Sobre a inspiração necessária para cantar feitos que se perpetuem nas palavras...
... diz Gonçalo M. Tavares:
"Empurrado por certas deusas da inspiração,
tal como é empurrada a velha camioneta que avariou,
o escritor de motor arcaico, primitivo,
quer afinal apenas que as frases sejam feitas de uma substância
que não evapore lentamente de dia para dia;
deseja frases robustas, que pelos séculos
avancem. Frases que atiradas ao mar: nadem,
e atiradas ao ar, voem."
"Empurrado por certas deusas da inspiração,
tal como é empurrada a velha camioneta que avariou,
o escritor de motor arcaico, primitivo,
quer afinal apenas que as frases sejam feitas de uma substância
que não evapore lentamente de dia para dia;
deseja frases robustas, que pelos séculos
avancem. Frases que atiradas ao mar: nadem,
e atiradas ao ar, voem."
... diz Camões, na Invocação, canto I:
4
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipoerene.
5
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
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