E, de repente, no Colégio de Monte Maior, em Loures, descobri o porquê da quebra de vendas dos jornais.
A uma pergunta sobre como é que a Ana Soares e a Bárbara Wong têm tempo para escrever o Olimpvs.net, a primeira começa a explicar, para de imediato ser interrompida: "Nós não escrevemos só o Olimpvs. Nós temos os nossos trabalhos... Eu sou professora e a Bárbara é jornalista.."
– Jornalista?!? De que canal? –, perguntam as meninas que estão sentadas na primeira fila, entusiasmadas.
– Não é um canal, é um jornal –, respondo solicita e percebo que elas não fazem ideia do que estou a falar. Atrapalhada com o silêncio, faço um gesto, desenhando um rectângulo no ar: – Um jornal... em papel... que se folheia...
Estamos a falar para uma plateia constituída por meninos de 12 anos, de um colégio, com bons telefones nas mãos e pelo menos um tablet pousado nas pernas de um deles.
– Ah! Já sei! É aquela coisa que eles têm nas novelas, quando estão a tomar o pequeno-almoço! – diz uma delas, esclarecida.
A Ana, muito pedagógica, ainda fala da revista de imprensa que é feita nos canais noticiosos, mas eu corto-lhe a palavra:
– Sim, são aquelas folhas de papel que as personagens das novelas folheiam ao pequeno-almoço. Isso é um jornal.
Eles nunca viram um jornal à mesa do seu pequeno-almoço. É natural, ninguém come pequenos-almoços como os das novelas com sumos, diversos tipos de pão, bolos e frutas, compotas e cereais. Mas também nunca o viram na mesa do café? Na praia? Na esplanada? Parece que não.
BW
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
O que é um jornal?
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A importância de se chamar Wong
É sempre muito bom falar com os alunos nas escolas! Eles dizem coisas divertidas, umas vezes, e perturbantes, outras.
No Colégio de Monte Maior, em Montemor, Loures, os alunos de 6.º ano são os últimos a passar pelo auditório naquela sexta-feira, já ao final do dia. Estão cansados e há quase meia-dúzia que não resiste e vai fechando os olhos, sem conseguir ouvir o que eu e a Ana Soares dizemos. Mas, no final da apresentação, acordam e, recuperada a energia, fazem perguntas, muitas!
Há uma pergunta que é raro não ser feita nas apresentações Olimpvs.net: porque razão eu me chamo Wong. É natural, se há ministros e reitores que o perguntam porque não hão-de fazer os mais pequenos?
Respondo de forma abreviada ou mais explicada conforme a pergunta me é feita. Há um ano, numa escola no Ribatejo um aluno colocou a questão, ao mesmo tempo que cotovelava os colegas, prontos para começarem a rir, mal eu desse a resposta: fui seca, quase mal educada como os garotos estavam a ser. Arrependi-me no mesmo instante, mas naquele momento senti-me da idade deles, andei 30 anos para trás e vi os miúdos da minha escola a fazerem-me pirraça.
No início do mês, uma menina curiosa, em Bragança, perguntou de maneira delicada: "Há uma questão que nos intriga: por que se chama Wong?" Não resisti, dei uma gargalhada e expliquei.
Desta vez, em Montemor, a menina que pergunta está ao lado de outra que se parece muito com uma das minhas irmãs – com aquele tom de pele amarelado, os cabelos negros, lisos e compridos e os olhos rasgados. "Uma pergunta: de onde vem o seu nome?"
"Vem do meu pai que é chinês!", respondo simpática. "Mas não parece nada! A mãe dela é tailandesa...", diz-me. "Pois, já tinha percebido!", digo, olhando para a outra rapariga, tal e qual como a minha irmã, por onde passa dizem-lhe que parece tailandesa, vietnamita, índia...
Ela olha-me como se eu não tivesse estado à sua frente durante 50 minutos e concorda com a amiga. "O seu pai é chinês?! A senhora saiu muito mal misturada!...", repara com um tom quase zangado.
Pois, mesmo mal misturada sei o que é ser gozada no recreio ou dentro da sala de aula. Tal como ela deve saber, penso ao interpretar o seu tom ofendido.
BW
No Colégio de Monte Maior, em Montemor, Loures, os alunos de 6.º ano são os últimos a passar pelo auditório naquela sexta-feira, já ao final do dia. Estão cansados e há quase meia-dúzia que não resiste e vai fechando os olhos, sem conseguir ouvir o que eu e a Ana Soares dizemos. Mas, no final da apresentação, acordam e, recuperada a energia, fazem perguntas, muitas!
Há uma pergunta que é raro não ser feita nas apresentações Olimpvs.net: porque razão eu me chamo Wong. É natural, se há ministros e reitores que o perguntam porque não hão-de fazer os mais pequenos?
Respondo de forma abreviada ou mais explicada conforme a pergunta me é feita. Há um ano, numa escola no Ribatejo um aluno colocou a questão, ao mesmo tempo que cotovelava os colegas, prontos para começarem a rir, mal eu desse a resposta: fui seca, quase mal educada como os garotos estavam a ser. Arrependi-me no mesmo instante, mas naquele momento senti-me da idade deles, andei 30 anos para trás e vi os miúdos da minha escola a fazerem-me pirraça.
No início do mês, uma menina curiosa, em Bragança, perguntou de maneira delicada: "Há uma questão que nos intriga: por que se chama Wong?" Não resisti, dei uma gargalhada e expliquei.
Desta vez, em Montemor, a menina que pergunta está ao lado de outra que se parece muito com uma das minhas irmãs – com aquele tom de pele amarelado, os cabelos negros, lisos e compridos e os olhos rasgados. "Uma pergunta: de onde vem o seu nome?"
"Vem do meu pai que é chinês!", respondo simpática. "Mas não parece nada! A mãe dela é tailandesa...", diz-me. "Pois, já tinha percebido!", digo, olhando para a outra rapariga, tal e qual como a minha irmã, por onde passa dizem-lhe que parece tailandesa, vietnamita, índia...
Ela olha-me como se eu não tivesse estado à sua frente durante 50 minutos e concorda com a amiga. "O seu pai é chinês?! A senhora saiu muito mal misturada!...", repara com um tom quase zangado.
Pois, mesmo mal misturada sei o que é ser gozada no recreio ou dentro da sala de aula. Tal como ela deve saber, penso ao interpretar o seu tom ofendido.
BW
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