"A Educação Física vai deixar de contar para a média dos alunos do secundário, a partir do próximo ano. Só conta..."
Fui interrompida por um adolescente que vai para o 10.º ano: "Este ministro quer que os alunos sejam todos iguais a ele. Ele é o cúmulo da perfeição! Quer que sejamos todos matemáticos! Um país de matemáticos, mas todos obesos porque hoje não se come o que o ministro comia quando tinha a nossa idade..."
"Só conta para a média de quem quer seguir essa área", termino quando ele se cala.
"Está mal! Está mal porque devia contar para todos. Então o ministro não gosta tanto do modelo americano? Nos EUA todos fazem exercício! Como é que temos bons desportistas se não houver investimento desde o pré-escolar?", continua o rapaz furioso.
"Estás a confundir várias coisas mas, no fundo, tens razão", concluo.
Ouço alguém dizer que tem de saber matemática mas não tem de saber as regras de basquetebol. Mas, se assim for, também não tem de saber quem foi Junot, como se forma a chuva, o que é um país em vias de desenvolvimento... E só estudamos o que realmente nos interessa, nada mais? Só prestamos provas às disciplinas consideradas nobres? Vamos regressar ao secundário das três cadeiras e a borga total (o meu secundário, o secundário de tantos dos actuais professores)?
A educação física, a musical, a visual e tecnológica são todas importantes, sobretudo para quem não tem oportunidades de as aprender fora da escola.
BW
PS: Uma coisinha de que me lembrei agora, às 19h53. A ideia de a nota contar só para os que querem é benéfico para esses alunos. Imaginemos dois estudantes que querem fazer o mesmo curso superior, ambos com média geral de 16 (a todas as disciplinas, excepto EF), mas o que pediu para EF contar tem 18 a essa cadeira, ficará à frente do outro colega. Parece-me bem! Será que o ministério pensou nisto quando criou esta regra?
Ou pensou que os alunos que escolhem EF são todos aqueles que não têm jeito para mais nada, senão para o desporto? É que se a ideia é essa, é de quem ainda não viu as notas de admissão à Faculdade de Motricidade Humana, entre as mais altas nas universidades portuguesas.
É muito pior! Afinal o que significa "o desenvolvimento global e harmonioso do aluno" que vem escrito na missão de qualquer tipo de ensino genérico? A questão quanto a mim e muitíssimo mais grave, é acentuar as desigualdades de forma a não haver retrocesso possível. Embrutecer, estupidificar para em seguida estes poderem concordar com todo o tipo de opções que 'especialistas' vêm dizer de 'correctas'.
ResponderEliminar1- Se não ensinamos hábitos de vida saudável, e este ensino não se faz sem sofrimento esforço e disciplina,(valores transversais ao Curriculae), vamos ter uma factura grande a pagar; na saúde (doenças do desenvolvimento), na segurança social(com as reformas por invalidez)na justiça pelo caos causado pela falta de conhecimento da integridade física e pela necessidades que esta actividade vai causar provocando aumento no nível de violência etc.
2- Não há justiça sem o conhecimento e experienciação do reconhecimento do belo, do bom, do bem, que se faz através do currículo destas disciplinas da área de expressões.
Sendo mais uma experiência podiam fazê-la duma forma controlada, aliás como deviam ser todas as experiências. Numa altura em que a Fundação Calouste Gulbenkian publica livros sobre a relação do ensino das expressões e a delinquência, esta decisão política para mim só tem cabimento no âmbito do terrorismo social.
Apelo ao bom senso e peço para que ouçam pessoas que estudam desenvolvimento da pessoa humana, há mais de 40 anos!
cumprimentos,
SQF
PS- E sabem o que fiz antes de carregar no publicar? fui ver as minhas definições de perfil e mudei, estou praticamente invisível. Tenho medo de ser identificada, é verdade! É a falta de coragem que tenho ao imaginar estar a justificar perante as minhas filhas o facto de poder vir a ser posta no desemprego. Assim digo-lhes que falei mas estava invisível, tomei todos os cuidados!
O adolescente sabe mais do que ministro, que sabendo de matemática não sabe de mais nada. Encaixa bem na definição de especialistas: "É um tipo de sabe quase tudo de quase nada"!
ResponderEliminarPois eu acho muito bem. Não contar para a média não significa que não seja importante!
ResponderEliminarImportante é praticar exercício físico e ter hábitos de vida saudável. Isso não implica ser atleta e conseguir ter elevado desempenho a Ed. Física. Se eu quero seguir uma área científica e se as médias são decisivas para isso, não devo ser penalizada por não ser excecional a Ed. Física!
Cristina, então porquê contar a nota de filosofia ou de inglês se quer ir para a área cientifica? Ou mesmo português? Se esse raciocínio vale para EF, vale para todas as disciplinas que a Cristina não precisa no seu futuro. BW
ResponderEliminarFaz-me confusão a forma como se encara a disciplina de educação física de forma tão distinta das outras. Rapidamente se fala da injustiça para com aqueles que não são tão bons no desporto, que é injusto um aluno ter um 18, que conta para a média, só porque naturalmente é bom em desporto. Mas os alunos psicologicamente também são todos muito diferentes, há alunos que naturalmente aprendem e decoram tudo facilmente. Outros não, e por isso têm de estudar mais se quiserem ter boas notas. Não será a mesma “injustiça”? Será que os alunos que não são tão bons a desporto não deviam fazer o mesmo, trabalhar mais nessa componente que é mais fraca.
ResponderEliminarÉ verdade que há alunos que têm incapacidades físicas, mas também há alunos que têm dislexia, não conseguem ver bem um texto escrito a tamanho normal, etc...
Aliás acho mesmo que uma boa preparação física é mais importante para o desempenho profissional do que outras disciplinas. Se chegarem às urgências de um hospital às 5 da manhã depois dos médicos estarem 24horas acordados a fazer urgências, preferem ser recebidos por que médico: 1) Médico que sabe tudo sobre história ao mais detalhe (até a cor das peúgas do D. João I no seu casamento), mas que nunca fez desporto, é obeso e, por isso, depois de 24 horas de banco já quase que não consegue estar de pé nem pensar com clareza; 2) Médico que não sabe nada de história mas praticando regularmente deporto está fisicamente em perfeitas condições para o observar.
A questão de fundo é mesmo qual o objectivo no nosso ensino. O que se considera um adulto de "sucesso" quando este sai da universidade ? Alguém que “só” conseguiu decorar tudo nas altura dos exames ? Será que é só isso que faz uma sociedade de "sucesso" ?
PS: A Educação Física sempre foi a minha pior nota.
Inglês, Filosofia ou Português fazem parte da formação básica de qualquer pessoa. Praticar exercício físico faz parte de uma vida saudável. E é bom haver na escola essa possibilidade.
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