"Eu acho que o Governo tem razão...", diz-me ela, do alto dos seus 16 anos. "Não se pode estar a dar dinheiro aos privados se as escolas públicas estão tão mal...", justifica, depois de ouvir as notícias sobre os contratos de associação na rádio.
"Não é bem assim, uma coisa não tem a ver com a outra", digo, sentada ao volante.
"Não! Desculpa lá, mas desta vez não tens razão. Se o investimento for feito nas escolas públicas, não se despedem os professores, as salas podem ter melhores condições, até pode haver manuais gratuitos... Tu não queres que toda a gente tenha as mesmas condições que nós tivemos? Mas nem todos podem ir para os colégios, não é? Então as escolas públicas têm de ter as mesmas condições!", argumenta ele, contrariado por ser o mais velho e ir no banco de trás.
Ela, à frente, corrobora: "O mano tem razão..."
"Sim, vocês têm razão, mas os pais querem que os seus filhos frequentem estas escolas..."
"Se querem têm de pagá-las!", diz ele, peremptório.
"Não necessariamente. Se o Estado lhes possibilitou até agora poder ter lá os filhos por que razão não podem continuar no ciclo seguinte? Se os pais querem é porque sabem que aquelas escolas oferecem outras condições que a escola pública ao lado de casa não oferece. Muitos destes pais não são ricos", digo.
"Exacto! Então o Estado tem de investir nas escola pública para oferecer as mesmas condições a todos!", aponta ele.
"Ou... o Estado pode ter a coragem de concluir que essa escola pública não é boa e fechá-la. Por que não se pode fechar uma escola pública?", pergunto-lhes.
"Porque o ensino deve ser público e gratuito", responde ele.
"Sim, mas é gratuito para estas famílias e estas escolas estão a oferecer um serviço público", continuo.
"Está mal!", reage. Ela vai acenando e concordando com o irmão. "Se querem que os filhos fiquem nos colégios, têm de pagar. Vocês também pagaram..."
"Vocês até podem ter razão, mas falta-vos porem-se nos sapatinhos dos outros. Serem solidários com os pais e com os alunos que não podem continuar nessas escolas; com os professores e funcionários que podem ser despedidos...", começo a dizer, tentanto um outro ângulo.
"E nos sapatinhos dos professores do ensino público que foram despedidos?", contrapõe ele.
"Também", concordo. "Mas os professores do público têm mais direitos do que os do privado? Por acaso até têm... Nada é assim tão simples", ainda tento.
"Então estamos conversados, mãe, desta vez não tens razão."
"Mas gostamos de ti à mesma", brinca ela, fazendo-me uma festa na mão.
"Eu não!", diz ele.
Espreito pelo retrovisor e ele pisca-me o olho.
BW
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