quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Reforma curricular: onde ficam as artes?


E as artes? E as tecnologias? E os meninos que não "marram"? E os que não aprendem? Só queremos cientistas, matemáticos, geógrafos? Eu sei que as bases são muito importantes, mas e as outras áreas? E os alunos que se realizam no trabalho manual, aqueles que se sentem bem a desenhar, a construir coisas... os futuros arquitectos? Serão esses alunos inferiores aos outros que devoram livros, que fazem equações de olhos fechados?
É o regresso ao passado. Não ao eduquês! Sim à aprendizagem pura e dura.
Os professores que tanto criticaram as áreas não curriculares estão contentes. Os de História e de Geografia regozijam, juntando-se aos de Português e de Matemática, esquecendo os de TIC, EVT e outras disciplinas menores que só servem para entreter meninos.
Abaixo a Formação Cívica, para que serve se poderemos ter mais camaras a vigiar-nos todos os passos? Abaixo a Área Projecto eles, de qualquer maneira, não sabem fazer nada, além disso dava muito trabalho, fazer parcerias com os outros colegas e as reuniões e essas coisas chatas que traziam outra vida à escola, mas absorviam a vida pessoal do professor. E o Estudo Acompanhado? Que estudem em casa! Não sabem? Paciência...
Suspiremos de alívio: a escola vai servir a sua verdadeira função a de ensinar os alunos, nada de os educar que essa é a função dos pais (mesmo que esses não tenham educação, azar! Para que é que o professor, que viu o seu salário congelado e cortado, se há-de preocupar com o futuro da sociedade?).
Os professores estão felizes. De facto, a única preocupação agora é o desemprego, mas essa é uma preocupação de todos os portugueses...
BW
PS: Eu tive três disciplinas no 12.º ano. Três e o resto do tempo não foi para me concentrar, nem para trabalhar muito e seriamente para entrar na faculdade. Foi para ir ao cinema, a exposições, a concertos e à praia. Foi para sair, passar horas ao telefone com os amigos, ler romance atrás de romance e tomar conta da minha avô. E entrei na mesma, claro que não foi para Medicina, mas também não era isso que eu queria. A ver se as próximas gerações estão concentradinhas nas suas quatro cadeiras e entram todas em Medicina! Ah, afinal vai continuar a haver numerus clausus, não vai?

11 comentários:

  1. Os lobbies estão a funcionar às 1.000 maravilhas!
    Fernando Pessoa nunca foi professor, mas sabia que "a arte é tudo, tudo o resto é nada"!
    Como é que um matemático ia chegar a tal conclusão? Não dizem que a matemática é que nos vai tirar do subdesenvolvimento intelectual e profissional? Mas... 24 horas por dia somo dominados pela imagem, pela Arte e pela "arte" visual.
    O ministro devia ser obrigado a viver numa casa feita por um matemático e ter nas paredes quadros feitos por físicos e andar em carros desenhados por historiadores e ler poemas em inglês...
    A ignorância educativa tomou conta do ministério da Educação.

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  2. Mas os professores não estão todos contentes. Há muita gente nas escolas que reconhece a importância das artes e do ensino pela arte. Aliás, todos os dias somos bombardeados com notícias que nos mostram que, para além de um sólido conhecimento científico, é a criatividade que marca o sucesso!

    Cá em casa, dizem que o 12º ano, de ciências, com apenas 3 disciplinas, há alguns anos (ou seja, no "nosso" tempo), dava trabalho e que foi o ano de maior trabalho na escola.

    No entanto, também ouvi hoje uma antiga aluna, de ciências, reconhecer que na faculdade as disciplinas que, atualmente, mais a estão a ajudar foram exatamente as duas opcionais que fez no 12º ano(no caso dela, a Biologia e a Química).
    E parece-me relevante!

    AS

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  3. Ainda bem que termina a dita Formação Cívica. Os seus resultados têm sido nulos, pois de civismo os jovens continuam com muito pouco, e assim põe-se cobro a um espaço de propaganda ideológica do decadente sistema em vigor. Isto embora a propaganda continue noutras disciplinas...

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  4. Como disse no comentário ao post anterior, o grande problema deste "acerto" é a redução da EV. Claro que EV é muito, muito importante e claro que é um campo de grande realização para muitos alunos (mtos deles "problemáticos"). Os trabalhos manuais/oficinais "do nosso tempo" podiam também ser retomados, com mais qualidade e utilidade.

    Quanto aos alunos que não gostam de marrar/estudar/de disciplinas académicas: se calhar está na hora de começar a pensar no que fazer com os miúdos que, à entrada do 3º ciclo, não querem mesmo continuar nessa via e que querem, em vez disso, aprender algo mais prático. Em grande parte dos países germanófonos/Europa Central e do Norte existe uma selecção feita aos 11/12 anos por exigentes exames que ditam o percurso futuro do miúdo: ou via académica (liceu) ou escola técnica. Tem inúmeros defeitos, claro, mas será que vem algum mal ao mundo se se começar a reflectir, um pouco, também nisso? Afinal, os bons resultados do PISA nesses países também se devem a essa selecção prévia... os miúdos de 15 anos que fazem os exames PISA já são "a nata" da escolaridade desses países...

