Em 1992, na Universidade Católica Portuguesa abriram, pela primeira vez, os cursos de línguas, turismo e comunicação social e cultural (no ano anterior abriram os propedêuticos ou ano zero, mas isso agora não interessa nada para o que quero contar). Há 20 anos.
Até então só existiam os cursos de Direito, Economia, Teologia e Filosofia (acho que não estou a esquecer nenhum). Os alunos de Teologia e Filosofia eram transparentes, rapazes aspirantes a padres, nas suas roupas mal cortadas e cinzentas.
As meninas de Direito ede Economia usavam as calças de ganga, as sapatilhas keds ou all stars, as t-shirts brancas ou os camiseiros aos quadrados e acessórios, muitos e grandes como cintos, colares, pulseiras e as eternas e gigantes argolas douradas nas orelhas. Umas betas, iguais às de hoje! Excepto o corte de cabelo que era ligeiramente diferente porque se usavam as poupas, de resto a moda não mudou muito.
Eles com as calças de ganga e os polos de marcas caras. Fotocópias uns dos outros, louros, bonitos, bronzeados e de dentes muito brancos.
E, então, com os novos cursos, os corredores encheram-se de cor e de gente diferente. Havia quem envergasse só roupa preta, com t-shirts com monstros ou bandas de heavy metal e botas pesadas; quem usasse cores vivas e saias compridas e fosse muito peace & love, cabelos pintados, alguns intencionalmente mal pintados. Pela primeira vez foram vistos piercings em sítios que não na orelha para usar uma pérola, mas no nariz, uma argola. E tatuagens.
E a Católica tremeu. Melhor o curso de Direito ficou horrorizado e os seus alunos decidiram fazer um abaixo-assinado contra o modo de vestir dos novos estudantes para entregar ao reitor, na altura D. José Policarpo. Não podia ser, era uma afronta à instituição e davam má reputação à santa casa, argumentaram. A história correu o mundo universitário e amigos doutras faculdades perguntavam-me: "Então, és uma mal vestida? É mesmo verdade que há um abaixo-assinado?". Parece que sim...
Foi um choque inicial para passar a ser motivo de chacota - Como? Os betos estão preocupados com o bom nome da Católica por causa de uns metálicos, de uns hippies e afins? Mas o que é que a roupa tem a ver com a inteligência? Nada!
E isto contraria o que escrevi anteriormente sobre o que vestir no local de trabalho? Não.
Porque nenhum dos meus colegas aparecia de boné, de rabo de fora, de pernas ou de mamas à mostra na sala de aula. Se havia uma oral, a t-shirt da banda era substituida por uma preta. E no dia da entrega do diploma, no Mosteiro dos Jerónimos, levaram a camisa branca em cima das calças negras. Ninguém os obrigou, ninguém lhes pediu. Não foi preciso. Eles sabiam estar.
É disso que falo: saber estar. Ter noção de que para cada sítio há uma roupa certa para vestir.
BW
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