sexta-feira, 29 de março de 2013

Nova aventura da coleção Olimpvs.net




O Enigma de Ulisses é o 4.º volume da nossa coleção Olimpvs.net.

Já chegou às livrarias e está com uma super promoção na Wook: oferta do volume 1, na compra da nova aventura!

quinta-feira, 28 de março de 2013

Joana Vasconcelos ou a rainha vai nua


Valquírias

Quem viu a exposição da Joana Vasconcelos no CCB, em Lisboa, em 2010, não precisa de ir ao Palácio da Ajuda ver cães, cavalos, gatos, caranguejos, lagartos ou lagostas de louça Bordalo Pinheiro revestidos com rendas dos Açores. Déjà vu.
Rever as peças mais antigas como a Noiva (o lustre feito de tampões), Marilyn (o sapato feito de panelas) ou Coração Independente (um coração de Viana feito de garfos de plástico vermelhos) é um déjà vu. E sabe a pouco.
Falta a surpresa, embora não falte o humor. Claro que há peças que surpreendem, sobretudo pelo espaço onde foram enquadradas – como A Todo o Vapor – mas, repito, sabe a pouco. Sobretudo quando se vai acompanhada de tão exigentes espectadores:
– Já vi, já vi... – vai dizendo ela, parando em cada sala para ler a informação daquele espaço e passando pelas peças da Joana Vasconcelos como se não as visse.
A todo o vapor
– Não é novo. É sempre a mesma coisa – diz ele, olhando com mais atenção para as miúdas da mesma idade que estão a ver a exposição. 
Na sala de jantar do Palácio estão duas enormes lagostas à mesa, são Bordalo Pinheiro e vestidas com rendas dos Açores. Duas senhoras discutem:
– Estão a preparar-se para nos comerem! – diz uma divertida.
 – Não! Estão a ser preparadas para serem comidas – responde a outra.
«É isto que é maravilhoso quando olhamos para uma peça de arte, para um quadro ou ouvimos uma música, é que cada um de nós pode interpretar como quiser», segredo aos ouvidos dos exigentes espectadores, aproveitando o momento para fazer pedagogia.
– Eu acho que as lagostas estão com frio, senão não tinham aqueles casaquinhos de renda – diz ele, cínico.
Não gostaram, concluem. Soube a pouco, explicam. Gostaram mais da do CCB, tinha mais variedade, peças que surpreendiam e são capazes de as nomear apesar de terem passado três anos.
– E o Lilicóptero? Não é surpreendente? Cheio de plumas de avestruz e cristais Swarovski? E lá dentro, os tapetes eram de Arraiolos! – exclamo.
– Ela deve estar a viver do sucesso que teve em Versailles... – supõe o pai desapontado com a exposição.
– Pois, e quis reproduzir aqui na Ajuda. Olha, só valeu a pena porque assim vimos o palácio – acrescenta ela que gostou de se inteirar dos hábitos de D. Maria Pia.
– Mas não é interessante ver o modo como a Joana Vasconcelos olhou para cada uma das salas e introduziu um elemento surpresa? – insisto.
– Os estrangeiros todos maravilhados com a Joana Vasconcelos em França e agora os portugueses também. É como a história do 'Rei vai nu'. Ai que espectáculo o trabalho da Joana Vasconcelos! Que bom! E depois vamos ver e é igual a tudo o que ela já fez. Ó mãe, as salas debaixo tinham todas um animal com renda dos Açores... Onde é que está o efeito surpresa? – responde ele.
– Ó mano, não é o 'Rei vai nu' é a 'Rainha vai nua'!
Dou-me por vencida e não insisto mais. Ok, são adolescentes, não se deixam deslumbrar como quando eram pequenos, têm a cabeça cheia de outras coisas, mas têm alguma razão. Soube a pouco.
BW

