segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Excertos da entrevista da ministra ao Diário Económico

Maria de Lurdes Rodrigues.
Os professores odeiam-na. Culpam-na porque trabalham muito, estão sobrecarregados com questões burocráticas, passam mais tempo na escola, o estatuto dos alunos não lhes trouxe autoridade, são sujeitos a um modelo de avaliação com o qual não concordam e estão descontentes com a divisão da carreira.
Os pais adoram-na. Agradecem as medidas tomadas para que os filhos estejam mais tempo na escola (apesar de poder ter consequências nefastas), o Inglês no 1.º ciclo, o apoio a Matemática, a renovação do parque escolar, a introdução de actividades extra-curriculares, a criação de mais cursos profissionais e tecnológicos, o Magalhães, o e-escolas...
Muita coisa boa e má foi feita nesta legislatura. Muito foi muito mais do que outros tiveram coragem de fazer.
Eis alguns excertos da sua entrevista ao Diário Económico:
Sobre a intenção do PSD de deitar abaixo algumas das reformas
"Procurei conduzir a política educativa ao longo destes quatro anos valorizando e potenciando a herança que recebi. Podíamos simplesmente ter destruído a introdução dos exames no 9º ano, decidida pelo governo anterior. Mas considerámos que era muito importante não ter hesitações nessa matéria. Houve, nos últimos anos, decisões muito importantes de outros executivos que foram decisivas para algumas realizações deste mandato. Se a atitude for "vamos ver o que é que eu consigo destruir do que o meu antecessor fez", isso é muitíssimo negativo e certamente prejudica o sistema educativo que, ainda por cima, tem na memória muitos traços dessas hesitações. Procurei imprimir uma orientação de total respeito pelas heranças que recebi, colocar o interesse do país, dos jovens e das famílias acima de qualquer outro interesse e continuar o caminho daquilo que são grandes consensos. "
Sobre as críticas às medidas implementadas
"Não se anda na política à procura de gratidão. Quando se está na política, aquilo que se procura é obter resultados, fazer alguma coisa pelo país. Não é a gratidão deste ou daquele. Também não oriento a minha acção pelas opiniões que são emitidas nos jornais. Leio, dou alguma atenção e coloco no sítio certo. (...) Acho que as pessoas têm dificuldade em enfrentar o conflito. Todos temos, eu também tenho as minhas. Ninguém gosta. Ninguém se orienta para procurar uma guerra. As pessoas orientam-se por determinados objectivos e por vezes no caminho encontram grandes dificuldades, que são a resistência, a manifestação de discordância. E há muitas formas de lidar com isso, a mais fácil é desistir. E a vida é muito mais tranquila quando não se faz nada."
Sobre os chumbos
"Nunca defendi que se devia proibir administrativamente os chumbos. Esse não é o caminho. (...) Nunca tomei essa decisão. Nunca tornei mais difícil a avaliação nem a burocratizei. O que tenho defendido é que se devem esgotar todos os outros instrumentos pedagógicos, de diversificação de currículos e ofertas formativas. Mas a reprovação deve ser um meio. Também reconheço que causa grande perplexidade e desconforto a um professor, no caso de um aluno não atingeir o nível necessário para o desenvolvimento posterior, não poder decidir pela repetição como um instrumento de avaliação. O acto de ensinar é muito difícil e o de avaliar é ainda mais difícil. A solução não passa por criar uma lei que proíba os "chumbos"."
BW

4 comentários:

  1. Gostei particularmente da frase "E a vida é muito mais tranquila quando não se faz nada."

    Se há coisa que me irrita é a crítica fácil com quem faz e a complacência para com quem não faz nada.
    Infelizmente a sociedade portuguesa valoriza muito isso, a arte do não fazer nada. Não incomoda, não faz ninguém perder nada. Ilusão e pensamento mesquinho juntos. Nunca vi nenhuma manifestação da sociedade, dos lobbies ou dos sindicatos sobre a passividade de muitos dos nossos políticos.

    Conseguem lembrar-se de alguma decisão de António Guterres ou de Durão Barroso? Eu não.

    Gostaria de saber se o PSD, caso chegue ao governo, vai também acabar com o inglês no 1º ciclo e as aulas de substituição. Certamente não, pois hoje estão assimiladas na sociedade e, por isso, já não geram crítica. Mas lembro-me bem das críticas que surgiram quando foram implementadas.

    Não conheço o processo de avaliação dos professores mas tenho 3 certezas:
    1. Não é certamente o sistema de avaliação perfeito, longe disso.
    2. Se a ministra tivesse apresentado o sistema de avaliação perfeito, a crítica dos sindicatos e professores seria exactamente a mesma. Pois eles não querem avaliação, por muito que digam o contrário.
    3. Daqui a 2, 3 ou 5 anos estará assimilada pela sociedade (assim como as aulas de substituição), será melhor (provavelmente muito diferente) e certamente uma ferramenta fundamental na melhoria do sistema educativo. Isto se nenhum outro Governo a cancelar. A tentação é grande.

    Se calhar é da minha formação (engenharia) mas valorizo muito quem faz. E por isso gosto particularmente da actuação desta ministra(mesmo que não concorde com tudo).

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  2. Excelente comentário! Subscrevo inteiramente!

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  3. Crítica fácil não será falar dessa maneira sem conhecer o processo de avaliação?

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