    A discussão em volta da educação é, virtualmente, infinita ;)

    Marta, Lisboa

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  5. não me preocupam tanto os miudos do 12º. esses farão de acordo com o que querem da vida, já são crescidinhos e o empenho nesta fase tem que partir deles e não da escola ou dos pais. nas minhas 3 disciplinas houve quem fizesse muito e quem fizesse menos, quem aproveitasse o tempo fora da escola e quem descansasse, e, de todos os "lados", uns entraram no curso que queriam, outros não.

    agora a formação, desde cedo, "espartilhada" e "encaixotada" nos parâmetros dos manuais, sem espaço para o que não tem regras ou para a ausência do certo e errado, está mal! e só nos levará a pior porto do que aquele onde estamos.

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  6. Quem pensa que a Matemática não é necessária para Arquitectura está enganado, assim como é Geometria Descritiva.E não venham dizer que é na àrea de Projecto que se aprende, e mais. Quimica tb. tem interesse para a àrea de Artes(Restauro). Só fala assim quem não sabe nada de profissões e quem não acompanha os filhos (já perguntou ao seu o que faz na àrea de projecto?)

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  7. Tem toda a razão, só fala assim quem é ignorante e má mãe! BW

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  8. E se, nos últimos anos, os meninos não aprenderam nada de nada na Formação Cívica, na Área Projecto, ou pior, no Estudo Acompanhado de quem é a culpa? Da ex-secretária de Estado Ana Benavente que as inventou? Dos alunos que não aprendem? Dos pais dos meninos que são ignorantes e ausentes? Dos professores que não abraçaram estas áreas? A culpa é sempre exterior a nós... BW

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  9. O que me preocupa nesta reforma não são os meus filhos (má mãe!), são os filhos dos outros! São os rapazes e raparigas para quem a escola diz muito pouco e vai dizer menos ainda. São os alunos que não conseguem realizar-se nas disciplinas duras, que se menosprezam por isso, que não têm auto-estima. Esses são os alunos que vão ser mais mal comportados, que vão ser mais agressivos, que vão exercer bullying sobre os certinhos... São esses que me preocupam. São esses que precisam de alternativas, talvez que possam começar mais cedo, não sei; não sei se é bom espartilhar e separar tão cedo... lembro-me sempre dos filhos dos nossos emigrantes no Luxemburgo que são crianças normais mas são mandadas para o ensino especial, cortando-lhes assim as bases. Não sei se, de facto, o 3.º ciclo não deve ser mais abrangente, acolher todos, para que aí façam as suas escolhas. E para termos todos juntos, é preciso chegar a todos! BW

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  10. Já se sabia que vinha aí uma reforma ideológica, baseada em precoceitos. Também já se devia saber que se iria procurar sempre culpados e que na realidade ninguém quer uma discussão séria. Como diz a Bárbara e bem, estão a deixar de fora quem é mais indefeso. Só se é criança uma vez, só se cresce uma vez, só se vive uma vez. Parece óbvio mas não é! Esta é mais uma pequena/grande/confusa e obtusa reforma que esquece as pessoas reais que são os alunos! E não venham defender os lobies das disciplinas, porque elas só são importantes se servirem para formar, não têm importância nenhuma por si só! E os professores não estão contentes, mas sentem-se (os que pensam e se importam) impotentes. Infelizmente não somos um país que se leva a sério.

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  11. Completamente de acordo, Bárbara. Estão a esquecer-se do valor pedagógico do trabalho (manual e intelectual). Esses alunos de que fala serão os mais prejudicados. Como é que a escola do século XXI não tem como objetivo a formação cívica dos seus alunos?! Como é que se anulam disciplinas como a Área de Projeto e se reduz a Educação Tecnológica, onde os alunos podiam "meter as mãos na massa" e descobrir outros talentos, para além do "marranço", a trabalhar em equipa, a planear... sempre dei aulas de AP e nunca achei que fossem inúteis. Davam era o dobro do trabalho, exigiam o dobro da paciência. Mas acho que os alunos beneficiaram dos projetos que desenvolvi com eles e com escolas europeias, em que utilizaram as línguas estrangeiras, as TIC e ficaram a conhecer outras realidades, por exemplo. Ou aquela turma de 5.º ano que estudou os contos de Grimm e os explorou de dezenas de formas e os apresentou ao longo do ano (vídeo, dramatização, banda desenhada, recriação, etc, etc...) Nestes projetos todos os alunos tinham um papel e podiam explorar o que melhor sabiam fazer (trabalhos manuais, computador, escrita, etc.). Não existe aqui um valor pedagógico insubstituível? Deixo a questão e um link para uma tese que fala disso mesmo: https://ria.ua.pt/handle/10773/3614

    Um bom ano de 2012 para todos!

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