Carmen
PS1: Vale a pena ver a fotogaleria do PÚBLICO!
PS 2: Porque é que a cultura, em Portugal, não deve ser explorada pelos privados? Pela falta de noção do que é serviço público, pela arrogância com que se tratam os espectadores.
1. No site da Everything is New, promotora da exposição da Joana Vasconcelos não há uma palavra sobre horários, mas os preços lá estão, bem visíveis, assim como os locais onde se podem comprar os bilhetes. Portanto, quem não saiba que o Palácio da Ajuda fecha à quarta-feira, em vez de encerrar à segunda como a maior parte dos museus, bate com o nariz na porta. Foi o que nos aconteceu ontem e a mais uma dezena de pessoas (o número foi contabilizado apenas no período de tempo em que estivemos na Ajuda, calculamos que ao longo do dia tenha acontecido a mais gente), todas ao engano. «Mas na revista do Expresso também não dizia que fechava à quarta», queixava-se uma senhora que tinha vindo de longe.
Cansada, uma funcionária do Palácio pedia: «Mas escrevam no livro de reclamações. Estamos fartos de falar com a organização e não fazem nada...».
2. À nossa frente um grupo de jovens, na casa dos 17/18 anos compra bilhetes. Há 50% de desconto para estudantes. «Tem cartão? Desculpe mas tem de pagar o bilhete sem desconto», explica o funcionário. «Ó meu amigo, mas quem é que com esta idade não está na escola?», apetece dizer-lhe. Como o rapaz não se queixa, quem sou eu para comprar as guerras dos outros.
3. A professora na fila ao lado, que quase chora quando conta à amiga que está com horário zero e que não sabe qual vai ser o seu futuro, não tem direito a desconto. «Só se viesse com mais de 20 alunos», explica o funcionário.
4. Chega a nossa vez. Apresento o cartão de jornalista (que em qualquer parte do mundo me dá entrada gratuita ou desconto na compra do bilhete). «Inês, como é com os jornalistas?». A Inês espreita o cartão e diz «Nada. É o bilhete inteiro». «Então são dois adultos e dois estudantes», pedimos. «Têm cartão?». Têm. «Que idades têm?». «Mau! Mas achas que os miúdos têm mais de 25 anos?!», penso irritada. «Se quiserem, há o cartão família por 24 euros... Sempre poupam um euro...», diz. Errado, rapaz, poupamos seis euros.
Noiva
5. O pai para a Inês: «Ontem estivemos cá e a porta estava fechada porque nos vossos sites não há informação sobre o encerramento à quarta-feira. Certamente terá conhecimento desta situação?». «Sim, mas o Palácio fecha à quarta-feira...», responde a Inês displicente – quem é que não sabe?!. «Mas não têm a intenção de pôr essa informação no site? É que nós não fomos os únicos a quem isso aconteceu...». «Sim...», diz a Inês a despachar – ó senhor, não vê que está a empatar a fila!?
6. À nossa frente segue uma mãe e uma avó com dois carrinhos de bebé. Há uma sala escura, com o Jardim do Éden e pode não ser fácil circular com os carrinhos. «Deixaram-vos entrar? Pois... É que a sala é escura e é preciso ter cuidado e como têm os carrinhos... Olha, não me interessa», diz encolhendo os ombros. Eu e o pai entreolhamo-nos. «Não interessa? E se estragam alguma parte da peça? Não interessa à pessoa que está a vigiar?». Assim como não interessa aos funcionários do piso de cima que esteja uma miúda a abrir um contador com a recomendação "não mexer"...

A cultura deve ser financiada pelo Estado para que todos tenham acesso a ela. Os professores que, no dia seguinte, podem levar os seus alunos; os estudantes que vão por sua iniciativa abrir horizontes; as famílias que querem dar mais aos seus filhos e, sim, os jornalistas para que sejam pessoas sempre bem (in)formadas.

terça-feira, 26 de março de 2013

O desacordo ortográfico

Não uso o Acordo Ortográfico (AO). No PÚBLICO é ponto de honra não usá-lo até ao momento em que for, de facto, obrigatório. E esta é uma decisão que não é consensual. Os leitores mais velhos agradecem mas os novos, aqueles que já lêem e escrevem segundo o AO podem não achar piada. Assim como os "novíssimos" leitores, os que ainda estudam e usam manuais escolares com o AO. Não é consensual quando os outros meios de comunicação já o utilizam e quando temos colunistas que usam e outros não.
O AO irrita-me pelos seus disparates.
Estou a escrever o Olimpvs.net e quero dizer: "Pedro pára", como segundo o AO o "pára" perdeu o acento, para não escrever "Pedro para", opto por "Pedro trava", não é bem a mesma coisa, mas serve o efeito. Agora tenho um helicóptero que "pára" por cima das águas e, depois de estar à frente do texto durante uns bons dez minutos, parada, encontro uma saída rebuscada "o helicóptero interrompe o seu voo e fica estático sob as águas"... Socorro!
Senhores, voltem a acentuar o "pára", por favor... Até porque se confunde com o "para"...
BW

domingo, 24 de março de 2013

José Tolentino de Mendonça em entrevista ao PÚBLICO

Este domingo, vale a pena ler na edição impressa a entrevista com o sacerdote e poeta José Tolentino de Mendonça.
Aqui fica um cheirinho:

Escreveu um poema para Bento XVI, já começou a escrever para Francisco?

