sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Os "paizinhos" não valem nada

A classe docente sente-se isolada. Nem quando tem os pais do seu lado, consegue vê-los.
Há dias, num grupo do facebook, no qual estou porque me convidaram, mas onde estão maioritariamente professores, uma docente escreve: "Os paizinhos andam a dormir. Se os meninos têm mais um dia de férias começam logo a refilar porque não têm onde deixar os rebentos. Agora ninguém diz nada!"
Estava a professora a referir-se à falta de professores na escola mas quando me chamam "paizinhos", sobe-me a mostarda ao nariz. Acho de uma falta de chá que não resisti a responder: "Que professor merece respeito quando fala assim dos pais? "Paizinhos" ou "pais"? Se não fossem os pais, os professores não tinham matéria-prima para ensinar. Respeite para não ser chamada de "professoreca"."
Pouco depois, a professora responde-me do alto da sua sabedoria: "Eu sou mãezinha e professoreca. É preciso ser inteligente para decifrar este post."
Estúpida, Bárbara, toma lá para aprenderes!

Mas há uma outra colega que sentiu a necessidade de ser pedagógica: "Bárbara Wong, a colega não criticou os pais, apenas disse que andavam a dormir pois há escolas onde faltam mesmo muitos professores. Eu enquanto mãe não tolero que isso aconteça nesta altura do ano. Ao meu filho falta-lhe um professor e já mandei reclamações para vários sítios. As aulas já iniciaram praticamente há 15 dias e é inadmissível ainda não estar um professor colocado naquela vaga. Tenho um agrupamento ao pé de casa onde faltam 41 professores. Você acha isso normal? Pois eu não acho e sou mãe!"
Mas a professora acredita que eu não compreendi o que a sua colega queria dizer? Eu percebo, não gosto é que chamem "paizinhos" a um parceiro educativo. E por mim a conversa acabou.

Só que faltava a professora indignada porque há uma "mãezinha" que entra em diálogo. Então, ainda não sabe que os professores não podem nunca ser questionados e tudo o que dizem é verdade? Ai, ai, ai...
"Agora chama-se matéria-prima aos alunos! A D. Bárbara deu a sua opinião através da escrita!! Aprendeu a escrever sozinha? Reforça a ideia de que alguns "paizinhos" andam a dormir; ou melhor nunca acordaram para a realidade que é ter um filho, ter alguém que devem cuidar e educar. A forma como muitos agem não são dignos de serem chamados "paizinhos" quanto mais de PAIS! A D. Bárbara não entre em disputa comigo porque não lhe vou responder mais! Sei o que pretende"
A D. Bárbara é respeitadora e não entra em "disputa" até porque a D. Bárbara não sabe "o que pretende", nem sabe o que responder a alguém que destila ódio pelos pais que não merecem ter filhos - talvez fosse de criar um órgão nacional onde estivesse esta professora a decidir quem pode ou não ter descendentes.
A D. Bárbara gosta de diálogos construtivos por isso, não sabe do que a professora está a falar. O que a D. Bárbara sabe é que a docente na sua escrita revela estar confusa ou furiosa com o mundo. A D. Bárbara teme pelos alunos desta professora.
Um pormenor de menor importância: A D. Bárbara detesta que lhe chamem "dona", chamem-lhe "Bárbara", "menina Bárbara", "senhora" ou "senhora dona"; mas "dona" é que não. Nem "doutora", chamem-lhe "jornalista". Gostos não se discutem.
O comentário da senhora professora tem quatro "gostos", inclusive há uma colega que diz que já tinha pensado o mesmo (?!?): Toma lá, ó D. Bárbara, o que tu queres sabemos nós!

O último comentário é revelador da classe de alguma classe docente: "Os pais são ignorantes... se o não fossem valorizariam a educação dos seus filhos e saberiam lutar mais por estes direitos fundamentais!!"
Temi que terminasse com um "morte aos pais". Mas pronto, são só uns "ignorantes". As senhoras professoras é que são o suprassumo da inteligência! E devem ter nascido de geração espontânea! Não acredito que tivessem pais, porque se assim fosse seriam tods uns ignorantes, não mereciam ser pais, eram uns "paizinhos"...

A verdade, é que estas senhoras professoras em concreto não viram notícias nos últimos dias, não leram jornais, não ouviram rádio - acredito que estivessem ocupadas a preparar aulas e a conhecer os seus alunos - porque se o tivessem feito, teriam visto os pais às portas das escolas a protestar. Se passeassem pelas redes sociais, leriam as queixas dos pais porque faltam professores nas escolas. Portanto, os "paizinhos" estão do lado dos professores. Quer dizer, os pais acham que estão ao lado dos professores, mas têm um problema de perspectiva porque, na verdade, os professores estão lá tão em cima, mas tão em cima que não conseguem ver os pais.
Uma pena porque a união faz a força.
BW

2 comentários:

  1. Sra. Bárbara, é impossível não comentar. :)
    Em primeiro lugar, muitos parabéns pelo seu trabalho, pela ótima coleção de livros e pelo seu blog.

    O seu artigo tem tanto de hilariante quanto a situação que descreve tem de desconcertante. Ri-me muito, sem aviso. Ri-me, assim, ritmada e compulsoriamente porque expiei finalmente uma subtil mágoa que em mim vivia sem que dela quisesse saber.

    É que também sou pai - não "paizinho", de quatro educandos. E sou professor e formador. Nestes ótimos anos, tenho sido, como pai, *parceiro educativo* de bastantes professores, todos diferentes em algumas coisas e iguais noutras tantas. Gosto da expressão "parceiros educativos" porque tenho a certeza que nenhum pai e nenhum professor, sozinho, vence a grande aventura, a grande missão e a grande glória que é o desenvolvimento saudável e feliz dos "seus" educandos. E sempre entendi que a relação com os "meus" professores tem que ser cuidada e mantida, com cordialidade e respeito mútuo, para que a aventura não estiole.

    Mas ser professor, bem sei, é uma vocação sensível e, por vezes, muitas vezes, sofrida. Para além disto, professores há que encaram todos os movimentos dos pais, por experiência ou por insegurança, como furtivos ou potencialmente ameaçadores. E então somos "paizinhos". E os nossos educandos são "rebentos".

    Repito que têm sido ótimos estes anos em que temos vindo a contar com educadores de infância, auxiliares e professores titulares, diretores de turma e directores pedagógicos. Mas também esgotantes. Por vezes, sentimos que lidamos com crianças orgulhosas e magoadas e que qualquer passo em falso (palavra mal colocada na frase, pergunta demasiado intrusiva) nos prejudicará ou, pior, ao nosso educando, pelo estudado efeito pigmaleão.

    Por isso, Sra. Bárbara, descobri ao ler o seu artigo que estou cansado e magoado com os meus parceiros educativos que, a dado momento da nossa parceria, me destratam como "paizinho". E por isso, Sra. Bárbara, deixo-lhe o meu apoio e o meu desabafo.

    Vou continuar feliz com a aventura e com a missão que tenho a benção de viver e marcar-me-ão indelevelmente os professores e amigos - parceiros educativos - que ainda não conheço. Mas certamente que em alguns momentos voltarei a ser "paizinho".

    Um abraço, Rui Lourenço

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  2. Sim, Bárbara Wong, há professores que envergonham os professores e, o que relata, é claramente um desses casos.
    Estas atitudes são sempre reprováveis, venham de professores ou de pais. Afinal, todos somos encarregados de educação e todos devemos ser exemplo para os nossos jovens.

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