sexta-feira, 4 de março de 2011

Guerra de gerações?

Irritam-me os críticos à "geração parva", "geração à rasca" ou como quiserem chamar à geração que vai dos 20 aos 35 anos (parece-me que os agricultores são jovens até aos 40, uma idade bonita para se continuar a ser designado como "jovem"!) que vai estar na rua em massa (espero) para exigir o que tem direito, como fazem as classes profissionais quando não estão satisfeitas com a sua vida. Um direito, de resto.
Irritam-me que digam, como diz Helena Matos, Pedro Lomba (de resto um jovem da geração de 1970) e outros, que estes jovens querem as mesmas condições de trabalho que os pais e que o mundo não está para isso. Qual é o mal?, alguém me responde?
Porque é que um jovem não pode sonhar com um trabalho estável, com dignidade, de preferência na área em que estudou? Porque é que um jovem não pode ambicionar um trabalho digno, que lhe permita ser feliz, constituir família e cumprir o seu plano de vida?
Ah! Porque a geração de Helena Matos e as que a antecederam não pensaram nas gerações seguintes! Pronto, está explicado, e por isso, olham para estes jovens como uns "malandros", que querem o mesmo que os pais tiveram, imagine-se a ousadia!
Eu, que só seria jovem se fosse agricultora, também gostava de chegar à idade da reforma e ter reforma e não vou ter. Não vou ter, não porque a ideia do Estado Social esteja errada mas porque quem a pôs em prática não foi honesto, abusou, esquecendo as gerações seguintes.
Mas quando eu chegar à idade da reforma e tiver que trabalhar para continuar a sustentar Helena Matos e afins já sei o que é que a senhora me vai dizer: "Paciência! A Bárbara queria reforma? Só há esta, é para mim! Onde é que já se viu, querer reforma, como os seus pais! O mundo mudou, a economia mudou, a demografia mudou..."
Entretanto, vou continuar a descontar 35,5 por cento para os senhores das gerações ancestrais continuarem a desbaratar, a acumular reformas, a aposentar pessoas aos 50 anos de idade para manter os lucros das empresas.
Apesar de não ser jovem, de ter o trabalho que gosto, que me preenche e me enche os dias, se estivesse em Lisboa no dia 12, iria para a rua. Pelos meus filhos que daqui a dez/15 anos querem estar no mercado de trabalho, querem ter um trabalho digno que os preencha e os faça felizes, querem ter projectos de vida e de futuro. Pelos meus filhos e com os meus filhos, de maneira a que compreendessem a importância de lutar pelas coisas em que se acredita, mesmo que alguém lhes diga: "Pfff! Não é possível terem as mesmas condições que os vossos avós!".
BW

4 comentários:

  1. Concordo consigo que não há mal nenhum em querer isso. O problema, e a crítica, é que a manifestação ora:

    - exige que seja o estado a fornecer emprego para a vida e salário acima de 1000 € (como muito se vê nas criticas como um salário abaixo do que a maioria acha que merece), o que simplesmente já não é possível.
    - ou então apenas se manifesta pelo direito a um emprego não precário, como se o direito a ter algo fosse a garantia de o obter. Não há ninguém que está a proibir a geração nova a ter isso. A manifestação não apresenta ideias para lutar contra o problema.

    Ninguém está a dizer que "não pode ambicionar um trabalho digno, que lhe permita ser feliz, constituir família e cumprir o seu plano de vida". O erro é achar que o não conseguir isso é porque há má vontade politica e não me dão isso...

    Os jovens têm medo de afirmar que é o excesso de protecção do empregado que empurra as ofertas para os recibos verdes. Têm medo de dizer que é o excesso de protecção a aqueles menos formados que eles que não lhes permite obter emprego.

    Não é possível gerações futuras terem as mesmas condições, porque isso está a levar o país à ruína. Ou muda o modelo de emprego para a vida e o estado sustenta todos que não pouparam, ou então não muda nada e a geração futura nada terá.

    O problema da manifestação é que ora quer algo que não é possível ter, ou apenas reclama sem reclamar alternativas viáveis.

    Esta geração não tem comida em casa, não está disposta a sair de casa para a ir buscar, e vai berrar com esperança que alguém resolva o problema...

    e assim vai o país vivendo de fantasias que ter direitos é ter garantias...

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  2. O que está a levar o país à ruína não são os jovens com recibos verdes, não são as pessoas que trabalham por conta de outrém e recebem 1000 euros.
    O que leva o país à ruina - e eu sei que não é tão liquído assim - são as benesses que todos acham que merecem. Porque é que um CEO tem que ter carro de alta cilindrada da empresa? Tem que ter cartão para a gasolina, cartão de crédito para despesas pessoais? Ganha um bruto ordenado e não gasta um cêntimo porque em paralelo tem um cartão para despesas pessoais, um carro da empresa de alta cilindrada e a gasolina gratuita. Merece? Sim, dá lucro aos accionistas. Mas dá lucro sozinho? Trabalha sozinho?
    Porque é que as garagens das multinacionais portuguesas estão cheios de carros de luxo e as mesmas empresas, noutros países europeus e nos EUA, não têm essas frotas de luxo? Porque nós somos assim, ridículos, novos ricos, precisamos de mostrar ao outro que "eu é que sou o CEO, o director, com um carro condigno à minha posição". Ou o empresário de esquina que dá maus ordenados, não paga segurança social dos trabalhadores, trabalha por fora, sem recibos, nem facturas e tem a vivenda com piscina e estábulo para os cavalos.
    Estas pessoas têm direito a ter estas coisas? Têm. Foram elas que trabalharam para as ter? Sim. Mas, repito, não o fizeram sozinhas. Falta pensar no outro. Há um lado altruista que é necessário se queremos viver numa sociedade mais justa.
    O erro está na má gestão, na má distribuição dos rendimentos e isso é que leva o país à ruína, não são os jovens que querem ganhar mais de 1000 euros. Mas concordo consigo: faltam ideias, alternativas. BW

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  3. Bárbara Wong
    É a segunda vez que envio comentário (como ontem aconteceu em relação a este post) e não é publicado, o que sendo um direito dos Administradores dos blogues só pode querer dizer três coisa: não chegaram ao destinatário, o destinatário não reparou, ou...

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  4. Provavelmente não chegou. Nós só censuramos asneiras, mas asneiras mesmo, tipo M****, C****** e afins! Ou insultos, isso também não gostamos! O que, acredito, não é o seu caso, tente de novo, por favor. BW

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