domingo, 17 de abril de 2011

A autoridade dos professores

Como professora, às vezes não me apetece falar de educação nem de escola. Sobretudo com pais. Estamos de fim-de-semana, fala-se das notas ou escola dos miúdos e lá começa o rol de queixas acerca dos professores. Ora a professora que mandou ler um livro que não há nas livrarias, ora a professora que na aula de expressão plástica não ajudou a criança a fazer a boneca de trapos. E conclui-se a conversa dizendo "E, para a professora aprender, lá fizemos em casa uma boneca mais bonita que a criança levou para a escola!". Às vezes perco mesmo a paciência... Que culpa tem a professora se os stocks das livrarias são baixos e as mesmas cada vez têm menos livros? E o que fariam os pais se em vez de 1, 2 ou 3 crianças para ajudar a fazer os trabalhos manuais tivessem 28? E todas estas conversas são orgulhosamente tidas à frente das crianças, os pais quais leões a proteger as suas crias... Depois queixamo-nos que os professores não são respeitados. Claro!

Como mãe, também já perdi a paciência para as referidas historietas. Neste último papel, às vezes posso não compreender ou eventualmente não concordar com a 'versão' que me chega de algo que se passou na escola ( e reforço 'versão', pois muitas vezes é isso que os miúdos levam para casa), mas a nossa postura tem sido sempre a mesma: os professores lá têm a sua razão e saberão certamente o que estão a fazer. Assim se educa para o respeito e se contribui para o reforço da autoridade dos professores. Ponto.

Ana Soares

7 comentários:

  1. Lá vai o tempo em que a figura do professor era tida como um símbolo a respeitar... muita coisa mudou, principalmente os pais. E a verdade, é que a maioria, não ajuda nada...

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  2. Sem dúvida. Sem qualquer dúvida... Contudo, num mundo em que muitos chegaram à carreira docente sem a formação pedagógica adequada e, por vezes, até técnica, quando não, também moral, os leões (pais) são os únicos que parecem lutar para manter os princípios da educação e da justiça que vêm sendo trabalhados ao longo dos anos no respeito pelo próximo. Ficam assim na difícil tarefa de, sem desacreditar o professor, conseguir defender tais princípios, pois "os professores lá têm a sua razão e saberão certamente o que estão a fazer", torna-se impossível de sustentar... tornar plano algo com muitas curvas é um trabalho herculídeo que os nossos sucessivos governos têm enterrado a cada uma das políticas educativas que têm implementado... a sociedade tornou-se mais complexa do que apenas a razão está deste ou daquele lado.
    Obrigado.
    Paulo Branco

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  3. Seria exceloente que os pais crescessem, (isto é, maturassem) e não se colocassem, por princípio incontestável, do lado das suas crianças. Há sempre, pelo menos, dois lados, duas versões, em todos os assuntos.
    Persistamos pois, colegas profs, em ser "a mudança que queremos ver no mundo" (sic Gandhi).

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  4. Esta é uma questão muito mais abrangente que a autoridade dos professores, é a autoridade dos próprios pais, dos avós, das auxiliares, enfim. É certo que os pais não ajudam, não reforçam a figura do professor, pelo contrário. Mas a falta de autoridade do professor caminha exactamente no mesmo sentido da falta de autoridade dos adultos com quem a criança se relaciona, não é um problema só dos professores, é um problema social mais vasto. Nós sabemos que nunca nos dirigiríamos aos nossos pais conforme certas vezes os nossos filhos se dirigem a nós. Eles tem que ter espaço para afirmarem a sua posição, eles tem que ser educados a ter sentido crítico, mas falta-nos encontrar o equilíbrio entre isto e a tolerância, respeito pelos seus educadores e progenitores eu não sei a chave. Já várias vezes tive que lembrar o meu filho que entre nós há uma diferença de 30 anos, que são 30 anos de experiências e aprendizagens e que lhe falta muito caminho…

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  5. Cara Ana,

    Comungo da mesma opinião. Partilhei-o no Vox Nostra

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  6. Cara Ana,

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