- Mãeee!
- "Mãe" não é uma pergunta - é a resposta vinda da cozinha.
Nova interpelação:
- Mãe, vens aqui?
Mais um perfeccionismo da progenitora:
- Não percebi!
- Por favor? - lá se ouve do quarto.
Enfim, neste momento não há cedência possível.
Esta cena, já depois da hora de apagar a luz, repete-se, várias vezes, em cada um dos quartos, pelos mais variados e dispersos assuntos: o pão do lache da manhã seguinte com manteiga; o livro que ficou por pôr na mochila; as unhas que precisam de ser cortadas; o livro que é para entregar à irmã no seu quarto...
Nos dias bons, a conversa acaba assim:
- A tua sorte é que és lindo/a!
Nos mais tempestuosos, em que o cansaço e o trabalho nos toldam o discernimento e esgotam a paciência, as idas aos quartos acabam com um desabafo:
- Vocês gastam-me o nome!!!
E, se até agora só me posso queixar de os ouvir "gastar o meu nome", dou comigo a pensar que daqui a uns anos, que passarão mais depressa do que o tempo que decorreu desde o primeiro momento em que os peguei ao colo, corro o risco de deixar ouvir o meu nome. E, nessa altura, suspeito, vou ter pena de não ter lido mais uma história já depois da hora regulamentar de ir dormir; de ter cortado as unhas na cama, sobretudo quando isso já é uma competência deles; de ter deixado aquele mail por escrever só para ficar a olhar para eles.
Mas a vida é feita de tempos. E tudo tem o seu tempo. O tempo da saudade virá um dia, por isso, agora, vou lá ao quarto espreitá-los outra vez.
AS
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