Estou numa repartição pública e vejo o meu amigo Paulo Guinote na Opinião Pública da SIC Notícias. O tema são os exames. Vou sentar-me por baixo da televisão para ouvi-lo, não preciso de o ver! Em vez disso, ouço os telespectadores que ligam.
Uma avó que se queixa do dinheiro que os filhos gastam em explicações. Os netos não têm dificuldades, nem insucesso, "são só calões" – "é o que eu lhes digo!", reforça–, e levanta a questão primordial: o que estão a avaliar estes exames, o dinheiro que os pais gastam em explicações?
De seguida, entra uma senhora que começa por falar do acordo ortográfico. Desligo porque acabo de ser chamada e já não ouço o final. Volto a tomar atenção quando a funcionária vai fazer umas fotocópias e entra um estudante do secundário que não percebe a utilidade dos exames. Pois se ele fez dezenas de testes, ao longo do ano, entregou trabalhos escritos e apresentou outros orais, pois se ele se fartou de trabalhar por que razão tem de ser avaliado pelo que aprendeu em dois ou três anos de ensino em apenas duas horas, pergunta. São duas horas e meia, corrijo mentalmente. O miúdo confessa que, por vezes, tem vontade de chorar ou que chora, já não me recordo porque estou a pagar e a pensar "como o Estado me rouba, meu Deus!".
Atenta, a funcionária que me atende e que ainda não chegou aos 30 anos não resiste: "Diz que chora... deixá-los chegar à universidade para verem como elas doem!"
"Olhe que não, eles são muito pequenos e sentem uma pressão imensa. Eu não a senti na universidade", respondo-lhe, antes de me despedir. Eu sou do tempo da primeira PGA e aquela foi uma palhaçada.
E com isto, não ouço o que diz Guinote, acho que fala do negócio que gira em torno dos exames, não sei se já falou das explicações, mas ouço-o sobre os manuais escolares que se vendem nesta altura e que podem ser mais caros que os manuais, propriamente ditos, aqueles que se compram no início do ano lectivo. Saio que tenho mais uma burocracia para tratar.
Mas a pergunta que me fica é a da avó: o que estão a avaliar estes exames?
Estão a avaliar o que eles aprenderam ao longo de dois ou de três anos ou o que engoliram quais patos para o foie gras – dois ou três anos a ouvirem "olhem que isto pode sair no exame, olhem que isto é matéria de exame, calem-se senão não consigo dar-vos a matéria toda que vai sair no exame..."
Professores concentrados em preparar para o exame, em vez de ensinar, de fundamentar, de experimentar aquilo que se transmite. Professores atrapalhados porque não deram a matéria toda, aquela que vem para o exame. Professores que consideram que as disciplinas de exame são mais importantes do que as outras. Por isso, deviam ter mais horas lectivas, por isso, as outras deviam ser anuladas do currículo.
Pais concentrados no sucesso dos filhos. Pais atrapalhados porque os meninos não sabem tudo, não estão preparados. Pais que consideram que as crianças têm de se aplicar nas disciplinas que vão a exame – como aquela mãe que não estava nada preocupada porque a professora do 1.º ciclo ainda não tinha dado, até Maio, altura dos exames do 4.º ano, nada de Estudo do Meio, mas em contrapartida os meninos estavam mais do que preparados para responderem a Português e a Matemática e deixarem o colégio no topo dos rankings porque o importante é vermos que gastamos bem o nosso dinheiro, numa escola de qualidade, que isso do Estudo do Meio não interessa nada!
Alunos concentrados em assimilar toda a matéria dos dois ou três anos que durou o secundário. Alunos atrapalhados porque ainda não sabem tudo, não conseguem fazer todos os exercícios e "se sai aquela matéria que eu sei menos bem?" Alunos que consideram, como o que ligou para a antena da SIC, que tudo isto é ridículo: como se pode avaliar em duas horas (e meia) o que se aprendeu em vários anos lectivos? Por quê dar tanta importância a uma avaliação externa? E contudo lá estão eles a trabalhar porque a nota do exame é importante e, alguns, choram.
BW
Excelente, Bárbara.
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