No livro Good Education in an Age of Measurement, o holandês Gert Biesta escreve sobre os rankings e defende que estes têm forçado à valorização daquilo que é mensurável na educação, quando “a primeira pergunta que se deve fazer é: se é possível medir ou avaliar o que é realmente importante?” Professor na Universidade de Stirling, no Reino Unido, onde co-dirige o Laboratório de Teoria Educacional, Biesta vai colaborar com o programa de doutoramento em Ciências da Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologias, da Universidade Nova de Lisboa e vai estar no campus do Monte da Caparica, no próximo dia 26, às 17h, numa conferência aberta ao público.
Na entrevista que saiu no suplemento dos rankings do PÚBLICO, ficaram duas perguntas de fora por falta de espaço e porque se desviavam ligeiramente do tema. Aqui ficam porque são interessantes.
O que é uma “boa educação”?
Essa é uma das perguntas mais difíceis de responder! No meu livro digo que não posso dar uma resposta, mas posso sugerir uma maneira de olhar para essa questão. A melhor maneira é ver a educação como um processo multidimensional, que não se concentra apenas no resultado, mas deve estar preocupada com uma série de resultados. Defendo que há três áreas: o domínio de conhecimentos e competências, que é a maneira pela qual a educação nos qualifica para o trabalho ou para a vida; o domínio da cultura e tradição; e o domínio que tem a ver com a formação da pessoa, aquele em que fazemos perguntas sobre o que significa ser um bom ser humano. Muita da discussão sobre educação parece concentrar-se só no primeiro domínio, e gostaria de, pelo menos, sugerir que ampliassemos a discussão para incluir os outros domínios — que são menos fáceis de medir, mas são pelo menos tão importante quanto o primeiro. Na minha opinião, a boa educação é o encontro de um equilíbrio entre estes três domínios, e isso não é algo que possa acontecer apenas ao nível dos conceitos de política ou de escola, mas está no coração do trabalho diário dos professores. É por isso que é tão importante a boa formação de docentes para o desenvolvimento da boa educação.
Quais são os principais desafios da educação num mundo em crise?
A resposta mais “nervosa” é dizer que precisamos de melhorar os sistemas educativos e centrá-los ainda mais no conhecimento, competências e qualificações, para que possamos competir melhor na economia global. Mas isso é uma visão muito limitada e de curto prazo e levará a uma maneira de pensar a educação que, em breve, será insustentável. Talvez nos próximos anos, por mais uma década, possamos investir pesadamente no aumento da concorrência, na tentativa de ganhar o primeiro lugar na economia global. Mas uma visão tão competitiva, cria mais desigualdade e, no final, levará tanto a desastres sociais como ambientais — e já há várias evidências nesse sentido. Penso que é preciso dar um passo atrás e levantar questões fundamentais sobre o que deve ser uma economia — financeira, ecológica, social e humanamente sustentável —, e como viver juntos e em harmonia. Espero que exista um número suficiente de pessoas que sinta que a educação pode, realmente, desempenhar um papel fundamental no encontro de alternativas reais. Este é o grande desafio, se quisermos encontrar uma saída para a situação em que nos encontramos.
BW
PS: Em Janeiro, entrevistei a professora Cláudia Sarrico, com quem o Expresso falou agora para o seu suplemento dos rankings.
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