O Papa Francisco é que começou a escrever um poema para nós e esse eu já comecei a ouvir.

Bom domingo!
BW

sexta-feira, 22 de março de 2013

Mobilidade dos professores

Não há empregos para a vida. Os trabalhadores do privado já o descobriram há muito, os do público começam a descobrir agora.
Mas as dificuldades que são colocadas aos professores são preocupantes. Como vão ensinar pessoas que estão deslocadas centenas de quilómetros, longe de sua casa, da sua família? Que motivação têm para trabalhar? Terão sequer dinheiro para se deslocarem?
Vamos apostar na emigração e no desemprego como oportunidades, como diz o primeiro-ministro? Parece que sim, que a aposta é mesmo no investimento na formação das pessoas para depois fazerem bem lá fora e quem fica, fica a minguar, a sufocar.
E a desculpa de Nuno Crato é lamentável: "Vivemos no mundo em que vivemos". Pois e se a minha avó não tivesse morrido ainda hoje era viva, apetece dizer. Desespera-me a resignação e a falta de uma política que pense nas pessoas.
Pertinente a reflexão de Maria de Lurdes Rodrigues no PÚBLICO Online.
BW

As Árvores que Comiam Papel

Há boas ideias e esta é uma delas: colocar máquinas fotográficas nas mãos de crianças e pô-las a fotografar. O resultado é um livro que é apresentado hoje, em Lamego!
BW

quinta-feira, 21 de março de 2013

21 de março
Fiquei à janela a ver a noite deitar os pássaros nos ninhos.



Esta é a frase que abre o diário de uma menina que, conforme a contracapa deste fantástico livro diz, "carrega um jardim na cabeça, atira palavras aos pombos e sabe quanto tempo uma sombra demora a ficar madura."

O livro do ano é a nova aposta da Alfaguara, com texto e ilustrações de Afonso Cruz.

Parabéns! Um livro de pensamentos e sonhos, para todas as idades.
Uma obra prima imperdível!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Os exames de antigamente

Ana Maria Bénard da Costa está aposentada mas trabalhou durante muitos anos no Ministério da Educação, é de lá que a conheço, de defender e de implementar a Educação Inclusiva, a declaração de Salamanca nas escolas, com o objectivo de ter uma escola para todos. As crianças com necessidades educativas especiais na mesma sala de aula que as outras, para bem de todos, para a educação para a cidadania (dos que não têm dificuldades) e para a educação real (dos que têm). Hoje está ligada à Rede Inclusão. Hoje escreveu um texto no PÚBLICO sobre a sua experiência nos exames do liceu, mais do que a recordação, o importante é a reflexão que faz.
BW

segunda-feira, 18 de março de 2013

sábado, 16 de março de 2013

sexta-feira, 15 de março de 2013

Há condições para fazer exames no 4.º ano?

A poupança, sempre a poupança, obriga a que os alunos do 4.º ano, nos dias em que vão realizar os exames nacionais, deixem as suas escolas, as suas salas de aula e vão para a escola sede de agrupamento, para as salas dos mais velhos, fazer os exames.
As escolas nem sabem muito bem como é que isso se põe em prática já que os alunos dos outros anos não estarão a fazer exames porque aqueles serão dias normais de aulas... É mais uma daquelas decisões tomadas no impulso da poupança. Pensa-se, diz-se, manda-se uma circular e depois a escola lá há-de arranjar uma solução, habituada que está a fazê-lo noutras circunstâncias.
Isso também me aconteceu mas por razões diferentes: como andava numa escola sem paralelismo pedagógico o exame era obrigatório para certificar que tinha sido bem ensinada. Fomos o dia todo para a secundária da zona, gigante à vista da nossa pequena escola. O dia todo porque tinhamos exame de cada uma das disciplinas (Português, Matemática e Estudo do Meio) e ainda havia umas orais para fazer no final. Lembro-me da ansiedade sentida por não estar na minha escola, da angústia de não ver a minha professora e do alívio que senti ao ver que tinha sido designada para a sala, para fazer a vigilância, uma das professoras da escola, que nos sorriu mal entrou, sossegando-me.
Aos oito/nove anos continua a fazer-nos falta a estabilidade – não faz falta a vida inteira? –, o conhecermos o espaço, o estarmos ambientados, o estarmos bem. Não vou dizer que os meninos vão ter piores resultados porque não estão no seu meio, mas era desnecessário obrigá-los a isto. Se não há condições monetárias para fazer exames, não se fazem que não vem mal ao mundo.
BW

