Os Maias na
obra Claraboia
de José Saramago
“A
chávena cheia, um prato de bolos secos ao lado, Lídia instalou-se
de novo na cama. Enquanto comia ia lendo um livro que tirara de um
pequeno armário da casa de jantar. Preenchia o vazio dos seus dias
desocupados com a leitura de romances e tinha alguns, de bons e maus
autores. Nesse momento estava interessadíssima no mundo fútil e
inconsequente de Os Maias. Ia bebendo o chá em pequenos goles,
trincava um palito de la reine e lia um período, exatamente aquele
em que Maria Eduarda lisonjeia Carlos com a declaração de que «além
de ter o coração adormecido, o seu corpo permaneceu sempre frio,
frio como mármore…» Lídia gostou da frase. Procurou um lápis
para marcá-la, mas não encontrou. Então, levantou-se com o livro
na mão e foi ao toucador. Com o batôn fez um sinal na margem da
página, um risco vermelho que ficava sublinhando um drama ou uma
farsa.”
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