sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Menos horas curriculares

A Ana Soares já aqui escreveu sobre o corte de horas lectivas e, por consequência, o corte de horários e de professores nas escolas. Os docentes queixam-se e contestam as medidas por razões óbvias de defesa da sua profissão.
Mas, e os pais? Ninguém está preocupado porque as suas crianças vão ter menos horas de aulas? Menos aulas, é sinónimo de menos matéria? Os miúdos vão saber menos ou vão ter uns professores stressados, à sua frente, a tentar cumprir o programa que não mudou? Com que qualidade vão ser dadas as aulas? Como é que se ensina os meninos a pensar, a questionar, a discutir um tema se não há tempo, nem espaço no horário? Vai ser só despejar matéria, fazer uns testes e já está? O que é que o Estado quer fazer aos nossos filhos? Cumprir o mínimo obrigatório e quem é que definiu o que é o mínimo?
O Ministério da Educação parece ter-se esquecido que para que os futuros adultos façam alguma coisa na vida precisam mesmo de ser preparados, bem preparados, e não será certamente com um desinvestimento na educação.
BW

6 comentários:

  1. Bárbara -
    Ainda bem que vai alertando para questões tão importantes para a educação dos nossos filhos. A verdade é que os pais da escola pública parecem não perceber o alcance destas medidas, ou simplesmente preferem valorizam a função de guarda e hoteleira da escola. Também é verdade que publicação do Decreto-Lei nº 18/2011, de 02 de Fevereiro, deixou muitos de nós perplexos, mas sem tempo para organizar a resposta.
    A avaliação já aí está a consumir as noites e a paciência aos docentes - é uma máquina de gerar papeis infernal, sem quaquer préstimo que não seja a divisão e o controlo da classe.
    Coisas tão sérias exigem ponderação e muita reflexão, coisa que tem andado ausente nos últimos anos. O problema sócio-proficional criado não é menos importante - no caso de EVT é aterrador - até por falta de explicações adequadas.

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  2. Barbara, mais carga horária não é sinónimo de qualidade de ensino ou de maior investimento na educação. Desconfio que temos uma excessiva carga horária nas escolas do primeiro e segundo ciclos. Há algum estudo comparativo da OCDE? A preocupação dos pais é outra e pouco tem a ver com a qualidade da educação dos filhos. É claro que estão preocupados.

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  3. BW, tem noção do que é (tentar) ensinar História a alunos de 7º ano (por exemplo), com 90 minutos por semana? Como é possível pôr os alunos a pensar, a discutir um tema, como refere, a desenvolver a expressão escrita, a aprender a contextualizar factos históricos no tempo e no espaço, a relacioná-los entre si, a valorizar o conhecimento hsitórico? Sobretudo quando são 28 alunos, dos quais 2 ou 3 NEE e outros tantos estrangeiros com escasso domínio da Língua Portuguesa (todos juntos, atenção), e isto, repito, apenas 90 minutos por semana (no caso de haver dias feriados, voltamos a encontrar os alunos oito ou quinze dias depois...). Ah, e o professor pode ter umas 7 ou 8 turmas iguais a esta ( ou mais). Um caos. Ninguém aprende nada. Uma frustração para quem tenta ensinar alguma coisa. É que nestas idades os alunos têm um vocabulário tão rudimentar que toda e qualquer palavra que seja dita tem de ser minuciosamente explicada... várias vezes, porque há sempre alguém distraído que não ouviu.

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  4. Pedro: acha que os pais sõ vão preocupar-se quando perceberem que os meninos vão ter menos quatro horas de aulas, logo, estão quatro horas livres a fazer sabe-se lá o quê? Provavelmente...
    Anónimo das 23.30: Pois, não imagino. Ou melhor imagino e não gosto nada do que imagino! Eu não cortaria na História, mas na geografia, CN e FQ, no 3.º ciclo há alturas em que a matéria é exactamente a mesma nas duas últimas disciplinas, os planetas e afins, o que muda é a abordagem. Para mim faz pouco sentido, mas tenho a certeza que para os professores faz todo o sentido. E isto faz-me voltar ao comentário de Pedro, provavelmente os nosso alunos têm horas a mais, quando comparados com outros alunos da OCDE, o education at a glance diz o número de horas lectivas por aluno de 7 e 8 anos de idade é de 855 horas por ano. A média da OCDE é 769 horas por ano. O número de horas por aluno dos 12 aos 14 anos é de 880 horas por ano, a média da OCDE é 892 horas por ano. E que o número de horas por aluno de 15 anos é de 821 horas por ano, a média da OCDE é 921 horas por ano. Portanto, só temos horas a mais no 1.º ciclo. BW

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  5. Estou a ter a minha primeira experiência, como mãe, da escola pública, agora que o meu filho mais velho entrou este ano para o 5º ano. Nada a apontar à escola (centro de Lisboa, muito heterogénea em termos socio-económicos). Mas continua a minha perplexidade com as disciplinas de Área Projecto e Estudo Acompanhado - nem as professoras que delas se ocupam parecem perceber muito bem para que servem... Sei que para o ano, sem esses tempos lectivos, muitos pais reforçarão a permanência dos miúdos no ATL... Pessoalmente, agradeço a liberdade extra do meu filho - para vir para casa mais cedo, para ir à biblioteca mais vezes, para ter mais tempo para os tpc, para ter mais folga entre as aulas e as actividades desportivas, para ter mais tempo para não fazer nada, para estar mais tempo no recreio da escola, também... Nos EUA, Inglaterra e Itália as aulas vão das 8h30/9h00 até às 15h/15h30 - para todos os graus de ensino! Em Portugal os horários são mais completos -mas o aproveitamento não é, necessariamente, maior.

    O único ponto negativo do fim da APR e do Estudo Acompanhado é, sem dúvida, o desemprego dos professores... e a única sobrecarga lectiva que admito é o aumento das horas das disciplinas que já existem (História e Geografia, por exemplo)...
    Os miúdos precisam de tempo livre... para não fazer nada, precisamente!

    Marta Amaral

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  6. Não é provavelmente, Bárbara, e mesmo assim ;) Felizmente tenho e minha mãe, já reformada, para ir buscar o meu. Mas é um drama para outros pais, que têm de pagar ATL. Não me parece ser tarefa do Estado a guarda das crianças. Mas é um assunto interessante para debater. Sobretudo, tenho a certeza, isto pouco tem a ver com a educação.

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