Nostalgia do papel

Pela primeira vez, tenho alunos que acompanham a aula e a análise das obras do programa com um Ipad. Trocaram o papel, pelo digital. Pediram-me autorização, antes da aula, não fosse eu julgar que estavam a jogar! E explicaram: "Não tinha o livro e comprei-o mais barato assim". Assim no formato digital, leia-se.
Para mim, enquanto professora, isto é uma novidade. Tenho de mudar as sugestões e orientações que lhes dou, pois onde farão eles agora as notas, onde colocarão os post-its, como dobrarão o canto da página? Bom, bem sei que muitas destas possibilidades são possíveis num tablet e que este discurso é um pouco saudosista...
Em momentos de maior clarividência o que costumo dizer é que o importante é que eles leiam, não interessa onde nem como!
Mas, hoje, apesar de saber que o digital os atrai, a mim, ainda me apetece o papel...


quinta-feira, 14 de março de 2013

"Buona sera...", disse Francisco

Quarta-feira foi um dia bom.
Gostei imediatamente de Francisco quando assomou à varanda e disse "Buona sera, fratelli e sorelle" (não sei se está bem escrito, desculpem). Não disse "que Deus esteja convosco" ou "Caros irmãos", nada disso, falou para os "irmãos e irmãs". Disse que era o "bispo de Roma", repetiu-o umas três vezes, como quem diz que é igual aos outros, ao bispo do Porto, de Bragança... ele é o de Roma. Pediu a benção antes de a dar e inclinou-se. O silêncio na Praça de São Pedro foi maravilhoso e fez-me pensar o quanto é preciso o silêncio para nos recentrarmos no que é importante.
Francisco parece ser simples e humilde. Meteu-se no autocarro com os outros cardeais e regressou à casa de Santa Marta, recusando ir num carro sozinho. Diz que João XXIII, dois dias depois de ser eleito foi aos correios meter umas cartas, deixando a cúria em polvorosa e a guarda suíça preocupada com a sua segurança. Imagino Francisco a fazer o mesmo!
Gosto do nome que escolheu. Lembrou-me imediatamente São Francisco de Assis, a sua coragem em enfrentar os poderes instalados, o amor aos pobres, a importância que deu às mulheres, permitindo que Clara o seguisse.
Horas depois, um amigo envia um SMS com a pergunta: "Assis ou Xavier?" e recordei São Francisco Xavier, o missionário jesuíta (da mesma ordem que o novo Papa), o homem que morreu às portas da China depois de 15 anos de missão pelo Oriente.
Curioso como estes dois Franciscos, tantos séculos depois, podem ser inspiradores e decisivos na agenda papal!
Parece que os restos mortais de Francisco, o vidente de Fátima, foram trasladados para a basílica do santuário no dia 13 de Março de 1952. Mas muito honestamente não me parece que esta criança estivesse nos pensamentos de Jorge Mario Bergoglio quando escolheu o nome de Francisco.

