É o culminar de uma época de provas desportivas, o campeonato nacional, com atletas oriundos de todo o país, continente e ilhas. Os melhores de Portugal estão ali reunidos para competir entre si. Este é um cenário que milhares de pais de atletas conhecem.
A ansiedade é muita e para todos.
Quando os miúdos perdem é como se os próprios pais fracassassem. E as justificações vêm logo a seguir.
Um pai: "Ela podia fazer melhor, não está com uma atitude vencedora, está desmotivada".
Uma mãe: "Está cansado, não treinou o suficiente, a culpa é do treinador que devia trabalhar mais com eles."
Outro pai: "É o culminar de uma época de trabalho, é aqui que tem que dar o tudo por tudo para ser campeão nacional!"
Outra mãe: "Os outros clubes têm condições melhores do que o nosso."
Há culpas a atribuir a treinadores, aos clubes e aos próprios filhos.
Os pais lembram os sacrifícios que fazem (levar os miúdos aos treinos, às provas, etc) e esquecem os que os próprios miúdos fazem - treinos diários, muitas vezes, bidiários; provas atrás de provas para se qualificarem para o campeonato nacional, conciliar os estudos com os treinos sem receber qualquer incentivo por parte dos treinadores para estudarem ou por parte dos professores para treinarem.
Estes são miúdos que durante o ano lectivo trabalham o dobro daqueles que têm a escola, as explicações, as playstations, os morangos com açúcar e pouco mais. São também estes que raramente são valorizados pelos professores. O preconceito relativamente ao desporto é muito, ser desportista é sinónimo de burrice, acreditam os docentes, esquecendo que é preciso inteligência para levar o corpo a fazer o que a maioria não consegue.
Os pais, depois de exorcizarem as suas frustrações, engolem as expectativas goradas e dão força aos filhos, dizem-lhes que deram o seu melhor, que estão de parabéns. Todos? Não, alguns não conseguem, há quem não resista e verbalize as suas frustrações aos mais novos porque depois de tudo o que fizeram, eles tinham obrigação de ser campeões. Pais e filhos.
BW