Gosto da forma como me acolhem, das perguntas que me fazem, da curiosidade com que ouvem o que digo. E hoje, no Colégio Monte Maior, em Montemor, não foi excepção. Eles ouvem curiosos e fazem perguntas pertinentes.
O pior é o comportamento.
A entrada no auditório, onde estavam as turmas todas do 5.º, foi feita com barulho. Não foi fácil sentarem-se e depois de sentados, não foi fácil calarem-se.
Estaria a falar há uns dez minutos, sem microfone, quando uma aluna das últimas filas me pergunta se não posso falar mais alto. Já com a garganta a arranhar, respondo-lhe: "Eu já estou a gritar, talvez se os teus colegas se calarem consigas ouvir." 'Ó meu Deus, agora parecia mesmo uma professora', pensei.
O barulho transformou-se em burburinho que foi constante durante os 90 minutos. Suportável, mas não o ideal.
Há uma aluna que me ajuda a contar uma história da mitologia grega e, quando volto a olhar para ela, está toda deitada na cadeira confortável do auditório, com as pernas traçadas e um pé no ar. Aquele pé está ao nível de um braço no ar, tapando a vista do que está atrás dela. "O que estão a fazer esses pés no ar?", pergunto, já com microfone. A garota baixa os pés, mas mal me viro, torna a espetá-los, marcando a sua posição. 'Não me vou incomodar', penso, 'não sou sua mãe, nem sua professora, estou de passagem.'
"Como é que você faz para ter tanta imaginação?", pergunta uma aluna. "Como é que a senhora ou a autora faz... assim é que devias perguntar", corrijo. 'Eu hoje estou impossível...', digo para os meus botões. "Você já foi ao Brasil?", "A senhora...", insisto com um rapazinho, mas ele nem percebe.
No final, alguns agradecem e saem; outros ficam para os autógrafos. São todos simpáticos e amorosos, brincam, fazem graças, sem serem mal-educados. 'Têm dez anos, ainda têm muito tempo para aprenderem', concedo.
A professora que me acompanha à porta pede desculpa pelo comportamento que, reconhece, não foi o melhor, mas também eles estão desde manhã de actividade em actividade. É a semana cultural e as iniciativas são muitas.
Penso na escola a tempo inteiro, no cansaço dos miúdos que degenera em pés no ar e impertinência. Se antes de conversar com a docente, estava já preparada para a alertar para a necessidade de trabalhar o comportamento, agora sinto pena dos miúdos que, quando saírem dali, ainda vão para casa fazer TPC. Deixá-los ter os pés no ar... Mas até quando?
BW
Achei o seu comentário infeliz. Se calhar os miúdos formam "obrigados" a estar numa apresentação que para eles não fazia grande sentido e pelos vistos pouco cativante para este tipo de público.
ResponderEliminarE não sei se se terá apercebido que estavam alunas a vender os seus livros de forma bastante entusiasta e sem desconto! A fnac e a wook estão a vender mais barato.
Se foi um convite do colégio, pelo menos não fale desta forma do seu público. Não lhe fica bem.
Cara professora, os alunos estavam interessados. Alguns foram convidados a sair pelas docentes e não o fizeram porque queriam ouvir. Não me parece que a apresentação fosse pouco cativante uma vez que eles interrompiam porque tinham questões, curiosidades e, alguns, sabiam bastante sobre o assunto. No final, muitos, mesmo alguns dos que estiveram mais desatentos, fizeram perguntas, sinónimo de que estavam interessados. O público é o ideal, aliás, os nossos livros são recomendados no PNL para estas idades. Também vi as alunas que estavam a vender, que me cumprimentaram, e até assinei um livro para uma delas. Os descontos deveriam ser negociados com o distribuidor/livreiro, aliás, os livros devem estar mais baratos nas escolas! Como calcula, eu estou no princípio da cadeia (escrita) e não no fim (venda), não sei sequer a quanto estavam a vender. Agora, se os meninos estavam "obrigados", então cabe à escola avaliar se vale a pena fazer estas sessões onde estão crianças que não querem e onde o autor é convidado para ocupar um espaço no horário. Temos tido muitas experiências nas escolas, as mais interessantes são aquelas em que a escola trabalha primeiro os nossos livros e depois nos convida. Fica a sugestão! E, note, eu lamento o comportamento dos meninos porque têm uma agenda preenchida, porque estão cansados, porque têm razões para se comportar assim. Foi o que escrevi no meu "comentário infeliz". BW
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