quarta-feira, 30 de setembro de 2015
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
A conversar com os pais, a convite da escola
Esta tarde estarei na Escola Básica Eugénio de Andrade, no Porto, para conversar com os pais. O convite é da escola que almeja por um bom relacionamento com as famílias!
BW
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sábado, 12 de setembro de 2015
Todos somos refugiados
Quando a Segunda Guerra começou, o meu avô Wong desmantelou as fábricas que tinha em Shanghai e montou-as nas montanhas, no interior, para evitar que fossem bombardeadas. Foi ali que o seu primeiro filho nasceu. Depois de sete dias de trabalho de parto, foi tirado com fórceps por uma curiosa e não correu bem pois todo o seu sistema locomotor ficou afectado. Contei esta história na quinta-feira, durante o encontro Ler no Chiado, em que se falou do Diário de Anne Frank (as conversas são como as cerejas).
Terminada a Guerra Mundial, os chineses enfrentaram a Guerra Civil. O meu avô era apoiante de Chiang Kai Shek e isso custou-lhe as fábricas e as propriedades (custar-lhe-ia mesmo que fosse apoiante de Mao, pois tudo seria nacionalizado). A fuga era a única solução. Mais uma vez, a fábrica foi desmantelada e mandada para Hong Kong e com ela a família e inúmeros funcionários. Conta-se que a família, então já com três filhos, todos rapazes, apanhou o último avião com destino à colónia britânica. Depois disso, Mao mandou fechar as fronteiras.
Foram refugiados. Eram chineses da "mainland" e sempre foram tratados como tal. Isso significa que não tinham os mesmos direitos que os que tinham nacionalidade britânica. Em Hong Kong foram tratados como cidadãos de segunda, eram apátridas. À excepção da benjamim da família, a menina por que tanto ansiavam, e que já nasceu em solo britânico.
Eu digo que são refugiados. O meu pai diz que não são porque chegaram de avião, com dinheiro, compraram prédios, montaram uma fábrica e deram trabalho a muitos. Certo, mas saíram do seu país porque corriam risco de vida. Ficar na China era enfrentar a nacionalização dos seus bens (o que aconteceu), era a possibilidade de irem para campos de reeducação, era a fome, o terror, etc.
Depois de um minor em Economia, o meu pai foi para a Alemanha fazer Engenharia Mecânica na mesma universidade onde o pai tinha estudado no final da década de 1930. Não foi fácil sair porque era apátrida. Chegou à Europa com uma bolsa para estudar e ganas de trabalhar para se manter sem apoios de casa.
Depois do curso concluído, veio para Portugal trabalhar. Não era emigrante, diz-me, porque foi convidado para vir abrir uma fábrica. Também aqui as nossas opiniões divergem. Eu digo que é emigrante, como são os enfermeiros que partem para o Reino Unido com trabalho garantido ou os médicos que seguem para a Austrália com contrato.
Também posso falar do irmão da minha mãe que não viu futuro no 25 de Abril, temeu uma guerra civil, a vitória do PCP e emigrou para os EUA com três filhos pequenos. Aliás, ainda me lembro das arcas, compradas para viajarmos para o Brasil, que não chegaram a ser usadas e foram atafulhadas com lençóis, colchas, cobertores e naftalina, até hoje guardam o nosso enxoval. Também nós, filhos de emigrante, estivemos para emigrar.
Refugiados e emigrantes. A história repete-se.
Há sempre um país em guerra; há sempre uma revolta ou uma revolução; há sempre alguém à procura de uma vida melhor para si e para os seus. E é preciso acreditar na compreensão, na solidariedade e na bondade humana para que todos tenham a oportunidade de recomeçar.
BW
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