Pedro Tadeu, subdirector do
Diário de Notícias, ontem queixava-se do plágio que as televisões fazem aos trabalhos que os jornalistas da imprensa escrita realizam.
Dizia:
"Vi, domingo passado, o Telejornal. Em destaque esteve o tema das nomeações políticas. Uma peça de largos minutos detalhava os números. Foram feitas, pelo Executivo de Passos Coelho, 450 nomeações, 73 das quais entregues a membros do PSD e do CDS. A peça alertava para o facto de todas as nomeações ainda não serem conhecidas e comparava estes números com o dos anteriores executivos. Resumindo e concluindo: a RTP repetia um trabalho de quatro páginas publicado nesse dia pelo Diário de Notícias.
Quase tudo o que vemos nos noticiários televisivos é tirado, copiado, reciclado ou transformado da imprensa. É uma normalidade a que, aparentemente, ninguém dá importância. A RTP, que não estou aqui a acusar, limitou-se a praticar o que é aceite por todos."
No dia seguinte, o PÚBLICO trazia uma entrevista a Macário Correia que foi aproveitada por todas as televisões, sem nunca citarem o jornal.
Assim que comecei a trabalhar, tive logo essa experiência, a de ver um trabalho meu lido, repito, lido, na televisão. O mesmo voltou a acontecer vezes sem conta... Acreditem que é revoltante ouvir parágrafos inteiros, escritos por mim, lidos (nem sempre com a melhor dicção) por "jornalistas" televisivas, aquelas que chegam aos serviços lindas e carregam os tripés dos camaras com um ar muito profissional, as que nos perguntam, depois do ministro falar: "disse alguma coisa nova? Desculpa lá, mas eu não acompanho a área..."
Eu aprendi a citar sempre, mesmo a concorrência directa. Se eu não consigo falar com a pessoa
x, que disse
y ao
DN, e é mesmo importante, cito-o. Qual é o problema?
Também não é fácil ver o
Sociedade Civil, na RTP2 pegar em temas que eu escrevi e pespegá-los em tardes de debate. Há uns anos, reparei que em duas semanas seguidas tinham agarrado em vários temas sobre os quais eu escrevera (fora à procura das histórias, aquelas eram fruto da minha curiosidade, da minha necessidade de procurar trazer algo de novo aos leitores). Mandei um
email que chegou ao director da produtora, este mandou-me ir fazer jornalismo para o fundo do mar ou para o espaço, onde as histórias seriam só minhas. Já Fernanda Freitas, a apresentadora e jornalista, foi mais conciliadora e explicou que a equipa de "jornalistas" procura os temas mais interessantes que saem na imprensa. Um elogio?
Este ano, deu-me algum gozo ler o trabalho de uma colega, na
Notícias Magazine, sobre um tema com o qual eu tinha ganho um prémio de jornalismo, há uns anos, e ela, nesse mesmo ano, tinha recebido uma menção honrosa. Sei lá, achei divertido!
Em suma, é exigente ser jornalista da impresa escrita. Porque aos outros basta pôr uns sons no ar (no caso da rádio, por exemplo, a TSF dá notícias do PÚBLICO nunca citando) ou umas imagens, nós temos de dar o contexto, temos de saber dos temas sobre os quais escrevemos, temos de procurar novos ângulos, ter novas ideias, etc, porque respeitamos quem nos lê, porque acreditamos que só escrevendo coisas novas é que o leitor vai continuar a procurar-nos nas bancas.
BW
PS1: Conheço bons profissionais na rádio e na televisão. Pessoas que não fazem nada do que acabei de escrever, que procuram histórias novas, que são excelentes jornalistas. Claro que também nós, os da imprensa escrita, podemos "copiar" um tema televisivo ou radiofónico mas, no meu caso, procuro sempre um ângulo novo. Com certeza que também as rádios e as televisões têm "cachas" e aí, é como digo, cito sempre, porque o mérito foi deles e não meu!
PS2: Já não me recordo se já aqui escrevi, se sim, repito-me e desculpem: a trabalhar directamente com estagiários, apercebo-me que fazem plágio sem terem noção da gravidade da coisa, traduzem textos de jornais internacionais ou "picam-nos" das agências e assinam com o seu nome, como se fosse fruto do seu trabalho. Vêm assim habituados da universidade onde parece que os professores não lhes dizem nada.