Já são públicas as propostas de Metas Curriculares do Ensino Básico para as diferentes disciplinas. Estão todas disponíveis aqui, na página do Governo de Portugal. Pode consultar o documento referente à disciplina de Português neste link.
Pode ler-se na página do Ministério da Educação que "as metas que agora se apresentam serão uma referência da aprendizagem essencial a realizar pelos alunos em cada disciplina, por ano de escolaridade, sendo um documento normativo de utilização obrigatória a partir do ano letivo 2013/2014. As metas terão no próximo ano letivo carácter indicativo, mas são fortemente recomendadas." (sublinhados nossos).
Até dia 23, os contributos podem ser enviados para metas.curriculares@mec.gov.pt
Tenho de fazer uma leitura mais cuidadosa do documento e, sobretudo, uma leitura menos a quente, pois, numa primeira abordagem, são já vários os motivos para ter começado o fim de semana francamente irritada:
- ao contrário do que sucede nos programas, as novas metas são definidas por anos;
- ao contrário dos programas, fala-se, neste novo documento, em domínios e não em competências;
- ao contrário do preconizado pelo programa, a designação que substitui o "Funcionamento da Língua" é "Gramática" e não o "Conhecimento Explícito da Língua".
Não digo que estas propostas não seja adequadas ou interessantes. Até acho curioso assumir-se que deve haver uma área designada por "educação literária" ou que a expressão oral e compreensão do oral podem estar (novamente) reunidas na "Oralidade".
Digo sim, que não faz sentido termos um novo programa que só este ano entra em vigor em setembro no 6º e 8º anos (e só no próximo ano entra em vigor para o 9º!) e estar já com a sensação que o mesmo está caduco.
Morto antes de nascer por completo! (Se calhar estou a exagerar e está só moribundo. Vá lá, desculpem a minha irritação)
Imagino as mães e pais que querem acompanhar os seus filhos a navegar perdidos entre livros, manuais, gramáticas que não são coerentes.
Como cidadã, irrita-me profundamente perceber que os meus impostos têm servido para financiar estas experiências que não chegam a ser implementadas por completo, nem avaliadas, para dar lugar a novas equipas e projetos.
Como professora, então, nem imaginam!!!!
Como é possível que me tenham pedido para assumir que os programas iam passar a ser de ciclo para, agora, voltarmos a ter objetivos anuais?
Passei a acreditar que, atendendo à diversidade da realidade das escolas, a proposta de ciclo serviria melhor os alunos.
Convenci outros disso.
E agora, as metas vêm destruir o trabalho de anualização que foi pedido às escolas e departamentos de Língua Portuguesa.
Vêm ainda tornar caducos e desatualizados os manuais (em vigor por 6 anos) que as famílias adquiriram o ano passado e os que vão comprar em setembro próximo, pois estes, sendo fiéis aos programas, falam em competências; conhecimento explícito da língua; atendendo à gestão intraciclo que foi permitida, podem não integrar determinado conteúdo no ano previsto e, além disso, não apresentam todos os textos das listagens anexas ao documento das metas.
Não acredito ainda que os professores se tenham de ter adaptado à Tlebs, Tlebs revista, Dicionário Terminológico. Deixaram, entretanto de poder falar em Funcionamento da Língua. Passaram a assumir que a designação "Conhecimento Explícito da Língua" servia melhor o propósito de reforçar a natureza desta área do saber linguístico.
E agora, esqueçam lá isso!!!
Afinal, "Gramática", como os nossos pais ou avós diziam, é que está bem!
Até pode estar, mas, por favor, quando vai ser dada às escolas e ensino da nossa língua estabilidade???
As escolas estão cansadas de tanta mudança, de tantos materiais divergentes na linguagem, dos alunos navegarem perdidos por gramáticas e manuais discordantes.
Choca ainda que as divergências nasçam nos próprios documentos normativos, emanados do ME: os programas e as metas.