Quarta-feira foi um dia que terminou bem.
No Centro Cultural da Ponte, em Lisboa, um grupo de mulheres acolhe-me com grande hospitalidade. A conversa começa e flui com facilidade. A hora prevista para conversarmos depressa ultrapassa os 60 minutos que se multiplicam por dois, estariamos ali mais tempo a falar sobre jornalismo, sobre o seu futuro, sobre os dilemas e os dramas que o negócio vive. Ao contrário do eng. Belmiro, meu empregador, que não nos conhece e acha que os jornalistas do PÚBLICO escrevem "asneiras" e os seus directores são uns "cagarolas"; naquela sala estavam pessoas que nos conhecem pelo nome que sabem que o Ricardo Garcia escreve sobre Ambiente, que o José Vítor Malheiros sabe tudo sobre ciência, que o Paulo Moura é um repórter de primeira; pessoas que lamentam alguns nomes que foram na leva do último despedimento – não avaliam?, perguntam; pessoas que olham de maneira crítica para o jornal em papel, que são fãs do novo site. Em suma, que respeitam os jornalistas e o jornalismo.
No final, a moderadora oferece "A minha sala de aula é uma trincheira" ao centro e convida-me a fazer uma dedicatória, esqueço-me da data. "Uma data tão importante!", dizem algumas das participantes, referindo-se à escolha do Papa.
Foi a melhor maneira de terminar o dia.
BW

quarta-feira, 13 de março de 2013

Lisboa está tão longe

Na noite de segunda-feira estive na residência universitária dos Montes Claros, em Lisboa, a conversar com um grupo de quase três dezenas de jovens universitários, das mais variadas áreas. Rapazes interessados, empenhados, curiosos, com ideias próprias, com certezas e com argumentos para as defender. O mote era os "Dramas do Ensino em Portugal" e conversámos sobre uma série de temas. Da educação inclusiva – "concorda que os alunos do ensino especial estejam na mesma sala que os outros?" – ao ensino diferenciado – "o que pensa sobre rapazes e raparigas terem aulas separados?", passando pelo cheque-ensino, pela liberdade de educação, pela autonomia das escolas, pela liberdade de não estudar – "concorda que o Estado obrigue a que se façam 12 anos de escolaridade?". Falou-se do ensino alemão e da necessidade (ou não) dos nossos alunos terem mais disciplinas no secundário, de modo a que adiem a escolha que actualmente fazem no 9.º ano.
No final, depois das despedidas ainda vieram dois estudantes fazer mais uma ou duas perguntas e uma tocou-me: "O que posso fazer, sendo um membro exterior à escola, não sendo professor, não pertencendo ao Governo, para melhorar a educação?".

Na manhã seguinte, terça-feira, estou na EB 2, 3 de Pegões, uma zona rural do outro lado do Tejo. São alunos do 7.º, 8.º e 9.º anos para ouvir falar do Olimpvs.net.
Estão atentos, sossegados, mas são pouco curiosos, desinteressados, fazem poucas perguntas, há momentos de silêncio quase incómodo entre o terminar de uma resposta (minha) e uma nova pergunta (deles). Não têm hábitos de leitura regulares, explica a professora bibliotecária, uma mulher motivadíssima, cheia de ideias que põe em prática para que os alunos e as suas famílias leiam. Há alunos que a primeira vez que vão ao Montijo, a sede do concelho, a 30 quilómetros, é com a escola. Há alunos que a primeira vez que passam a ponte Vasco da Gama é com a escola, revela, no final das duas sessões.
E é nestas alturas que eu admiro mais ainda a escola e os professores.

De volta aos Montes Claros e à pergunta sobre se as famílias deviam ter liberdade para decidir se querem que os filhos façam o 12.º ano ou não, porque pode haver alunos que queiram ajudar os pais, por exemplo, argumenta o universitário. Não. Acho que o Governo socialista fez bem em ter prolongado a escolaridade para os 12 anos porque quanto mais tempo as pessoas estiverem na escola, mais vão viver, mais vão aprender, mais vão ser. Agora, é um facto que a oferta tem de ser, verdadeiramente, diversificada. Ou seja, é preciso existirem mais cursos profissionais que preparem para profissões reais e é preciso perdermos a vergonha de dizer "o meu filho está no curso profissional".
Quando se fala de um ensino mais abrangente no secundário. Sim, é uma boa sugestão, a maior parte dos alunos não está preparado para decidir aos 14 anos. Mas a verdade é que o ensino já é acusado de ser extenso no 3.º ciclo precisamente por ter tantas disciplinas.
Quando me perguntam sobre a educação inclusiva. Sim, sou completamente a favor que a criança com deficiência cognitva esteja na mesma sala desde que salvaguardados os seus direitos e os direitos dos que conseguem aprender. É até uma questão humana, de cidadania, de aprendizagem a viver com o outro que é diferente e que existe.
Quando me perguntam sobre o ensino diferenciado. Porque não? De facto e está provado, as raparigas amadurecem mais cedo do que os rapazes, podem perfeitamente estar sozinhas numa sala de aula com um professor e os rapazes noutra, desde que se encontrem no recreio, na cantina, nos espaços comuns, porque é importante crescer ao lado do sexo oposto.

