segunda-feira, 28 de março de 2011

Decisões

Se tivesse de escolher qual a tarefa que os professores mais desenvolvem ao longo de um dia de trabalho, eu diria "decidir". Há decisões tomadas com tempo, preparadas, por assim dizer, como que texto usar naquela turma, que trabalho de grupo propor, que visita de estudo realizar, por que aspecto da matéria começar, etc. Algumas destas decisões até são partilhadas, com os colegas que leccionam o mesmo ano, com coordenadores ou directores de turma até.

No entanto, 90% das decisões têm de ser tomadas na hora.
Sozinhos.
Na sala de aula.
Em frente aos alunos.
Fingir que não se viu um aluno mexer no telemóvel?
Responder ou não ao comentário que o aluno fez ao vizinho do lado?
Repensar a aula quando um recurso falha, o computador ou internet, por exemplo. Quando uma fotocópia não tem o verso. Quando os alunos que iam apresentar trabalho adoeceram todos naquele dia. Ou não trouxeram o material. Quando não conseguimos dar a aula de pé pois não nos sentimos bem. Quando eles ou nós tivemos uma má notícia. Quando mil e uma coisas acontecem.


Estamos em constante processo de adaptação. Não há monotonia na nossa profissão. Não há rotina na sala de aula. É bom? Claro. Desafiante? Sem dúvida. Estimulante? Ninguém duvida.


Agora não me venham dizer que isto não cansa. Que temos férias para dar e vender. E não insistam em dizer que aos 65 anos vou ter a mesma energia ou capacidade de decisão que tinha aos 25. Não me venham dizer que as decisões são fáceis. "São só miúdos." Não é simples. Uma palavra errada pode estragar tudo. Todos nós sabemos a importância que tem a palavra certa, do professor certo, na hora certa. Imaginem o contrário.

Ana Soares

5 comentários:

  1. Boa reflexão! Mas devo dizer que a conclusão se aplica a qualquer profissão. Ora experimente ler o último parágrafo à luz de um enfermeiro, de um médico, de um varredor de rua, de um empregado de balcão, de um informático, de um padeiro. …todos estaremos com menos energia ao 65 anos! Todos temos que lidar com os nossos clientes/fornecedores/patrões e accionistas…………e agora não resisto: mas apenas alguns são avaliados pelo caminho!
    Mas parabéns pelo Blogue!

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  2. É verdade que ninguém está igual aos 65. Mas há quem queira fazer crer que, no caso dos professores, isso é irrelevante, pois, até lá, têm muitas férias para descansar...

    Quanto à avaliação, reitero: todos devem ser avaliados. O "como" consensual é que é o problema...

    Obrigada,

    AS

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  3. A avaliação a eito é uma «invenção» recente. E veja-se os belos resultados que tem, pois o mundo está muito melhor, a funcionar rumo ao Éden como nunca.

    O meu pai trabalhou numa multinacional mais de 30 anos e a sua avaliação anual «resumia-se» à constatação do cumprimento ou não da função e à assiduidade. Todos os anos, até que a saúde o começou a trair, recebia um prémio chorudo por não ter faltas.

    Para não dar razão a essa sumidade que dá pelo nome de filho de Sophia, fujo do exemplo dos professores e centro-me no dos médicos: que sistema de avaliação «fiável» e adequado se pode aplicar aos médicos?

    Pela número de doentes que observam diariamente, como estes imbecis que nos desgovernam já quiseram?
    Oh, senhores!

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  4. Ler http://vaievem.wordpress.com/2011/03/29/avaliacao-para-que-somos-todos-excelentes/

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  5. Tenho três filhos, tenho de tomar decisões dessas em cima da hora a todo o instante, mas a verdade é que quem está com eles várias horas seguidas, cinco dias por semana, são os professores deles!

    Acho que só quem não é mãe/pai, ou mãe/pai atento e empenhado, é que pode desvalorizar o trabalho dos professores!!!


    Marta Amaral

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