terça-feira, 25 de setembro de 2012

O que vestir no local de trabalho?

À minha frente, duas estagiárias envergam os calções da moda. Curtos e de ganga. Acham que as vou mandar ao Palácio de Belém, à Assembleia da República, a um ministério, seja onde for? Não.
Uma delas responde: "Tá-se?", "na boa" e despede-se com um "vou bazar!" Tremo só de pensar que fale assim com as pessoas que deve contactar. É o nome do jornal que põe em causa.
Um colega que a ouve comenta: "A geração Morangos com Açúcar chegou às redacções!"
Chegou com 20/21 anos, graças à Declaração de Bolonha, com três anos de formação superior e sem a mínima noção do saber estar num local de trabalho.
Mas a culpa não é delas.
- É dos pais
Eu devo ter sido a última rapariga do planeta a usar combinações e saiotes, obrigada pela minha avó e pela minha mãe, a vesti-los por debaixo das saias mais transparentes. Gozada à grande pelas colegas que nunca tinham visto aquelas peças de roupa interior. Obrigada a despi-las mal saía a porta de casa e a guardá-las na mochila. Não peço que as usem (já nem devem existir), mas peço que os pais as ensinem a vestir, tenham uma palavra a dizer quando as meninas vão às compras. "O umbigo é bonito para se ver na praia, não na escola, muito menos no local de trabalho."
- É da escola
As meninas/os meninos não têm de estar na sala de aula com o rabo de fora, com a barriga à mostra, com o boné na cabeça, com os chinelos nos pés. Custa perder um bocadinho da aula a mandá-los vestir a bata de Ciências? Custa, mas pode ser que aprendam... Quem sabe, a funcionária da portaria pode fazer essa triagem antes que os alunos entrem na escola.
- É da faculdade
O ensino superior espera que os meninos cheguem lá bem formados e acredita que estes têm autonomia e são responsáveis, que são adultos. Mas não são. São uns miúdos de calções, literalmente.
Alguém - pode ser o professor responsável pelo estágio, se faz favor - tem de explicar como se deve estar num local de trabalho já que os pais e os professores do básico e do secundário não ensinaram.
Vá lá, alguém faça o seu trabalho para não ser eu, aqui e agora a explicar que estão numa empresa onde não vão servir umas cervejas, mas exercer funções de jornalistas estagiárias.
Ainda bem que chegou o Outono!
BW
Nota: Nem todos chegam aqui assim. Mas, volta e meia, aparecem umas aves raras.

10 comentários:

  1. e a maioria deles ainda se mostra surpreendida por não arranjar trabalho...

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  2. Concordo com artigo. Há que ver prioridades. Primeiro a aparência, depois a competência para o cargo.

    Já agora não esquecer de levar um bmw pago a crédito :).

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    1. o problema é mesmo a aparência. Na fase de "estagiário" ainda não se pode falar de grandes competências porque se está a aprender a fazer. BW

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  3. Muito bom mesmo. Às vezes perguntava-me se era só eu a ver isso na minha faculdade, mas dada a crise em que estamos, o traje não importa nada ....

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  4. Gostei. Não basta Ser, tem de parecer.

