PENSÁMOS EM NADA
Pensámos tanto em nada. Despenteados,
caçámos fantasmas de elefantes
na casa desarrumada, de estores fechados,
milionários esbanjadores de instantes,
piratas de tesouros enterrados, ilhas distantes,
sorte parada. Pensámos demasiado em nada.
Cobertos por farrapos de tempo,
arame farpado de tempo, cheiro a terra
molhada, um momento, outro momento,
a memória inteira emparedada, e nós,
sem desculpas, astronautas, centauros,
entre o sexo e o medo, presos na piscina
vazia e abandonada, no centro de tudo,
pensámos apenas em nada.
poema de José Luís Peixoto musicado por Jorge Palma no seu novo álbum "Com todo o respeito"
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