Mas todas estas questões, válidas e pertinentes, não são os reais "Dramas do Ensino em Portugal". Estão longe do país real, o país onde a 30 quilómetros da ponte não a atravessamos porque os nossos pais não podem, nem sabem por que hão-de atravessá-la, porque não têm curiosidade ou possibilidade de o fazer. É por causa de todos os meninos que ficam longe das sedes de concelho, das capitais de distrito, da capital do país; é por causa dos meninos que mesmo perto estão longe, que as áreas não curriculares são importantes, que o Magalhães é importante, que o ter uma boa escola com óptimas instalações é importante. Em resumo, que investir na educação é importante porque o país continua a ser demasiado assimétrico.
BW

Encontro no Centro Cultural da Ponte, em Lisboa


terça-feira, 12 de março de 2013

Ainda o Justin

Na escola, no dia a seguir do concerto:
1. "A M. viu o Justin entrar no Pavilhão Atlãntico!", anuncia a C, ao aproximar-se do grupo de amigas.
"AAAAHHHHHHHHH!!!", grita a B, durante cinco minutos, aos saltos.
"Mas estás a gritar porquê?", pergunta a minha filha à amiga.
"Porque a M. viu o Justin entrar!!!", continua a B, a gritar.
"E então?! Não foi para isso que foi ao concerto?", torna a minha filha.
"Sim! Mas ela viu-o entrar!!!"
"E ele não tinha de entrar para dar o concerto...", relativiza a minha filha, encolhendo os ombros.

2. "A R. tocou-lhe na perna!", informa a C.
"AAAAHHHHHHHH! Foi com que mão? Com que mão?! Nunca mais podes lavar as mãos!!!", diz a B, aos saltos.

No trabalho:
Conta-me a Cláudia Carvalho, jornalista que fez as reportagens antes, durante e após o concerto que o que mais a impressionou foram os miúdos, também há seguidores do sexo masculino, que admitiram sofrer de bullying porque são fãs do Justin Bieber. "Mas não faz mal porque o Justin dá-me apoio, porque eu sei que ele está lá para mim", responderam vários desses miúdos.
É como uma religião? É como um deus?
BW

segunda-feira, 11 de março de 2013

O Bieber não é importante

A reportagem da Cláudia Carvalho diz tudo, mas eu gostava de acrescentar mais uma coisinha!

Ontem à noite estava no aeroporto à hora a que o avião onde vinha o Justin Bieber aterrou. Vinha de Londres, tal como o meu filho. "Se calhar o mano veio no mesmo avião", digo à minha filha, uma "não fã" impressionada com o número de fãs que esperava o cantor de 19 anos.
Na área das chegadas, umas 30 adolescentes. Cantam e o tom sobe quando as portas se abrem ou quando alguém diz saber de qualquer coisa. Há momentos em que se levantam e começam a correr, com ar alucinado, para outras áreas do aeroporto para, de seguida, voltarem ao local de origem e continuarem a cantar.
Finalmente o meu filho e os colegas – que participaram numa prova internacional, representando o país e não ficaram mal classificados –, saem e são surpreendidos com aquela comitiva de miúdas da mesma idade.
"Viram o Justin?"; perguntam algumas, ansiosas.
"Esse panisga?! Não", responde um dos rapazes com um sorriso, fazendo os outros rir.
"Uuuuuhhhhhh!", gritam as miúdas, furiosas, mesmo zangadas, à medida que eles se afastam.
"Ehhh!", grito eu, batendo palmas, na tentativa de reparar tão má recepção.
Abraçamo-los, damos-lhes os parabéns, dizemos-lhes o quanto nos orgulham e o quanto, mesmo sem o país saber, mesmo sem aquelas miúdas saberem, orgulham Portugal. Despedimo-nos e regressamos a casa. No dia seguinte há aulas, mesmo que eles tenham acordado de madrugada, desde sexta-feira, para irem, para treinarem, para fazerem a prova, para voltarem. No dia seguinte há aulas, horários para cumprir, testes para fazer e novos treinos.
As miúdas permanem na sua vigília, à espera que Bieber saia pela mesma porta que os comuns dos mortais. Há pais a acompanhar aquelas meninas, dos 12 aos 15/16 anos, às 22h45 (hora a que chegámos, seguramente que estavam lá há mais tempo) até às 23h30 (hora a que saímos), em véspera de dia de aulas. Há pais a acompanhá-las, frente ao Pavilhão Atlântico, miúdas que estão desde dia 2 à porta do sítio onde o canadiano vai cantar. Estão a faltar às aulas desde então. Há pais que permitem (?) que as miúdas façam tatuagens com o nome do cantor.
Ser adolescente é isso mesmo: excesso! Mas, por vezes, falta a moderação (que não é própria da adolescência); e o sentido do ridículo. Por isso os pais são importantes nestas alturas, não para alimentar a coisa, mas para a moderar e relativizar.
BW