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  5. Concordo com o que escreveu. Realmente há que saber trajar de acordo com as ocasiões.
    Em todo o caso, não acho que uns calções curtos sejam motivo para um alarmismo tão grande. Pelo que li, e denoto que gostei da forma como cozinhou o artigo, parece-me antes que existe uma barreira grande entre o jornalista profissional e o estagiário. Atrever-me-ia a dizer, não querendo de todo ferir suscetibilidades, que provavelmente não sente qualquer empatia com nenhuma das duas estagiárias que referiu.
    É certo que estão em processo de formação, que ainda não as considera como iguais, mas daí a chamá-las de “aves raras”? Também não me parece que essa classificação vá de encontro aos ideais do Público, que se enquadre nos requisitos do matutino que acompanha faz tempo.
    E qual é o papel dos jornalistas nesse processo de formação? Será aferir e descrever minuciosamente as vestes de duas aspirantes a jornalistas ou será procurar integrá-las, dar-lhes conta das rotinas da empresa e ensinar-lhes a fazer jornalismo?
    Não sei se coordena algum dos estágios ou mesmo os dois. Se for o caso, talvez a atribuição de culpas devesse ser reequacionada. No início refere-se a uma das raparigas como sendo uma jovem com 20/21 anos, mas não sabe precisar a sua idade. Alvitrou que os pais falharam na sua educação, mas já pensou que por ventura podem não ter sido educadas pelos pais? Que podem nunca ter conhecido os pais biológicos ou nunca ter tido qualquer relação com os progenitores? Que a relação pais-filha, ainda que exista, pode ter fracassado desde cedo?
    A vossa função, não devia passar por incutir um espírito de camaradagem e entreajuda, a quem chega de novo? Pergunto-lhe: fê-lo? Criticar sempre foi fácil, alertar e ajudar continua a ser difícil.
    Parece-me que, mesmo que involuntariamente, segregou as raparigas por completo.
    Deixo-lhe uma sugestão: reúna as duas “aves raras” em torno de uma mesa, pergunte-lhes o nome, a idade. Conheça a sua realidade. Perceba se estão a ter um dia mau, faça com que este seja melhor. Faça-as sentirem-se como pessoas que são e não como mais duas aves raras.
    Já pensou como se podem vir a sentir caso leiam este post e percebam que não as toma como iguais, mas sim como "Aves Raras"? Achei o termo um tanto ou quanto depreciativo.
    Desta vez, e ao contrário do habitual, não me deleitei a ler o seu post.

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    1. Parte das minhas funções é a integração na minha secção, ensino, explicação de como se faz na prática aquilo que se andou a aprender na teoria. Não há segregação alguma destas estagiárias, trabalham e são acompanhadas como todos os outros estagiários antes e, espero, depois delas. Aliás, uma é excelente e sabe-o. Gosto que o saibam, é importante e motiva. A outra tem de trabalhar mais e também o sabe porque o digo, porque explico o que é preciso fazer.
      Não é fácil ser estagiário. Quando chegam o que lhes digo sempre é que procurem, tenham ideias, não tenham medo de as propôr e executem-nas. Devem aproveitar para, enquanto ali estão, fazerem o melhor que sabem e tenham iniciativa para puderem assinar textos próprios em vez de cozinharem umas notícias da Lusa e as assinarem (como fazem algumas vezes e as informamos que não o podem fazer porque aquele é o trabalho de outros) ou traduzam notícias de outros meios e as assinem (é plágio e, por vezes, acham que porque traduziram podem juntar o seu nome). Falo dos textos, critico-os, explico o que podem puxar para o início, reflectimos sobre o que se deve considerar mais importante, etc. Nunca fui confrontada com a questão da roupa, até este Verão. Por isso, nunca tive de me preocupar com essa questão. Sei que vou passar a falar sobre o modo de vestir quando chegarem. Em resumo: o objectivo do estágio é que aprendam e assinem os seus próprios trabalhos. É o que procuro que façam.
      Lamento que considere "aves raras" depreciativo. Não é, é um sinónimo para "pessoas diferentes". Afinal não somos todos iguais... Sinto-me muitas vezes assim, uma "ave rara"... BW

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  6. Penso que o artigo não era sobre estagiários, nem sobre jornalistas. Penso que se referia a uma certa falta de humildade e de saber estar das novas gerações. Eu, que sou mais velha, por vezes, até acho que alguns são um pouco arrogantes. Antigamente sabíamos colocar-nos mais nos nossos lugares, sorver o que os mais velhos nos ensinavam, e sim, não íamos de calções para o local de trabalho. Ainda hoje eu respeito quem é mais velho do que eu, quem tem um grau superior, estou aberta a novas aprendizagens, arrogância deixo de lado porque acho que anda a par com a ignorância e, já agora, uso bata no meu local de trabalho.

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  7. O meu conselho para as meninas ou para outras/outros em situação semelhante é que utilizem linguagem adequada, vistam de forma sóbria, sejam educadas/os e, sobretudo, humildes. Trabalhem e aprendam com os mais velhos e mais habilitados. Coloquem sempre as vossas dúvidas mas nunca achem que já sabem tudo. Tá-se, na boa, vou bazar, é feio, não se diz, muito menos no local de trabalho. E estudem! Sempre, toda a vida!

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