soares
Sei que não é a sua opinião, mas quem lê isto parece que a Ana acha de algum modo estranho estranho ou exagerado os professores também trabalharem...
ResponderEliminarTer os dias preenchidos é o que devia ser normal... Não algo que se faça parecer como exploração...
(outra vez, sei que não a sua opinião, mas apenas o que parece ao ler o texto)
eu acho que é uma resposta àqueles que pensam que, chegadas as férias dos alunos, os professores também estão de férias. No fundo, a uma amiga que encontrámos há dias e que perguntou/constatou: "Estás quase de férias!" A verdade é que muitos, muitos pais põem férias nestas semanas. BW
ResponderEliminarÉ verdade Ana, muito boa gente continua a achar isso mesmo e ainda pior. Leu a opinião de Daniel Sampaio sobre a escola problemática? Lá ele diz "os alunos com problemas de aprendizagem são enviados para aulas de apoio sem uma verificação criteriosa das suas insuficiências..." e por aí fora...
ResponderEliminarEste é um trabalho criterioso que os professores fazem com o máximo de cuidado durante no período de paragem lectiva... só que é um trabalho que ninguém ou poucos (re)conhecem, infelizmente.
Para ler a opinião de Daniel Sampaio (texto integral): http://revisitaraeducacao.blogspot.com/2011/04/opiniao-de-daniel-sampaio-sobre-escola.html
Ana, ainda presta atenção à «opinião» de um dos últimos representantes do marialvismo?
ResponderEliminarRelativamente ao 1.º comentário, eu tenho os dias e variadíssimas noites preenchidos. Ah, e tenho família e tal, como muitos outros, a quem não presto a devida atenção e não acompanho como deveria porque tenho os filhos dos outros para atender.
JJ
ResponderEliminarnão acho estranho os professores terem dias cheios de trabalho, claro! Acho estranho é o trabalho de "back stage" não ser reconhecido. E é esse trabalho que se faz (ou deve fazer) nestes dias de paragem.
Creio que acompanhou o meu raciocínio que, como a BW refere, vem na sequência destas abordagens sobre o tema "férias"...
BW
é isso mesmo!
Fátima
De acordo!
ALopes
não lhes presto atenção, mas sou regularmente confrontada com eles e com comentários, ainda que ingénuos e sem más intenções, sobre a vida fácil dos professores...
PS - Hoje foram 11h seguidas na escola. Ponto.
Caro ALopes, a frase "tenho os filhos dos outros para atender" resume bem o sentimento de muitos professores relativamente aos seus alunos. Ainda hoje, no café, ouvia duas professoras a queixarem-se e lá usaram uma variante dessa expressão: "aturar". O meu pensamento imediato foi: "Mas não é esse o vosso trabalho?", para depois reflectir: "Sim, o vosso trabalho deveria ser instruir os filhos dos outros e não aturá-los, mas uma coisa está completamente ligada à outra, não há volta a dar..." Nos dias que correm, e que correrão, "atender" ou "aturar" os filhos dos outros parece-me que vai ser uma tarefa cada vez mais intensa - este "outros" é dito com algum desdém (por si e por aquelas senhoras professoras que bebiam o seu café), os "outros" nem sempre têm a culpa dos filhos que têm, são os filhos dos "outros" que hão-de pagar as reformas a muitos que os não tiveram - .BW
ResponderEliminarLamento, Bárbara, mas não lhe reconheço, pelo que escrevi, a capacidade para subentender o «desdém» de que fala. Até porque alguém «atende» ou «atura» os meus.
ResponderEliminarPor outro lado, enquanto se «aturam» não se ensinam, que deveria ser a tarefa essencial da escola, mas não o é, nem eles deixam ensinar os que querem aprender e evoluir.
Para concluir o «molho de brocos» (como dizia a mãe de um aluno há semanas) por si iniciado, sobretudo a partir do meio, enquanto o pensamento dominante for o de que a escola serve para aturar e não para ensinar, nunca saíremos do buraco em que caímos; enquanto não investirmos na família a sério, sem ser na base da subsidiação, e na sua responsabilização, nada irá mudar. A menina «C» foi considerada problemática pelo CT, que tomou uma série de medidas: não resultaram. Envolveu os SPO: não resultou. Envolveu a CPCJ: não resultou. Envolveu o Ministério Público: não resolveu. E agora? Um de nós terá, quiçá, de ir buscar a jovem e trazê-la para nossa casa. Percebe? Claro que sim! (Sem desdém ou ironia.)
ALopes tem toda, toda a razão: 1) enquanto se aturam, não se ensinam. 2) investir na família para que a escola seja realmente um espaço de ensino. A questão é mesmo essa: como se investe na família? As políticas têm todas sido direccionadas para os subsídios e para a escola. À escola é pedida a responsabilidade de educar também as famílias e há direcções de escolas que têm vindo a assumir essas funções, com as escolas de pais, com cursos para pais, com a procura que se envolvam em actividades. Diz um estudo, encomendado pela ANQ, que as novas oportunidades vão contribuir para que as famílias dêem outra importância à escola. Ao menos que sirvam para isso. E desculpe os meus "subentendimentos". BW
ResponderEliminarEu penso que não é por acaso que muitos portugueses, sobretudo os pais, pensam que os professores têm férias "a torto e a direito". Hoje, de facto, vejo os professores dos meus filhos trabalharem e muito e, alguns, com eficiência e dedicação. No entanto, ainda me recordo do meu tempo, há 20 anos, numa escola pública em LX, um antigo liceu, por sinal, em que durante as interrupçoes lectivas era ver os profs. desaparecerem para as suas terras ou simplesmente não comparecerem ao serviço, com grande tranquilidade e sem consequências maiores. O "prof. baldas da escola pública" pode ser uma caricatura mas, repito, não é por acaso...
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