Não tenho um Jaguar, nem um Bentley, nem um Ferrari, nem um... sei lá! Eu não tenho nenhum dos carros que o meu filho reconhece à distância. Por mais bonito que seja o seu design, não me imagino a conduzi-lo. Também não tenho dinheiro para o ter e se tivesse, porque haveria de gastá-lo numa máquina?
E enquanto procuro acompanhar a sua excitação também lhe revelo a minha: "Olha aquele! Aquele!". "É um Volskwagen...", diz-me desinteressado. "Não estava a falar do carro mas do condutor, é um dos pais da constituição portuguesa.", revelo. Olha com mais atenção para o dono do automóvel e pergunta: "E não tem dinheiro para ter um carro melhor?". "E aquele, aquele?", interrompo, "é o director de uma grande estação de rádio". "E conduz um carro velho?".
O garoto está confuso mas a mensagem começa a entrar: "Sim à compra de uma máquina funcional, confortável e segura, que nos faça deslocar do ponto A para o ponto B sem acidentes! Não ao desperdício, ao novo riquismo, à ostentação! Sim ao consumo inteligente. Se tens dinheiro para comprar um carro com aquela potência porque não o investes em algo consistente, porque não compras uma casa, não abres um negócio, em vez de passeares num bólide? A aparência interessa, mas não é tudo."
E a mensagem fica e o ensinamento consegue ser aplicado noutras situações.
Ontem, na rua, recebeu um panfleto de publicidade da autarquia de Lisboa, impresso a cores, em papel de boa qualidade, com uma produção fotográfica por detrás. O tema do panfleto é: "Boa educação: Lisboa aposta no futuro" e o conteúdo, segundo o meu filho é mínimo: "Só 27 escolas? Só nove refeitórios renovados? Só seis recreios novos? Quanto custa fazer este papel? Não era melhor investir esse dinheiro em mais um recreio?". Ou em funcionários, com um salário justo, acrescento eu.
Há panfletos no chão, nos caixotes do lixo e espalhados nas carruagens do metropolitano. "Que desperdício", diz o miúdo.
À noite, nova lição. São distribuídas bandeiras comemorativas do centenário da República. "Para que é que isto serve? Alguém acha que vamos pendurar isto? Aonde? Nós não estamos em crise?", pergunta. Sim, mas esta é uma data importante, que devemos assinalar, começo, para ser interrompida: "Ainda se fossem canecas, sempre tinham alguma utilidade."
BW
PS: O panfleto é uma parceria câmara e Parque Escolar. Ficam os dois bem na fotografia, nós é que não, que vamos pagar mais impostos para publicidade e deslocações de ministros e secretários de Estado para inaugurarem uma centena de escolas, hoje, em todo o país. Tudo em nome dessa grande aposta que é a educação e da República!
Aqui está uma boa entrevista/análise para ler.