segunda-feira, 1 de junho de 2015

No Dia da Criança não lhe dê um tablet

O bebé, talvez tenha um ano, está a dormitar no carrinho, enquanto os pais assistem à missa da Primeira Comunhão do irmão mais velho. Com o barulho conjunto de toda a comunidade a levantar-se, o bebé abre os olhos, ainda estremunhado é presenteado com um smartphone. O bebé agarra-o e começa a brincar.
Onde estão os bonequinhos de pano, aqueles da Cristina Siopa? Rocas não pode ser porque fazem barulho, mas um bonequinho ou um livro maleável para aprender a mudar as páginas, para descobrir os animais... Não, toma lá um smartphone e sossegadito!
Há uns tempos vi um vídeo, daqueles virais, que mostrava uma menina com pouco mais de ano e meio a tentar mudar as páginas de algumas revistas como quem muda de ecrã no tablet. E lá estava ela de dedinho espetado a passar por cima das capas, mas a imagem não mudava.
Como é importante que eles saibam folhear um livro, fazê-lo da direita para a esquerda, compreender como se mudam as páginas, a lógica da leitura. Podem fazê-lo só quando chegarem ao pré-escolar, mas o ideal é que o saibam fazer antes de começarem a ir para o jardim-de-infância.
Como são importantes os livros, as histórias contadas antes de adormecer, as perguntas que eles fazem, os mimos... Lembro-me sempre do livro "Adivinha quanto eu gosto de ti", como é bom, ternurento, calmante depois de um dia de correrias e como ajuda a criar laços entre pais e filhos. Melhor que mil jogos no smartphone ou no tablet!
Ah, mas esta é uma geração diferente, muito mais informada e é isso que queremos para os nossos filhos, que sejam os 'mais qualquer coisa'!
Depois da primeira comunhão há festa e converso com um amigo, professor universitário, que se queixa da impreparação com que chegam ao 5.º ano do mestrado integrado. "Eles têm acesso a tudo mas não sabem ler, interpretar, pensar para além do que lêem. É tudo demasiado imediato e aparentemente fácil. E depois queixam-se 'ih... ó professor, mas está a pedir-nos para nos lembrarmos da matéria que demos no 2.º ano?...' querem que eu lhes faça a papinha toda, não pode ser."
O acesso imediato às novas tecnologias tem este lado negativo – já não há enciclopédias para consultar, livros para ler, existe o motor de busca e se não estiver lá é porque não existe –, mas há outros. E regressamos aos mais pequenos. Um tablet não substitui o manusear os blocos, as peças dos legos, os bonecos da playmobil, e, acima de tudo, não pode substituir a relação dos pais com os filhos.
Dá trabalho estar a brincar com eles? Dá trabalho ensinar as cores? Dá trabalho dizer que isto é um cubo e aquilo uma esfera? Não devia. A relação pais e filhos não deve dar trabalho, mas alegria, orgulho, felicidade.
É mais fácil pô-lo à frente da televisão a ver um programa pedagógico? É mais fácil pô-lo a ver um dvd? É mais fácil passar-lhe o telemóvel para a mão? É. Mas o que se perde na relação entre os pais e os filhos pode ser irrecuperável.
E depois eles chegam à escola completamente desaustinados porque a professora não tem lá um smartphone para cada um, para os entreter. E depois dizem que os meninos sofrem de hiperactividade, que não conseguem estar concentrados, défice de atenção. Sim, é isso mesmo, têm falta de atenção, falta de educação.
BW


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