domingo, 31 de maio de 2015

A importância de saber falar e vestir

Chega o tempo quente e as roupas diminuem. A escola deve intervir neste tema, o do vestuário, pergunta um professor, na escola Inês de Castro em Gaia.
Há escolas que já o fazem, respondo. Não há calções, tops ou chinelos no interior do estabelecimento de ensino. Há escolas que vão mais longe, as privadas, que substituem a roupa do dia-a-dia por uniformes.
O uniforme é óptimo para as manhãs dos pais, só há aquilo para vestir por isso não há como discutir se a criança se demora muito a escolher a roupa ou a pedir-lhe para trocar os calções da praia pelas calças. O uniforme é óptimo para a escola, os seus alunos publicitam-na por onde passam – "Olha, aquele anda no... Olha, aquela é do..." O uniforme também pode ser bom para os alunos, andam todos de igual e ponto, não há marcas, não há roupas baratas ou caras.
Mas apesar de todos os aparentes benefícios do uniforme, prefiro que não o usem. Prefiro que sejam eles a escolhê-lo porque, a verdade, nas escolas onde o uniforme não é obrigatório, todos andam de uniforme, as roupas deles e delas são todas iguais, as marcas que privilegiam são as mesmas.
Deixá-los ter liberdade para as escolher desde que o façam connosco e aqui o papel dos pais é fundamental. Educá-los. Educá-los para saberem que não é apropriado usar uns calções de praia e uns chinelos para ir para a escola ou para a faculdade. Educá-los para saberem que "vestir bem" não é envergar uma roupa própria para ir a um casamento ou à discoteca.
Se há uns tempos não era preciso dizer isto a ninguém, há três anos que – desde que me chegaram umas estagiárias de top, calções e alpercatas à redacção – que passei a ter de explicar como se veste num local de trabalho. "Estás bem para ir para a praia, não para ires a uma conferência de imprensa com o ministro das Finanças... Não podes ir porque estás a representar um órgão de comunicação social e não o concurso da miss t-shirt molhada."
Além de explicar como se vestem – era em casa que deviam ter aprendido; e se não o fizeram, então na escola e na faculdade alguém lhes podia ter chamado a atenção. Por isso, as regras nas secundárias são um bom princípio –, também os ensino a falar. "Não se trata ninguém por 'você', mas pelo título, 'senhor ministro', 'senhor director', 'doutor', 'engenheiro', 'professor'. Ou se a pessoa te disser para a tratares pelo seu nome, não dizes 'você isto, você aquilo', mas 'o Nuno isto, a Maria aquilo'."
Talvez porque estejam habituados a comunicar por mensagens, não sabem como se fala ao telefone. Mais uma aula. "Bom dia, o meu nome é Mariana Alcoforado, sou estagiária no PÚBLICO, desejava falar com o marquês de Chamilly, é possível?". Ensino a dizer 'eu aguardo', 'por favor', 'obrigada', 'até à próxima'....
Há uns tempos, uma estagiária deu-me um recado e quando terminou eu respondi-lhe: "Não é 'poqe', é 'porque'; não é 'tá', é 'está'; não é 'po' é 'por'; não é 'tefonei', é 'telefonei'. Se não souberes falar correctamente, como é que a pessoa com quem estás a falar confia no que vais escrever? Como é que ela te vai respeitar profissionalmente?"
Cabia à escola ensinar-lhes tudo isto? Não. Há família. Mas, na escola, se ouvirem os adultos a falarem bem, de certeza que aprenderão a fazê-lo.
BW

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