Existe há mais de 30 anos no Japão e a Nissan Portugal teve a ideia de o promover por cá. O concurso parece ter tudo para dar certo: a partir de um tema, os alunos escrevem e ilustram uma história. Ao longo de três anos, o júri reuniu e foi classificando os trabalhos. Alguns muito inocentes, outros mal escritos ou com ilustrações com traços demasiado infantis ou de quem não sabe mesmo desenhar.
O que correu mal num concurso que apela à imaginação e à criatividade?
O prémio não prestava? Não, o prémio era uma viagem a uma cidade europeia onde além do turismo proposto, os vencedores poderiam ver um centro de investigação ou uma fábrica da Nissan.
O prémio era só isso? Não chega? Mas havia mais: as dez histórias vencedoras seriam publicadas num único volume pela Leya, parceira desta iniciativa da Nissan.
O que é que interessa publicar um livro? E se forem dois? É que além dos jovens autores terem a sua história publicada, os vencedores da melhor história e da melhor ilustração (que pode não ser o mesmo par, da mesma escola, porque a melhor história pode ser a A e a melhor ilustração a B) teriam de se sentar e criar uma nova história e uma nova ilustração para ser publicado num outro livro, só com esta história. Portanto, no espaço de um ano, um jovem escritor/ilustrador tinha a possibilidade de publicar dois livros, quantos velhos escritores ou aspirantes têm essa possibilidade?
O júri era uma porcaria? Espero que não, eu fazia parte do júri, uma vez que o PÚBLICO foi media partner da Nissan! Mas estavam lá nomes com experiência e credibilidade como o escritor António Torrado, que na última edição foi substituído por Alice Vieira; o ilustrador Paulo Galindro; o comissário do Plano Nacional de Leitura e escritor Fernando Pinto do Amaral; o pintor Eurico Gonçalves (Sociedade Nacional de Belas Artes), além do editor da Leya Vítor Silva Mota e o responsável pela Nissan Guillaume Masurei. Portanto, pessoas da escrita e da ilustração.
Foi dado pouco tempo às escolas para participarem? Creio que não. Estas tinham conhecimento do concurso logo no início do ano lectivo e os prazos para cada fase eram razoáveis. No entanto, este é um concurso vocacionado para os jovens do secundário e estes andam preocupados com os exames.
Os temas eram difíceis? Nem por isso, embora estivessem sempre ligados, de alguma maneira à Nissan, e isso pode ser dissuasor. Mas escrever uma história a partir da ideia do ambiente ou da emissão de gases não é assim tão complicado!
Então o que correu mal? Eu tenho para mim que o que falhou foi a necessidade de a escola se envolver, de os professores terem de ser um motor para que a coisa funcione e, é como tudo, há professores de Português que agarram no colega de Educação Visual ou de Desenho e Geometria Descritiva (ou vice versa) e o desafia: vamos participar neste concurso? Quem é o teu melhor aluno no desenho? E quem é o meu na escrita?
Ou então, o professor propor à turma: Meninos, em vez de escrevermos sobre os heterónimos de Pessoa, vamos imaginar uma história sobre emissões de gases! E, a partir daqui, avaliar quem é o aluno que pode levar a escola a vencer o concurso.
Acho que foi isto que faltou. Agora o
concurso foi suspenso por um ano para ser repensado. Estou curiosa!
BW