domingo, 14 de julho de 2013

Resultados dos exames nacionais

Quando vi os resultados dos meus alunos não sabia exatamente o que pensar do seu desempenho geral, mas, atendendo às provas que me coubera corrigir, não pareciam mal, antes pelo contrário.
No final do dia, vi qual foi a média nacional. Negativa, a igualar os piores resultados de sempre, noticiava o Público.
Se, por um lado, me alegrei com o desempenho dos meus alunos, por noutro, fiquei envergonhada pelo desempenho do país.
No site do MEC procurei confirmar os dados.
Confrontei-me com os números noticiados na véspera: média negativa em Matemática A e B, Geografia, Física e Química A, Filosofia, Macs.
Por outro lado, médias positivas baixíssimas. A mais alta em Desenho (12,1). As restantes, todas positivas rasteiras, a roçar o 10.
O que pensar destes resultados?  Que os alunos deste país não sabem nada? Que a escola não ensina? Que os professores não os treinam para os exames? Nada disto. Apenas que algo está mal nestes exames, nesta filosofia, nesta forma de encarar o sistema. Por exemplo, os exames não avaliam o que, conforme os programas e indicações da tutela, a escola faz. Não vou começar com o exemplo do Português. Vou referir-me antes ao resultado negativo, para não dizer catastrófico, em Física  e Química A. Nesta disciplina, 30% da avaliação contínua do aluno decorre da componente prática. O exame só avalia a componente teórica, aquela em que os desempenhos dos alunos são mais baixos. Pois os colegas de Português reconhecem este panorama. A lei obriga a que 25% da avaliação dos alunos decorra do domínio do oral. Onde está isso no dia do exame? E que percurso tem tido o ensino do Português? Professores e alunos têm vivido de programa em programa, de Tlebs em Tlebs, ortografia em ortografia. Sim, eu sei que a tutela é tolerante e que duas terminologias e duas ortografias têm vindo a ser aceites. Sim. Mas que tranquilidade, que estabilidade tem isso conferido às nossas escolas? 
Na quarta-feira, juntamente com os resultados, o Público noticia que «As notas dos exames nacionais do ensino secundário divulgadas [...] pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC) não trazem surpresas». E que avaliação faz o MEC destes resultados que não são surpresa e que se repetem ano após ano? E que avaliação fazem os pais? E o que pensarão os outros países de Portugal, onde os exames com maior número de alunos inscritos têm médias rotundamente negativas? Que os alunos portugueses não prestam? Que imagem damos do nosso país, nesta teimosia que nos ameaça deixar orgulhosamente sós?

7 comentários:

  1. É complicado. Eu desci 5,5 valores relativamente à minha classificação interna e ao exame.

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  2. Com todo o respeito que tenho pelos professores (porque ando nas escolas e vejo o seu esforço e a luta para cumprir até aquilo que não faz sentido), acho que temos um ensino desajustado para as crianças que temos (tão diferentes do que éramos) e para o tipo de sociedade que um dia será a deles (não a nossa). Já nenhum jovem (nem sequer uma criança, basta ouvi-las) acredita que vai estudar 12 ou 16 anos para ter uma carreira promissora em qualquer coisa. Dizemos-lhes que estudar é importante para desenvolverem as suas capacidades, mas durante anos eles não vão estar a desenvolver especificamente essas mesmas capacidades, porque terão de estudar e ser avaliados exatamente pelo mesmo que os colegas. Não estamos a premiá-los pela diferença e por aquilo em que podem ser verdadeiramente bons. Estamos a criar uma bitola igual para todos, sendo que todos, ainda por cima, em média, parecem ser fracos, num modelo de avaliação que, em geral, não compreendem.
    Eu tenho 4 filhos pequenos, todos com potencialidades diferentes. É claríssimo, mas eles não terão oportunidade de desenvolver essas mesmas potencialidades se os pais, num tremendo esforço (e que pais hoje têm tempo para isso?), não puxarem por eles, fora da escola (escrevi sobre isto, em tempo, no meu blog: http://coisasdepais.blogspot.pt/2013/03/coisas-de-ensino-para-que-te-quero.html). Para além de que não temos efetivamente pais com tempo, o que transforma os professores nos únicos "pais" disponíveis. Se os professores têm uma exigência enorme ao nível da transmissão de competência, como podem "formar" (do ponto de vista humano) um aluno? E, se os professores também não os formam, quem os forma? E pode um aluno sem formação humana e cívica adequada adquirir competências? Ainda que a resposta seja sim, queremos homens cultos sem preparação cívica e humana para entrarem no mercado de mercado?
    Acho que estamos num ponto crucial da nossa História, em que precisamos de parar e colocar as perguntas que se impõem neste momento:
    - Para que serve o ensino?
    - Que tipo de alunos estamos a formar e para quê?
    - Que modelo de sociedade queremos construir e de que forma estamos a contar com os nossos jovens?
    - Quais são exatamente as funções (para além da pedagógica) dos professores?
    - Que responsabilidade têm os pais, na formação daqueles que são o futuro do país e do mundo?
    - Deverão também os pais, a par dos professores, ter formação para criarem a geração do futuro?
    - Qual é o perfil dos alunos de hoje? Estará o tipo de ensino adequado aos tempos que correm e às suas mentes hoje tão rápidas, irrequietas e estimuladas? Qual a melhor forma de lhes dar vontade de aprender? E o que pode ser verdadeiramente interessante e útil ensinar-lhes, para a sociedade que queremos construir?
    Talvez tudo isto esteja a ser debatido, algures, por alguém. Mas, se isso está a acontecer, não está a ser transmitido aos pais, que vivem tudo isto com uma tremenda inquietação. Não está, muito menos, a ser transmitido aos filhos, que já têm noção de que vão passar 1/3 da sua vida na escola, e precisam de entender porquê e para quê.
    PS - Parabéns pelo vosso blog! Que seja um bom fórum de debate destes temas, porque estamos mesmo a precisar de os debater!

