segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Uma Viagem à Índia e Os Lusíadas

Sobre a inspiração necessária para cantar feitos que se perpetuem nas palavras...


... diz Gonçalo M. Tavares:

"Empurrado por certas deusas da inspiração,
tal como é empurrada a velha camioneta que avariou,
o escritor de motor arcaico, primitivo,
quer afinal apenas que as frases sejam feitas de uma substância
que não evapore lentamente de dia para dia;
deseja frases robustas, que pelos séculos
avancem. Frases que atiradas ao mar: nadem,
e atiradas ao ar, voem."


... diz Camões, na Invocação, canto I:

4

E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipoerene.

5

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.

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