sábado, 29 de outubro de 2011

Os professores, os jornalistas e o medo

Foi um fim de tarde e principio de noite muito bom!


Da esquerda para a direita: Margarida Davim do Sol, eu, Andreia Brito da Antena 1 e Alexandra Inácio do JN.




Paulo Guinote que coordenou estas conversas, Pedro Sousa Tavares do DN, Margarida e eu, outra vez - fotos cortesia Paulo Guinote, estão também publicadas no seu blogue.


Partimos de um estudo com quatro anos de Pedro Abrantes, do ISCTE, onde se conclui que a maior parte das notícias que escrevemos, na área da Educação, as fontes são as governamentais e as sindicais, e que falamos pouco com os principais actores, os professores e os alunos.
Qualquer um de nós confirmou e a maioria referiu que faz sobretudo política educativa. A excepção fui eu que, ao contrário da Alexandra ou da Andreia não sei os índices remuneratórios dos professores, assim como não sei em quantas remodelações ao modelo de avaliação já vamos. A Margarida sublinhou a importância de se fazer política de educação - é esta que vai influenciar a vida das escolas. O Pedro referiu que a educação faz-nos vender mais jornais, por vezes, mais do que a política. A Alexandra apontou que há uns anos a educação era tratada em pequenas notícias e que nos últimos anos foi-lhe dada uma importância maior, precisamente porque vende.
Falámos ainda dos rankings - o Pedro concorda com a sua existência, a Alexandra detesta-os, a maioria discorda com o modo como são feitos, o reduzirmos a qualidade de uma escola aos resultados dos exames nacionais.


E porque é que não vamos mais às escolas?, insiste a audiência reunida na Buchholz.
Porque não é fácil, porque as escolas se fecham, porque os professores têm medo de falar.
Porque é que ouvimos sempre as mesmas pessoas?
Porque são aquelas que estão "resguardadas" porque fazem parte de um sindicato, de uma associação, etc, os professores "anónimos" têm medo de falar.
Quais são as principais dificuldades em entrar na escola?
É preciso pedir autorizações à DRE ou ao MEC, que nem sempre nos são dadas ou não são dadas a tempo.
Os jornalistas são instrumentalizados?
Queremos acreditar que não! Se fizermos o nosso trabalho - ouvir, fazer o contraditório, investigar, perguntar, etc - não seremos instrumentalizados.

No final da noite, saímos muito depois das 21h da Buccholz, reflectia sobre o encontro e vou escrever algumas coisas que disse, outras não disse que sou muito trapalhona ao vivo...
Quando comecei a escrever sobre educação vivia-se uma "primavera grilista". Eu não soube o que era um ministério e as escolas todas fechadas em copas, todos proibidos de falar, como as colegas que já escreviam sobre o tema antes de mim.
Quando comecei a trabalhar era ministro Marçal Grilo e os secretários de Estado eram Ana Benavente e Oliveira Martins. Os serviços do ministério estavam-me praticamente escancarados. Eu queria escrever sobre pré-escolar, faça o favor de falar com a directora do DEB (uma especialista na área)! Porque é que não fala com x ou com y? Essa abertura permitiu-me construir uma agenda, ter acesso a fontes, a especialistas, a investigadores, que muitos dos meus colegas de trabalho têm, hoje, mais dificuldade em conseguir. Porquê? Porque depois da "era Guterres" os serviços voltaram a fechar-se, a pouco e pouco; os assessores de imprensa deixaram de dar acesso às pessoas para serem eles a voz oficial. É mais pobre falar com um assessor que faz a triagem do que lhe é dito pelos serviços, que não respondem ao que perguntamos.
Não é fácil aos jornalistas "entrar" na educação. Não são só os índices remuneratórios, é toda a linguagem das escolas que nós aprendemos e que os outros jornalistas desconhecem: das siglas (CEF, NEE, DT, TIC - estas são as mais básicas...) aos palavrões da pedagogia.
E quando tentamos sair da 5 de Outubro ou da 24 de Julho, esbarramos com escolas fechadas, com directores que dizem que não têm autorização para falar, que são rudes ao telefone, que se escondem atrás de legislação; de professores que têm medo dos directores...
E vai ser pior, afiançam os docentes sentados na plateia.
Vai ser pior...
Pode ser que sim. Cabe-nos a nós, jornalistas, lutar contra isso, continuar a insistir com as escolas, com os professores. Cabe aos professores ter coragem e lembrarem-se que vivemos em democracia.
BW

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