domingo, 24 de janeiro de 2010

Os nomes dos filhos

Porque têm apelidos comuns, um casal amigo, talvez inspirado pela época natalícia, pensou em "Nicolau" como nome para dar ao filho que vai nascer. De repente, os amigos e sobretudo as avós, começaram a fazer campanha, cheios de medo que possam levar a brincadeira por diante.
"Vicente", sugiro no dia em que se celebra o santo. "Tiago", propõe alguém com o mesmo nome.
O ano passado, "Rodrigo", "João" e "Afonso", por esta ordem, foram os nomes que os pais portugueses mais puseram aos seus filhos, noticia o DN. Para as meninas "Maria" continua no top, seguida de "Beatriz" e "Ana".
Há muitas maneiras de escolher o nome: porque se gosta, para homenagear algum familiar ("José" como o trisavô, o bisavô, o avô, o pai e o futuro filho) ou alguém que se admira ("Catarina Eufémia", é do que me lembro, assim de imediato!), ou pelo seu significado. Também há quem escolha na ambição de ascender de classe social ou de adoptar os nomes com que os ricos baptizam os seus filhos. Eu gosto de ler os significados dos nomes, foi assim que aprendi a gostar do meu!
BW
PS: Aqui fica uma entrevista a João de Pina Cabral, investigador em Antropologia Social, da Universidade de Lisboa, feita pela jornalista Céu Neves do DN, publicada há quatro anos (actualissima!), mas que pode ajudar os pais!
"O nome pode definir um percurso de vida?
Nenhuma coisa única, jamais poderá definir o percurso de vida de uma pessoa. Mas, ao mesmo tempo, muitos eventos e circunstâncias afectam a vida de cada um. Um nome, em si mesmo, não define um percurso de vida mas contribui grandemente para a constituição social da pessoa, para quem ela se vai tornar. Nesse sentido, os pais preocupam-se correctamente em escolher o nome dos filhos. Cada um de nós recebe um nome quando se torna um actor social e cada um de nós interpreta o nome que recebeu, reagindo ao nome que tem através de toda a nossa vida. Não são só os outros que, na interpretação que fazem do nosso nome, nos afectam; somos nós também que "trabalhamos" com o nosso nome. Nós o reinterpretamos, alteramos, adaptamos, etc. - tanto no nosso nome próprio (na relação entre um diminutivo carinhoso e o nome formal, por exemplo) como nos nossos sobrenomes (em que podemos escolher usar uns em vez de outros), como ainda nas alcunhas (o que os brasileiros chamam apelidos), na medida em que podemos aceitá-las, rejeitá-las, encorajá-las ou proibi-las.
Podemos falar em tendências da moda?
Um dos fenómenos interessantes da tradição ibérica de dar nomes às pessoas é que estes estão sujeitos a modas, isto é, a fluxos de frequência. Em Portugal, como há uma força muito grande de conformismo na nossa sociedade, isso é muito visível na escolha de nomes para grupos de idade. As "modas" nos nomes são reflexo dos valores que as pessoas têm num certo momento e da forma como reagem à sociedade que os rodeia.
Escolhe-se o nome para um filho por gosto ou para se ter um sinal de distinção?
Não é só o nome em si que é escolhido mas também o tipo de nome - os nomes não são todos do mesmo tipo e há várias formas de formar nomes. Por exemplo, houve uma altura em Portugal em que muitas mulheres tinham nomes que reflectiam a importância do culto mariano; depois deixou de acontecer. Houve uma época em que surgiram nomes que tinham a ver com a cultura clássica (César, Aristides, etc). Houve uma altura em que as pessoas gostavam de dar o nome dos avós à criança; essa prática, quando as pessoas vieram para a cidade, deixou de estar em vigor. No Brasil, as pessoas dão muita importância a ter nomes que diferenciam as pessoas; em Portugal, pelo contrário, as pessoas preferem dar nomes que muitas pessoas têm. A moda funciona de uma maneira interessante: quando eu dou um nome X ao meu filho, eu não sei que as outras pessoas estão todas a fazer a mesma coisa. Não se trata, por isso, de seguidismo, mas sim de todos termos os mesmos sentimentos mais ou mesmo ao mesmo tempo.
E o que é o "gosto"?
O "gosto" é a forma como a sensibilidade das pessoas reage às referências implícitas que as coisas transportam. Nenhum de nós sabe bem porque é que gosta mais de uma camisa com este tipo de colarinho do que com um tipo diferente. Não é nada no colarinho em si que o faz mais desejável. É a maneira como a forma desse colarinho se relaciona com a de outros colarinhos anteriores que o torna mais desejável - os "ecos" que as coisas encontram. O "gosto" dos nomes tem também esse factor de moda e, por trás dele, estão implicações. Os nossos gostos veiculam mensagens. Mas não se trata de mensagens explícitas (ou, pelo menos, só muito raramente explícitas): trata-se de mensagens largamente inconscientes, que têm mais a ver com as relações entre as coisas do que com as coisas em si mesmo."

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