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  3. Todos os anos se vem repetindo esta lenga-lenga! Tentativa de justificação - culpabilização - de quem / o que quer que seja, face aos maus resultados apresentados e às profundas desilusões criadas nos alunos. O bode expiatório tem normalmente um nome comum: o modelo dos exams elaborados e o seu desfasamento das matérias lecciondas ou da sua impossibilidade pratica de aferir o saber dos discentes. São os velhos "problemas" que nunca, mas nunca encontrarão solução se assim encarados.

    O que parece importante comentar é que grassa na juventude estudantil uma crescente incapacidade de redigir bem o Português, como língua mátria, de dele fazer uso na conversa corrente e de o interpreter. É cada vez mais reduzido o conhecimento da literatutura portuguesas e dos nossos autores. Os erros na expressão escrita saltam à vista nos escritos banais das redes sociais, muitas vezes mesmo verificados por quem faz da docência o seu modo de vida.
    Em suma, vem-se degradando a qualidade do ensino e a este é dado uma gradativa menor importância enquanto factor de valorização pessoal; o esforço de aprendizgem não é incentivado, antes o seu character lúdico e um relacionamento "nivelado" entre alunos e professors.
    É assim, deste modo, que o País também vem perdendo relevo e projecção internacional e que a qualificação educacional há-de ainda constituir, por muito anos, o principal argumento para o nosso subdesenvolvimento social e económico. Relembrando um discurso na ONU de uma jovem afegã massacrada pela guerra, e que ficará, por certo, nos anais daquela Instutição: um Professor, uma Criança e uma Caneta (isto é, como metáfora, a Educação) é que mudarão o Mundo!

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    1. Concordo com praticamente tudo o que diz excepto numa coisa: os nossos resultados têm vindo a melhorar nos testes internacionais da OCDE, o que significa que o trabalho que se vinha fazendo em disciplinas como a matemática estava a fazer efeito. Vamos ver como serão os resultados nos próximos anos.

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  4. Sara Rodi: absolutamente de acordo! Mas há quem discuta essas questões, são aqueles que são acusados de pertencerem à corrente do "eduquês" por Crato e outros! A actual política vai no sentido de: a escola existe para transmitir conhecimento. O que a Sara refere são competências das famílias, este Estado não quer saber se a família consegue, se tem tempo, se sabe... Por isso cortou em disciplinas como EVT e nas áreas não disciplinares.

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    1. Pois... não se entende. Não tenho dados suficientes para o comprovar, mas julgo que os países com melhores resultados escolares são também aqueles que mais apoiam a família nos primeiros anos das crianças. Mais tempo em casa, flexibilidade no trabalho, incentivo por parte do Estado (que não precisa de ser somente financeiro) às famílias, formação gratuita aos pais... Não há-de explicar tudo, mas deve ter o seu peso.

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  5. Não é linear. Há países como a Finlândia onde se apoiam as famílias e há outros como o Japão ou a Coreia do Norte onde os miúdos se suicidam quando não são os melhores... Concordo: se as famílias fossem apoiadas os resultados poderiam ser melhores, mas as mães norte-americanas ficam em casa e os EUA disputam connosco os lugares mais a meio da tabela dos rankings da ocde... Os pais precisam de "escola de pais", ouço dizer por onde quer que passe, nas escolas onde vou falar com os pais. Mas os que precisam nao querem, nao estao disponiveis, não estao despertos, por isso é difícil. E quando não há familias interessadas é preciso cativar os filhos para que nao entrem na espiral da pobreza que é, também, pobreza de espírito. É preciso educá-los e aí, defendo, que o Estado deve entrar mas, actualmente, está a demitir-se.

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