Encontro na residência Montes Claros, em Lisboa

sexta-feira, 8 de março de 2013

Onde estão os livros?

Entro no comboio, sento-me e abro "O meu filho fez o quê???" para terminar a apresentação que tenho de fazer na Póvoa de Lanhoso e em Gaia – faz hoje precisamente uma semana. Escrevinho à mão.
Ao meu lado senta-se um rapaz que saca do iphone e entra no Facebook. Do outro lado do corredor está um senhor no Facebook do ipad. Há computadores ligados por toda a carruagem.
Em Coimbra, o rapaz despede-se e o senhor também. Entram três estudantes que me ladeiam. Não há equipamentos da Apple mas outros mais acessíveis. Um abre o portátil para jogar, o outro para ver um filme com headphones na cabeça. O rapaz que se senta ao meu lado abre um livro de Ciência Política.
Serão os alunos de ciências sociais os últimos leitores, pergunto-me ao observá-lo.
No regresso a Lisboa sucede exactamente o mesmo, iphones e ipads serve para jogar como os gameboys e não para trabalhar ou para ler. Desconhecem que há app de livros?
As novas tecnologias são fantásticas, maravilhosas, ligam-nos ao mundo. Nunca antes estivemos tão ligados, mas nunca antes estivemos tão ausentes e tão acríticos.
BW
PS: O encontro na Póvoa de Lanhoso revelou pais interessados, curiosos, motivados. Parabéns à Associação de Pais da EB1 com JI da Póvoa de Lanhoso e ao agrupamento!

Feliz dia!

quinta-feira, 7 de março de 2013

Os avós firmes e pacientes

Há quem diga que os avós estragam os netos. Não os que estão na mesma sala de espera que eu!
À minha frente, sentados à mesa estão um avô e um neto. O rapaz abre o livro de Língua Portuguesa do 1.º ano e informa: "Vou ter teste" para dizer, logo de seguida, "não sei o que vai sair". Paciente mas firme, o avô pede-lhe que abra o livro. O rapaz ri, brinca com o livro. Sério, o avô recomenda "não se ri, abre o livro". O rapaz acaba por ceder e começa a estudar.

Do outro lado da sala, uma avó pede à neta que vá confirmar que a aula do irmão já acabou. A brincar com as amigas, a menina de cinco anos recusa obedecer. A avó insiste, ela abana o corpo mimado e pergunta "mas porquê?", contrariada. "Porque eu estou a mandar", responde a avó sem mais explicações. A pequena levanta-se obediente.

Na outra ponta, outra avó abre a revista Sábado e pede à neta de nove anos que identifique a classe das palavras. "Não sei, não dei", responde a miúda, desejosa que a avó desista. Nada feito, a avó insiste e ela também e choraminga "Ó avó. Não sei, a minha professora não deu..."
Os olhos lacrimejam e a avó insiste. "Vou à casa-de-banho", anuncia a menina com o nariz a pingar. "Não vais não, ficas aqui. Que palavra é esta?". "É um adjectivo". "Não, não é", responde a avó. "É! Tu não sabes! A avó não percebe nada, agora já não se aprende da mesma maneira..."
Sem mudar o semblante a avó responde "mostra-me a gramática". "Está na escola e só posso trazer quando a professora der autorização". "No fim-de-semana trazes a gramática... e assoa o nariz", responde a avó inalterada.

São firmes e pacientes os avós, fossem os progenitores já tinham desistido e dado o telemóvel para a mão como fez um pai, ao meu lado, só para não argumentar com a criança.

BW

What a perfect day