No pátio, ele aparece por detrás dela, aperta-lhe o pescoço e pendura-se. A rapariga desequilibra-se, dá um grito de surpresa e de dor. Ele larga-a e ri-se. "'Tás parvo?!", atira-lhe ela. "Estava a gozar...", responde o rapaz, 17 anos, sorrindo, mas rapidamente o rosto se fecha e acrescenta: "Mas eu vi que estavas a olhar para aquele." Ela ainda tem a mão esquerda a massajar o pescoço quando atira a direita contra a cara do rapaz, com força, esbofeteando-o. "És mesmo parvo."
No que resta do intervalo, os dois não se falam, nem se olham. Mas no intervalo seguinte já estão juntos, como se nada se tivesse passado. Ele já lhe fez várias cenas de ciúme, mas ela gosta dele, o que é que se há-de fazer? "Não é por mal, gosta de mim..."
Um em cada quatro jovens acredita que a violência no namoro é normal, revela um inquérito da UMAR. Em Abril, um relatório da PSP revelava que de 2013 para 2014, as queixas por violência no namoro aumentaram 50%, a PSP passou a receber mais de quatro queixas por dia. Porque a violência no namoro existe, o Governo lançou, em Fevereiro, uma campanha chamada "Quem te ama não te agride" e tem uma frase fundamental, que resume tudo o que os miúdos deviam saber sobre o tema: "Se alguém te agride, se alguém te humilha, se alguém te controla, se alguém te isola dos amigos, isso não é amor, é violência."
Confesso que tenho sempre expectativas altas para os mais novos e que ler notícias sobre estudos e observar cenas de violência entre jovens me deixam angustiada. Se no namoro é assim, o que esperam no casamento? Que falta de auto-estima é essa, que permite que se deixem humilhar e maltratar? Que exemplos têm em casa para que se deixem controlar e agredir? A família não educa para o namoro, para as relações sexuais, para o amor? Espera que seja a escola, a televisão, os amigos a fazê-lo?
Deixo outra frase que espelha o que devem ser as relações, da mãe de Miguel Esteves Cardoso, e que está hoje na sua crónica no PÚBLICO:
"Quando um homem adora uma mulher, ele quer que ela seja feliz, e ela não precisa de lutar por nada. Ele coloca tudo a seus pés – e é um homem feliz por fazê-lo.", Diana Esteves Cardoso
É deste amor que pais e filhos devem falar: o do respeito, o da dignidade, o que faz feliz.
BW
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